Conta-se que tinha meses de idade na primeira vez que esteve a bordo de um barco pois a relação com o meio tratava-se de uma tradição familiar. A entrada para a escola de vela deu-se aos 8 anos e daí ao mundo das competições foi o caminho natural a seguir. Pelo meio licenciou-se em Publicidade em Marketing, mas com o mar sempre no horizonte.
Em 2012, representou Portugal nos Jogos Olímpicos e está também a participar na Ocean Race, que está a decorrer desde 15 de janeiro, onde é a única velejadora lusa. Mariana é também a primeira portuguesa a fazer parte desta competição.
A atleta, de 35 anos, viveu porém uma situação inusitada, como partilhou no seu Instagram: antes de dar a volta ao mundo na classe IMOCA, disputou a primeira "leg" a bordo do VO65 de outra equipa. Isto porque no verão assinou com a Biotherm Racing Team, a oportunidade há muito ambicionada de se estrear naquela que é conhecida por ser a mais dura regata oceânica do mundo, mas também uma das mais desejada pelos atletas da modalidade. A oportunidade de completar a primeira equipa 100% portuguesa surgiu depois. O amor à pátria falou mais alto e Mariana Lobato não hesitou em pedir autorização ao "skipper" francês, Paul Meilhat, para se juntar, a título excecional, à equipa lusa na etapa inaugural, entre Alicante e Cabo Verde.
Terminada a primeira "leg", a atleta portuguesa regressou à equipa original. Entre etapas, Mariana aceitou esta entrevista para falar um pouco sobre como está a ser esta experiência.
Como foi ser a primeira atleta mulher portuguesa a fazer parte da competição?
Em 2021 tive a oportunidade de ser a primeira atleta mulher portuguesa a navegar na competição e a vencer a The Ocean Race Europe, a bordo do VO65 Racing for the Planet da Mirpuri Foundation Racing Team. Nesta edição de 2022/2023 navego a The Ocean Race na equipa Biotherm na classe Imoca60, e volto a ser a primeira portuguesa (e português) a navegar nesta classe.
Obviamente que é bom sentir que o meu trabalho é reconhecido e que Portugal tem bons navegadores. Fico muito satisfeita em ver mais velejadoras portuguesas a construírem este caminho, e espero no futuro podermos ser cada vez mais.
Para fazer parte desta prova, o que é necessário? Quais os requisitos?
Experiência e ser uma velejadora com várias "skills".
Como sentes que as mulheres são vistas neste desporto?
Sinto que a mentalidade está a mudar e estamos a conseguir ganhar o nosso espaço nas equipas. Por vezes, há quem pense que só é preciso força, mas na realidade, quando conseguimos mostrar que as "skills" que desenvolvemos são tão ou mais importantes que o resto, vamos ganhando terreno.
Fizeste parte, este ano, da primeira equipa 100% portuguesa a participar da Ocean Race. Como é estar de regresso a esta corrida e qual o vosso estado de espírito neste momento?
A primeira equipa 100% portuguesa está a fazer a Sprint Cup VO65, e não a Ocean Race. A Sprint Cup é uma regata para os VO65 que engloba três etapas (Cabo Verde e Europa), e a The Ocean Race (Classe Imoca60) é composta pela volta ao mundo em sete etapas.
Fiz a primeira etapa com a equipa 100% portuguesa e foi muito positivo e único. Vivemos momentos incríveis e aprendi bastante, o que é sempre um objetivo. Agora volto para o Imoca60 Biotherm com quem já tinha assinado em agosto 2022 para fazer a regata The Ocean Race.
Quais os vossos objetivos para a edição deste ano em termos de competição?
A equipa Biotherm tem-se focado muito na preparação do barco e aposta no trabalho de equipa, pois como se costuma dizer “Team work does the dream work” (o trabalho em equipa faz o trabalho de sonho). E quando trabalhamos por tarefas e objetivos, os lugares do pódio podem ser uma realidade.
A Ocean Race tem o mote “racing with purpose”, uma forma de chamar a atenção para a questão da poluição e sustentabilidade dos Oceanos. O vosso barco tem o nome de “Racing for the planet”. De que forma esperam fazer a diferença e chamar a atenção para um tema que está cada vez mais na ordem do dia?
A bordo evitamos usar plástico e tentamos arranjar soluções e alternativas para o substituir. Fazemos ações de sensibilização, sobretudo com os mais novos.
Notas evolução nesta discussão nos últimos anos?
Sim, já existe uma evolução, as pessoas começam a ganhar mais consciência. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer.
De que forma tu contribuis no teu dia a dia para esta questão?
Antes de adquirir algo penso sempre se realmente preciso daquela embalagem, ou se tenho alternativa. Muitas vezes há alternativa, pode é dar mais trabalho. Mas temos de fazer a diferença.
De que forma podemos contribuir para melhorar a “saúde” dos oceanos?
Não sermos preguiçosos, usar sempre a nossa garrafa de água de “refill”. Se conseguirmos nunca mais comprar uma garrafa de plástico já é uma vitória.
Que cuidados é necessário ter-se num tipo de competição como esta que vai durar seis meses?
O nosso corpo é o nosso motor, claramente tem de funcionar e bem! É muito importante toda a preparação física em terra. Eu pratico Crossfit, sinto que é bastante completo e que me ajuda nas várias vertentes a bordo. Para além de físico, e sobretudo mental, ajuda-me a treinar a superação de desafios e limites que por vezes achamos que não somos capazes. A alimentação também tem de ser equilibrada e variada para um bom rendimento desportivo.
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