O João e a Teresa são amigos dos “Franciscos”, como carinhosamente lhes chamam, há quase 20 anos, mas só no ano passado é que decidiram fazer férias juntos e…juraram para nunca mais.
”Tudo aconteceu um pouco por acaso. Já só havia disponível uma única casa em Vilamoura para alugar com capacidade para 5 pessoas. Convidámos os Franciscos num impulso que, num impulso também, disseram que sim. Quase não tivemos tempo para planear nada e no fim acabou por correr mesmo mal. Nós queríamos umas férias mexidas e eles queriam basicamente o descanso, o serão entre amigos, a boa da conversa”, refere João.
Para Teresa e, em termos práticos, “nós chegávamos tarde a casa, logo tarde à praia, logo tarde para o almoço... ou seja vivíamos sem relógio.E os Franciscos são completamente diferentes. A manhã tem de ser aproveitada na praia por causa do sol. As refeições são planeadas para se conhecer novos restaurantes e novos sabores. Quando para mim o único sabor que eu queria conhecer era o da minha sandes e a única decisão a tomar seria o que pôr lá dentro….”, diz em jeito de brincadeira.
João Pombeiro, sociólogo, acredita que o problema pode residir precisamente na intenção. “Qual é a intenção de cada pessoa, de cada casal e do grupo ir de férias em conjunto? E ao partilharem e definirem as intenções de cada um e do grupo é importante que a pessoa concretize em específico o que significa para ela, por exemplo, folia e relax", porque, de facto, os conceitos são muito subjetivos.
A psicóloga Catarina Lucas acrescenta que “há aspetos que as pessoas nem sempre têm em consideração quando se pensa em férias com os amigos. Estar juntos algumas horas por dia é certamente diferente de passar vários dias juntos. As diferenças entre os membros do grupo podem tornar-se mais evidentes na hora de tomar decisões sobre o destino das férias, o hotel, os locais para jantar, para visitar, entre outras coisas.
Diferentes interesses culminam em diferentes ideias, que podem nem sempre ser bem aceites pelos amigos, sobretudo quando estamos perante personalidades muito distintas, onde alguém pode assumir o papel de líder e não facilitar a expressão de opiniões. Estas situações nem sempre são visíveis no dia-a-dia que passamos com os amigos nem impede a amizade na sua essência. Mas estar uma semana ou quinze dias juntos, na mesma casa, é uma realidade bem diferente.
Que o digam a Luísa e a Ana, cujos maridos deram-se lindamente numas férias a quatro, e elas ficaram literalmente a “chuchar no dedo” para usar a sua própria expressão.
"Temos de saber negociar, de modo a que ninguém seja prejudicado e que todos possam realizar as atividades de que gostam"
Catarina Lucas
“Foi o pior que fiz. Arranjar um companheiro de folia para o meu marido. Iam juntos para a praia, na piscina era polo aquático, no court de ténis eram jogos intermináveis e acabavam a noite a beber copos e a falar do tempo que o tempo tem”, lamenta Ana que, desde então, só investe em férias a dois. Saber “negociar”, de modo a que ninguém seja prejudicado e que todos possam realizar as atividades de que gostam, eis o conselho da psicóloga.
“Em último caso, não existe mal algum, se numa tarde/noite os casais se dividirem para visitar locais diferente ou para jantar em restaurantes distintos. Tendo em conta que estamos a falar de casais, um momento a dois até pode tornar-se numa experiência diferente e agradável”.
Ana refere que tal não aconteceu em 10 dias de férias, o que provocou discussões com o seu marido e “o marido da outra também levou por tabela, o que é ridículo. Senti-me, de facto, num papel muito desconfortável e não vou repetir a cena. Se não tiver dinheiro para ir de férias fora de casa, prefiro descansar no meu lar doce lar.
As férias em conjunto podem ser uma alternativa viável para os tempos de crise, como diz João Pombeiro, mas “pode ser necessário "pagar um preço" e este pode ser eu ser mais flexível com outras perspetivas de ver o mundo que sejam diferentes da minha. Monetariamente, acredito que é uma boa alternativa. Se as circunstâncias se alteraram e se tem a alternativa de fazer férias em conjunto, então... porque não?”.
Não existem fórmulas mágicas para umas férias cinco estrelas entre casais. “Gerações distintas, mas cujos interesses sejam idênticos poderão usufruir de dias muito agradáveis na companhia uns dos outros. Todavia, pessoas da mesma geração poderão sentir dificuldades quando possuem interesses muito distintos e formas de pensar e estar na vida desiguais. Nem sempre a convivência é fácil, mas é possível se todos fizerem um esforço e promoverem a democracia e o diálogo. Mas será legítimo imaginar que gerações iguais partilham um maior número de interesses comuns, embora tal não seja taxativo”, adverte Catarina Lucas.
O ideal seria “encontrar um common ground, uma plataforma comum em que ambas vejam a perspetiva da outra parte e se adaptem nos comportamentos convergindo para o que ambas querem. Em última análise, sentirem-se bem, estarem entre eles e passarem umas excelentes férias. E para isso pode ser interessante definir que a loiça se lava ao fim do dia e quem lava em quais dias”.
Uma boa dica, sem dúvida…
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