São jovens, são aventureiras e sem que esperassem a vida levou-as para destinos muito distantes, onde hoje trabalham e vivem de forma permanente. Mayra Fernandes (à esquerda na imagem), jornalista, rumou para Angola, e Carina Luz (à direita na imagem), que era distribuidora independente da Herbalife em Portugal, encontrou nova morada no Dubai.
Ser de fora denuncia-se na maneira de falar, vestir e até na postura, o que pode dificultar a integração ou, como conta Mayra Fernandes, conduzir a situações risíveis. “Em Angola dá-se mais entoação às vogais, são mais abertas, então as pessoas não me entendiam”, diz a jornalista, acrescentando que outra “consequência caricata do sotaque português é a inflação no mercado informal”. Num país onde tudo se negoceia na rua, Mayra encontrava preços especiais para ela, a estrangeira. Aos poucos conseguiu “perceber e contornar a dinâmica”, mas assume que não foi fácil.
Se para a jornalista a língua se configurou como um surpreendente desafio, para Carina, a necessidade permanente de “desenvolver vocabulário, pensar e traduzir” o que lhe era dito, revelou-se “muito cansativo psicologicamente”. A jovem, que se divide agora entre as funções de distribuidora independente, treinadora de cães e assistente de bordo confessou ao SAPO Mulher que tinha a sensação constante de “estar a aprender tudo de novo”, especialmente porque chegou ao Dubai, um país muçulmano, no período do Ramadão. “As regras sociais relacionadas com a religião afetam toda a gente”, conta Carina, assumindo porém que é um desafio interessante estar num país onde a cultura é radicalmente diferente da portuguesa.
E Portugal?
Do país de origem ficam as inevitáveis saudades da família, dos amigos, da comida e dos lugares de sempre.
“Do ponto de vista romântico, vejo Portugal como o cantinho onde encontro equilíbrio. É o primeiro destino que surge na minha mente quando estou cansada. Passei a dar valor a coisas pequenas”, conta Mayra, explicando que, por um lado, a entristecem as notícias de um país que vive, nas suas palavras, um “longo e rigoroso inverno”.
O sentimento de desânimo é partilhado também por Carina que olha para Portugal apenas como “um lugar maravilhoso para passar umas férias”. A jovem garante que regressar ao país de origem não faz parte dos seus planos e acredita que muitos portugueses só não arriscam sair em busca de melhores condições de vida por “comodidade e orgulho”. Na opinião de Mayra, era bom que todos tivessem a oportunidade de viver fora e aprender com essa experiência. “Em Angola, percebi que falta aos portugueses o que os angolanos têm numa quantidade bastante elevada: vaidade. A vaidade é algo que se exterioriza em cada coisa, que faz com que gostemos do Ronaldo independentemente de o acharmos arrogante, mas simplesmente porque é português”, diz a jornalista, deixando assim o desafio de arriscar olhar Portugal de fora para dentro.
@ Inês Alves
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