"Grande parte desta discriminação reside no acesso à profissão e ao tipo de empresa. Os homens tendem a trabalhar para as entidades que pagam melhor", salientam os autores Windy Noro, Luís Aguiar-Conraria e Miguel Portela.
Os resultados, que cruzam bases de dados fornecidas pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, revelam ainda que 65 a 70% das mulheres estão nas profissões mais mal pagas.
Verificou-se também que a diferença salarial entre homens e mulheres é "diminuta" quando se aufere próximo do salário mínimo nacional, atingindo a diferença máxima em empregos com ordenados a rondarem os 800 a 1000 euros.
A desigualdade salarial entre sexos atinge os 5% nas funções pagas entre os 1000 e 2000 euros por mês, voltando a crescer a partir daí. "O aumento da disparidade em salários elevados pode estar relacionado com o facto de as mulheres terem maior dificuldade em ocupar lugares de topo nas empresas. Em Portugal, só 12% chega a cargos de chefia", contextualiza a mestranda Windy Noro.
Os dados mostram igualmente que os cursos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) são os que dão acesso às posições mais bem pagas e que proporcionam menor desigualdade no mercado de trabalho. "Talvez porque estes profissionais têm uma produtividade mais fácil de medir e melhores alternativas de emprego", comenta Luís Aguiar-Conraria, docente da Escola de Economia e Gestão da UMinho.
Embora as mulheres constituam 60% do meio universitário português, apenas três em cada dez opta por formações STEM. "Existe um problema de mentalidade na seleção do curso, quer por parte das famílias, quer por parte dos jovens. Ainda há muitos pais a pressionarem as filhas para escolherem áreas ditas femininas. É preciso mudar rapidamente esta mentalidade", realça o colega Miguel Portela.
Empresas devem ser obrigadas a divulgar salários de todos
Para reduzir a desigualdade salarial entre colegas de sexo diferente, os autores defendem várias estratégias, nomeadamente obrigar as empresas privadas a divulgar todos os salários, levando os funcionários a exigirem igualdade em caso de injustiça. Estabelecer licenças de parentalidade obrigatórias de três meses para a mãe e o pai é outra das sugestões apontadas.
"Queremos que a mulher se emancipe em termos profissionais, mas para isso é importante exigir também que o homem se emancipe na vida familiar", conclui Luís Aguiar-Conraria.
O estudo incidiu numa amostra de 190 mil trabalhadores (52% homens e 48% mulheres) de 164 profissões, com um rendimento médio de 1292 euros. Os salários foram dos 485 aos 19.575 euros por mês e a idade variou entre os 25 e os 60 anos.
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