O concerto comemorativo dos 70 anos do Coliseu do Porto vai ser uma homenagem à pianista portuense Helena Sá e Costa, considerada por muitos como uma dos “grandes intérpretes” mundiais do século XX e uma professora notável.

Foi o Jornal de Letras que, no obituário que lhe dedicou após o seu falecimento a 08 de janeiro de 2006, afirmou que “a história contemporânea do piano, em Portugal, pode contar-se através de um nome, Helena Sá e Costa”. E foi mais longe ainda: “ O seu caminho contém as etapas dos grandes intérpretes mundiais e a construção de um legado, em sucessivas gerações. Estudou com Alfred Cortot e Edwin Fischer, acompanhou músicos como Pablo Casals e Arthur Grumieux, trabalhou com as maiores orquestras e regentes. A crítica internacional reconheceu-lhe ‘a compreensão perfeita’ de Bach, Mozart, Beethoven”.

De facto, a pianista teve um percurso excecional que culminou com uma carreira notável como professora.

Nasceu, a 26 de maio de 1913, numa família de músicos, com destaque para o pai, Luís Costa, um dos principais compositores da época.

Foram ele e a mãe pianista, Leonilda Moreira de Sá, os primeiros mestres a que se seguiu José Viana da Mota, no Curso Superior de Piano, e, mais tarde, a formação com Alfred Cortot e Edwin Fischer.

No Conservatório de Lisboa estudou com Luís de Freitas Branco, o maestro com quem viria a tocar na inauguração do Coliseu que se celebra esta semana.

Helena Sá e Costa realizou o primeiro recital aos 12 anos, no Salão Nobre do Centro de Comércio do Porto. Em 1931, estreou-se com a irmã, a violoncelista Madalena Moreira de Sá, no Palácio de Cristal. O duo manter-se-ia ativo ao longo de décadas. Em 1932, tocou no Salão Nobre do Conservatório de Lisboa, seguindo-se o Teatro de São Carlos, o Tivoli e o trabalho regular com a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional e os maestros Pedro Blanch e Pedro de Freitas Branco.

Entre 1936 e o início da Segunda Guerra Mundial, atuou em algumas das importantes salas europeias e deu início à atividade docente, assistindo Edwin Fischer, nos cursos de Potsdam, prosseguindo depois com aulas no Conservatório de Lisboa e mais tarde no do Porto. Fundadora e diretora da Escola Superior de Música do Porto, foi ao longo da sua vida convidada para lecionar, em locais tão importantes como a Academia de Verão do Mozarteum de Salzburgo ou as escolas alemãs de Karlsruhe e Wuppertal.

Adriano Jordão, Olga Prats, Manuela Gouveia, Madalena Soveral ou Pedro Burmester, são alguns dos muitos alunos que formou.

Retomou a carreira internacional em 1945, com sucessivas apresentações na Europa e nos Estados Unidos. Abordou todo o repertório com os principais regentes da época, como Ernest Ansermet, Karl Ristenpart ou Igor Markevitch.

Tocou com os grandes músicos do período, de Pablo Casals a Janos Stárker e Pierre Fournier, com quem faz a integral da obra para violoncelo e piano de Beethoven. Acompanhou a soprano Teresa Stich-Randall, a mezzo Rita Gorr, os violinistas Arthur Grumieux e Sandor Végh, com quem interpretou Schubert e as Sonatas de Beethoven. Foi presença regular nos festivais de Prades, de Pablo Casals, de Udine, em Itália, de Wiesbaden e Estrasburgo, bem como Estoril, Espinho e Sintra.

Fez a derradeira apresentação pública, no Teatro Rivoli, no Porto, a 20 de novembro de 2005, para homenagear a violoncelista Madalena Moreira de Sá, sua irmã.

Fonte: Lusa