A pretexto do Dia Internacional da Mulher, celebrado a 8 de março, e todas as questões no feminino que o estruturam, encetamos conversa com Ana Paula Oliveira, 30 anos, formada em Economia, responsável pelo Controlo de Gestão na Inaceinox. “A empresa foi fundada pelo meu pai, Abel Martins e Oliveira, em 1988, num pequeno armazém, onde fabricava acessórios de pequena dimensão em aço inoxidável. Rapidamente percebeu, que teria de enveredar por outro caminho começando a produzir equipamentos mais diversificados para processar e armazenar bebidas e produtos alimentares”. Em 2004, a empresa iniciou a sua expansão para o mercado internacional. “A internacionalização foi determinante para o nosso crescimento”, sublinha Ana Paula Oliveira, para acrescentar: “atualmente, desenvolvemos projetos de engenharia para a indústria alimentar e de bebidas, indústria química, plásticos, entre outras. A título de exemplo, com os nossos equipamentos produz-se chocolate, cerveja, derivados de leite, leite em pó, leite condensado, sumos, água mineral entre outros, produtos que todos nós consumimos. Hoje, as nossas exportações representam mais de 75% do nosso volume de negócios, pelo que, temos os nossos equipamentos espalhados em mais de 35 países”.
Uma função apostada no bom desempenho da empresa
Feitas as apresentações ao contexto laborar da nossa interlocutora, percebamos-lhe o percurso. No caso de Ana Paula Oliveira, a aptidão e gosto pela matemática e o exercício de interpretar o que “os resultados me diziam”, endereçou-lhe a “decisão natural” de seguir Economia no ensino superior. “Licenciei-me em Economia pela Faculdade de Economia do Porto e mais tarde tornei-me mestre em Economia e Administração de Empresas pela mesma faculdade. Antes de ingressar na Inaceinox, tive uma passagem profissional pela Sonae Sierra. Trabalhar numa empresa multinacional como a Sonae permitiu-me ter uma perspetiva orientada para o cumprimento de prazos e objetivos e trouxe-me importantes ferramentas de gestão e de organização que ainda hoje me são muito úteis para desenvolver o meu trabalho”.
No seio da Inaceinox, Ana Paula Oliveira, exerce a função de Controlo de Gestão: “no fundo, esta função está muito orientada para o controlo de resultados e cumprimento de objetivos”. Na prática, “garantir que todos os departamentos estão alinhados com a estratégia da empresa é a minha principal missão. Para gerir precisamos de dados em tempo real, pelo que, a definição e monitorização de KPI’s [Key Performance Indicator, ou seja, Indicador-chave de Performance] é uma das minhas principais tarefas. Se algum dos objetivos se encontra com desvio, conseguimos facilmente monitorizá-lo e tomar as ações necessárias para o minimizar e realinhar a estratégia”. Ainda no âmbito das funções de Ana Paula Oliveira estão “o foco na redução de custos e na melhoria continua e que de forma direta contribuem para que a empresa obtenha um bom desempenho”.
“Temos que desmistificar que esta é uma profissão de homens”
A área a que a empresa se dedica, a da Indústria Metalomecânica, não é, de imediato, associada a um setor onde as mulheres assumam a liderança. Trata-se de uma Indústria “frequentemente conotada com o trabalho pesado, estando, portanto associada a trabalho masculino. No meu ponto de vista temos que desmistificar que esta é uma profissão de homens, temos máquinas tecnologicamente avançadas que podem ser operadas tanto por homens como mulheres. Efetivamente, no caso da Inaceinox, as mulheres ocupam cargos em setores administrativos, como o Financeiro, Compras, Recursos Humanos, mas também cada vez mais temos mulheres ligadas a áreas técnicas, como Engenharia de Produto, Gestão de Qualidade, Segurança e Planeamento”.
De acordo com a nossa interlocutora, “atualmente 20% das pessoas afetas aos quadros da empresa são mulheres. Nos últimos 20 anos, a representação do género feminino nos quadros da empresa aumentou apenas 10%, pelo que ainda temos um longo caminho a percorrer.
No meu caso em específico, sinto-me bem e confortável a trabalhar numa indústria como esta, sentimento que é comum às mulheres que me acompanham”.
Mulheres como fator de sucesso no mundo laboral
Oportunidade para perguntarmos a Ana Paula Oliveira como encara a organização onde se insere o papel da mulher no seio da empresa? “A Inaceinox encara o papel da mulher da mesma forma que o papel do homem. Se antigamente, a mulher era vista como tendo o papel de apoio à família e à partida teria um maior grau de absentismo, hoje em dia, isso já não se verifica. As mulheres da Inaceinox têm acesso às mesmas oportunidades que os homens, pois todos têm um papel relevante para o sucesso da empresa. Por último, a empresa encara o papel da mulher com grande seriedade, gostaríamos que a equipa de Produção da Inaceinox fosse constituída também por mulheres. As condições já foram criadas, por isso, deixo, desde já o convite a todas as mulheres que se queiram desafiar na Indústria Metalomecânica a nos virem visitar”.
O quotidiano de Ana Paula Oliveira faz-se do contacto com outras mulheres empreendedoras e líderes na Indústria, “mulheres que me inspiram todos os dias a fazer mais e melhor. Já tive oportunidade de conhecer algumas líderes na Indústria que amavelmente me partilharam as suas experiências acabando por ser uma referência para mim. Constato também que nas conferências e webinars a que assisto, o painel de oradores e convidados é bastante heterogéneo, o que significa que, as mulheres assumem cada vez mais um papel de destaque nas empresas onde se inserem”.
“As mulheres ainda têm que se afirma muito mais para demonstrarem o seu valor”
No que toca ao papel da mulher na indústria nacional, Ana Paula sublinha que “para mim não há distinção entre géneros, somos iguais em competências e capacidades. Contudo, sabemos que na realidade as mulheres ainda têm de se afirmar muito mais para demonstrarem o seu valor. Sabemos também que historicamente existe uma discrepância salarial entre os géneros para exercer a mesma função, pelo que, temos que continuar a falar sobre estas diferenças para que essas deixem de existir. É notório nas faculdades a presença de mulheres em áreas que anteriormente eram sobretudo frequentadas por homens, por exemplo, em Engenharia Mecânica, logo, acredito que o papel da mulher na indústria nacional terá num futuro próximo uma presença ainda mais forte e igualitária”.
Uma das questões que se junta amiúde ao debate sobre os novos papéis da mulher, é aquele que toca na interseção da sua vida profissional e conciliação que faz com a vida pessoal e familiar. Sobre esta questão diz-nos a gestora: “apesar de no meu caso ser difícil dissociar uma da outra, uma vez que, trabalho juntamente com a minha família, existem algumas ferramentas que tento aplicar no meu dia a dia. Procuro estabelecer prioridades, fazer uma gestão adequada do meu tempo e tento ‘desligar’ do trabalho, na medida do possível, nos momentos de lazer. Ainda assim, acredito que se gostarmos daquilo que fazemos e nos sentimos bem na empresa onde estamos, é meio caminho andado para termos uma vida equilibrada como pessoa e como profissional”.
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