Praticamente um terço da região do Pantanal, no Brasil, um dos grandes ecossistemas do país, ardeu em 2020. Mais de 140.000 quilómetros quadrados de território foram consumidos pelas chamas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o número de incêndios triplicou em comparação com 2019. Reserva Mundial da Biosfera, um estatuto atribuído pela UNESCO, é um dos biomas mais importantes do país. As piores secas dos últimos 50 anos e as labaredas intensas foram golpes duros.
Lalo de Almeida, fotojornalista brasileiro, acompanhou de muito perto o sofrimento dos habitantes da região. Para além de registar os momentos de desespero, também imortalizou as consequências das labaredas. Fotografou animais carbonizados que agonizaram em territórios destruídos pelas chamas e acompanhou os bombeiros em momentos de aflição. 10 das fotografias que tirou figuram no lote das finalistas do World Press Photo 2021, um dos mais prestigiados concursos de fotojornalismo do mundo.
O português Nuno André Ferreira, fotojornalista de Leiria, atualmente a residir em Viseu, também viu uma das fotografias que tirou num incêndio em Oliveira de Frades, no dia 7 de setembro do ano passado, selecionada pelo júri da competição internacional. Mostra um bebé no interior de um carro completamente abstraído do mar de chamas que ardem a poucas centenas de metros. Mais de 300 bombeiros e de 100 viaturas combateram as labaredas. Foi, com um total de 2.600 hectares de área ardida, o segundo maior incêndio do ano e provocou a morte a um bombeiro.
A destruição e a perda de vidas também estão presentes no trabalho de Lorenzo Tugnoli, um fotógrafo autodidata italiano que emigrou para o Líbano. A explosão que destruiu grande parte da cidade de Beirute no dia 4 de agosto de 2020 obrigou-o a sair para a rua. Para além de cádaveres espalhados e de pessoas feridas, desesperadas, registou as derrocadas, os destroços e o sofrimento de libaneses que, numa fração de minutos, se viram de repente sem nada. O russo Valery Melnikov também lidou com uma tragédia.
O conflito de Nagorno-Karabakh, entre o Azerbaijão e a Arménia, forçou, no final do ano passado, milhares de arménios a ter de deixar Lachin. Mais de 20.000 pessoas morreram na região e mais de um milhão viram-se obrigadas a fugir. Azat Gevorkyan e Anaik Gevorkyan, um casal, são dois dos rostos que humanizam os números. A perseguição de que as pessoas transgénero (ainda) são vítima na Rússia também está presente no trabalho do fotógrafo russo Oleg Ponomarev, focado em problemas sociais.
Outra das temáticas mais abordadas nas imagens submetidas a concurso na edição deste ano do World Press Photo é, como não podia deixar de ser, a pandemia global de COVID-19. O fotojornalista dinamarquês Mads Nissen fotografou-a num lar, em São Paulo, no Brasil. O mexicano Iván Macías retratou-a no seu país, mostrando as marcas no rosto de uma médica que simboliza o esforço hercúleo que os profissionais de saúde têm feito desde o aparecimento do surto viral, após (mais) um turno desesperante.
O sueco Henrik Hansson também a abordou no trabalho fotográfico que apresentou ao júri. As preocupações ambientais não voltaram a ser esquecidas. O americano Ralph Pace apanhou um leão-marinho-da-califórnia a nadar em águas poluídas. O esloveno Ciril Jazbec assistiu ao degelo no norte da Índia. O espanhol Luis Tato, residente no Quénia, retratou a praga de gafanhotos que invadiu o país. Foi a maior dos últimos 70 anos. Os vencedores são conhecidos dentro de pouco mais de um mês, no dia 15 de abril.
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