Cavalos de todos os portes, com arreios que encandeiam. Charretes lustrosas carregadas de gente que enverga o copo na mão e o orgulho no rosto. Vestidos de sevilhanas a cobrir as sevilhanas. Corpos de todas as formas, desenhando cem mil padrões, fazem oscilar as franjas com sensualidades latentes. E eles, à porta das coloridas casetas, bebem a manzanilla sob um sol que lhes derrete a brilhantina e os trajes que não deixam dúvidas: são espanhóis, andaluzes, de Sevilha.
Caminho invisível pelas calles musicadas. Olho, vejo, observo, absorvo. Imagino-me há décadas atrás, olhando o meu bisavô sevilhano a viver a festa por dentro. Disparo a minha máquina com novos olhos, iluminados por outras sabedorias que um mestre da fotografia me tem sabido ofertar. De repente entendo as ferramentas que trago comigo: a estética visão da arte; o iluminado olhar da alma; a infalível mirada da experiência, que a cada detalhe acede. Ocorre-me que as festas tribais são momentos em que o tempo se distorce e a realidade se transforma numa elevação sensorial capaz de mudar muitas coisas. Percebe-se perfeitamente quem pertence àquela tribo e quem não poderá nunca saborear o verdadeiro sabor da manzanilla nem rodopiar as mãos com uma tão sublime graça.
Continuo o meu caminhar invisível de quem não pertence à tribo, mas que a traz nos seus genes, sorrindo por saber que tudo o que me importa é continuar a conseguir ser a simples caçadora de emoções que vai fotografando em palavras as almas dos membros de cada tribo.
Ana Amorim Dias
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