A observação da realidade mostra-nos que todos os seres humanos estão envolvidos em diferentes tipos de busca nas suas vidas. Desde a infância vemos a criança esforçar-se para conseguir algo, primeiro comida, depois brinquedos e em adulto continua esse esforço em direcção a brinquedos maiores, a casa, carro e outros objectos. Percebemos ainda que mesmo havendo um padrão de busca comum, pessoas diferentes perseguem coisas diferentes.
Dir-se-á que, à primeira vista, existem tantas buscas quantos seres humanos. No entanto, mesmo quando parecem diferentes, se analisarmos, percebemos que em todas elas há algo em comum que todos buscam de forma uniforme: essa coisa comum é a aquisição de alegria, felicidade (sukha prapti). Uma pessoa pensa que felicidade existe na forma de ter uma casa e família, outra julga que é ter muito dinheiro, outra ser famoso, alguns procuram na música, etc. Mesmo sendo externamente diferentes em todas essas buscas cada um de nós só procura paz, conforto e felicidade. Não só todas as pessoas, mas todos seres buscam a felicidade (sukha praptaye pravrittihi). Vemos também que, por vezes, o esforço é para se libertar de algo, como numa visita ao médico em que nos queremos libertar da dor ou doença, ou ainda com qualquer objecto, quando queremos vender uma casa. Assim, a perseguição não é só de felicidade (sukham), mas também da libertação do sofrimento.
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Ou seja, queremos felicidade infinita em quantidade, em qualidade e em duração. A questão seguinte é: somos bem sucedidos neste esforço? Em crianças começamos esta luta e continuamos … alguém no momento da morte diz que está tudo bem? Que não quer mais nada? Não, continuamos com o sentimento de falta, de carência de algo. Algumas pessoas reconhecem este problema cedo, mas a maioria, continua a perseguição e morre perseguindo sem perceber que o problema foi mal diagnosticado.
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Da mesma forma, o calor na água é um atributo incidental. Assim, reconhecemos dois tipos de atributos, intrínsecos e incidentais. Se analisarmos mais profundamente descobrimos que a água tem o seu calor emprestado do fogo, percebemos que o calor na água é um atributo dependente, enquanto que o calor do fogo sendo intrínseco, é um atributo independente. Uma vez que o calor no fogo é intrínseco e independente, mesmo que removamos o tacho e a água, o calor permanece, com ou sem tacho, de manha ou de tarde, na Índia ou no Japão, em qualquer tempo, espaço ou condição., kala, desha, avastha. Assim a natureza intrínseca é sempre uma propriedade permanente. Por outro lado, a água é quente por causa do fogo. Quando o fogo é afastado, o calor desaparece. O atributo incidental é dependente e por isso também impermanente.
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A questão é que esta visão é difícil de aceitar, porque não essa a nossa experiência e o simples facto de buscarmos parece nega-lo. Não fosse assim, porque buscaria? Ou porque não tenho o que procuro ou porque ignoro que não tenho. A verdade é que procuramos a felicidade porque não a reconhecemos em nós, somos ignorantes dela. Se este facto não é conhecido, e se continuamos a persegui-lo, o que fazer? A solução não é adquirir (pravritti) nem ver-se livre (nivritti), mas conhecimento (jñanam), conhecermos quem somos, quem é este Eu auto-evidente. A solução é auto-conhecimento (atma vidya, svarupa jñanam).
Sobre este tema versa o ensinamento do Yoga, conforme foi discutido na parte final dos Vedas, chamada Upanishads. No Yoga encontramos o ensinamento, a preparação para ele e os meios para que esta compreensão e visão se estabeleça.
Este texto foi inspirado nas sábias palavras do Swami Paramarthanda.
por: Miguel Homem
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