
A violência contra mulheres e crianças está cada vez mais explícita na nossa sociedade, ao ponto de invadir as redes sociais com conteúdos machistas e misóginos, tidos por grandes verdades que são incutidos transmitidos e aceites pelas crianças, jovens e adultos e se propagam como valores a preservar na nossa sociedade.
Em abril, mês da prevenção dos maus-tratos na infância, vieram a público diversos vídeos publicados nas redes sociais, com comentários e demonstrações a respeito das condutas que as jovens e/ou mulheres devem ter caso tenham um relacionamento amoroso, vídeos esses que foram partilhados milhares de vezes e que chegaram ao conhecimento de grande franja da sociedade.
E por incrível que pareça, em pleno século XXI, passaram a surgir nas redes sociais, de forma totalmente desempoeirada e quiçá arrogante, muitos comentários e explanações de entendimentos a respeito de como as mulheres se devem comportar caso tenham um namorado, a forma como as mulheres se devem vestir quando estão numa relação, o direito que os homens têm de impor às mulheres com quem têm uma relação com quem se relacionam, onde se deslocam e como se devem comportam.
Pois bem, quando achamos que já vimos e ouvimos tudo, afinal não! Eis que surgem estes seres “iluminados”, jovens homens, que pensam à escala dos homens do início do século passado e que querem até ser reconhecidos pelas graçolas e alarvidades que balbuciam.
Além do problema que já é esses jovens homens terem ideias patriarcais, representativas da mulher como um objeto que pode e deve ser domesticado pelos próprios, que roçam muito na misoginia, trazem-nos um problema acrescido que é o facto de exporem as suas ideias como um autêntico brilharete a ser seguido pelos demais.
Mas, o que espanta é percecionar o nível de seguidores deste tipo de pensamento machista e a forma como se propaga, já que os jovens e adultos partilham vezes e vezes sem conta esses conteúdos.
Sabe-se que, o desrespeito pelos Direitos Humanos das Mulheres tem na sua génese as questões de género, a desigualdade entre mulheres e homens que persiste na sociedade e conduz à discriminação das mulheres nas diferentes vertentes da sua vida e que culmina com a prática de crimes de género, como seja a violência doméstica contra mulheres, entre outros. Ainda assim, parecem continuar a ser socialmente aceites as alarvidades que se tornaram virais a respeito do que deve ser o comportamento das mulheres quando estão numa relação amorosa e escolhas do dia-a-dia que as mulheres podem e devem ter.
Será que as pessoas têm noção do que isto representa? E será que têm noção das consequências para o futuro ao nível da formação e desenvolvimento da personalidade das crianças e jovens do presente, que serão os adultos de amanhã?
Não se para de afirmar que a sociedade está mais violenta. E é verdade! Mas ninguém se pergunta porquê!
O crime de violência doméstica é o crime mais participado em Portugal e é também o que mais mata!
As vítimas de femicídio são todas mulheres e crianças. Os agressores identificados são todos homens!
A educação é a vacina mais eficaz contra a violência e a ignorância. Mas, é preciso aceitá-la! Urge uma abertura para a discussão do tema, dar a cara pela causa, não ter vergonha de assumir que é preciso partirmos da educação para alcançarmos uma sociedade mais igualitária e sem violência.
Onde impera a violência não há saúde e não há dignidade! Existe apenas ignorância e violação dos Direitos Humanos das mulheres e crianças! E assim continuará se nada se fizer!
Um artigo de opinião da advogada Ana Leonor Marciano, especialista em Direitos Humanos, violência de género, violência doméstica, Direitos das crianças.
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