A 3 de setembro de 1758, o coche do rei D. José I, a caminho do palácio da Ajuda, em Lisboa, é tomado de assalto por um grupo de homens. Disparam contra o rei, que fica ferido num braço sem gravidade. O assunto é mantido em segredo, enquanto Sebastião de Carvalho, primeiro-ministro de D. José, ordena uma investigação ao atentado. Três meses depois, o primeiro-ministro decide agir: manda prender doze jesuítas, que reputa de culpados, e Leonor de Távora e a família, acusados de alta traição e tentativa de regicídio.

A 13 de janeiro de 1759, a condessa Leonor de Távora e os familiares são torturados, decapitados e queimados em público. As cinzas, atiradas ao Tejo. Alegada mandante do atentado régio, a dama de companhia da rainha Mariana Vitória tinha sido uma feroz inimiga de Sebastião José de Carvalho e Melo. Era ela quem liderava a oposição aristocrática à ascenção da burguesia que o primeiro-ministro fomentava.

Esta versão dos acontecimentos aparece no livro “As Mulheres do Marquês de Pombal”, da historiadora espanhola María Pilar Queralt del Hierro. Acaba de ser publicado pela editora Esfera dos Livros, cujo catálogo inclui vários títulos de divulgação histórica com as pequenas histórias da realeza portuguesa e europeia.

As mulheres que influenciaram o marquês de Pombal (1699-1782), que o ajudaram na ascenção ao poder e que precipitaram a sua queda, são retratadas com pormenor. Mas quem procurar histórias de alcova, sairá desiludido. A autora explica na introdução que o livro “pretende ser um passeio pelos salões, as paisagens e os ambientes em que decorreu a aventura de vida de Sebastião de Carvalho”, passeio esse que é feito “na companhia das mulheres que o precederam, o acompanharam ou herdaram o seu legado erudito”. Eventuais aventuras amororas ficaram de lado.

A mãe: Tereza Luiza de Mendonça e Melo. A primeira mulher: Teresa de Mendonça e Almada. A segunda mulher: Maria Leonor Ernestina Daun. A protetora: rainha Maria Ana de Áustria. E as inimigas: rainha Mariana Vitória, Leonor de Távora e rainha D. Maria I. Eis as mulheres que o livro nos mostra.

Quanto ao legado do marquês de Pombal, vem a ter influência sobre Tereza Margarida Silva e Orta, considerada a primeira escritora de ficção da língua portuguesa, e Leonor de Almeida, marquesa de Alorna. Esta última, escreve a historiadora, vai colher as ideias iluministas que Sebastião José trouxera para Portugal. Por ironia, Leonor de Almeida era neta de Leonor de Távora.

Bruno Horta