“Quem nunca ouviu falar de plataformas de encontros online, aplicações de encontros ou apps de dating? Numa sociedade em que tudo acontece a uma velocidade voraz, as aplicações de encontros são hoje ferramentas úteis para encontrar (também) o amor, seja para a vida inteira ou apenas para um momento”. Com estas palavras retiradas da apresentação do livro Swipe, match, date (edição Arena) é-nos dado o mote para a obra à qual se dedicou nos últimos anos Rita Sepúlveda. A pretexto de tirarmos partido das plataformas de encontros para conhecermos novas pessoas, a autora entrega-nos um manual que resulta de um trabalho prévio para a sua tese de doutoramento em Ciências da Comunicação.
À conversa com a autora procuramos as virtudes destas plataformas, mas também os erros em que podemos incorrer e os perigos e armadilhas que ocultam. Como iniciar uma conversa, como construir um perfil online credível e os porquês para o sucesso das plataformas de encontros, são alguns dos temas que trazemos para esta entrevista.
Rita Sepúlveda assume-se como uma pessoa curiosa e comprometida com a área de estudos que a fascina, as plataformas de encontros e os seus utilizadores. É investigadora de post doc com um projeto intitulado Status: In relationship with na app. Rita divide o seu tempo entre o ensino e a investigação.
Diz-nos nas primeiras páginas do seu livro que, de há alguns anos para cá, está num relacionamento sério com plataformas de encontros. Porque sentiu a Rita a necessidade de escrever todo um guia sobre estas plataformas?
Swipe, match, date é uma proposta para ajudar quem quer saber mais sobre plataformas de encontros. Sejam utilizadores ou não. Seja para compreender como funcionam, para conhecer as várias etapas do processo de utilização das plataformas de encontros ou as várias dinâmicas inerentes à utilização. Ao longo dos anos em que investigo a temática deparei-me com o facto de haver poucos dados sobre a realidade portuguesa e os utilizadores portugueses assim, o contributo vai também no sentido de se saber mais sobre as plataformas de encontros e os seus utilizadores em contexto nacional.
“Costumo dizer que as aplicações de encontros são apenas uma aplicação da amostra e consequente aumento da probabilidade de conhecermos um grande amor”. As palavras são de Catarina Beato que assina o prefácio ao seu livro. Não serão também estas plataformas uma forma de exponenciar grandes desilusões?
Usar plataformas de encontros traz consigo desafios. Sejam desafios relacionados com a tecnologia propriamente dita, sejam desafios sociais, comportamentais ou até comunicacionais. Sim, existem pessoas que relatam que não tiveram experiências agradáveis nas plataformas de encontros, que não foi como tinham esperado ou imaginado. Há também quem relate que nunca teve uma conversa interessante ou quem nunca teve um encontro com alguém que quem tivesse conhecido através de uma plataforma de encontros. As plataformas não fazem magia. Apenas sugerem perfis. Tudo o demais depende de quem utiliza. Assim, é necessário estar nas plataformas de encontros de uma forma consciente percebendo que existem comportamentos que podem ser mais ou menos apropriados e que estes têm consequências.
É importante relembrar o potencial das plataformas de encontros ao nos sugerir pessoas que de outra forma possivelmente não conheceríamos. Aspeto relacionado com o funcionamento em rede e a possibilidade de aumentar a rede de contacto de qualquer pessoa.
Diz-nos a abrir o seu livro que este não é para ser levado demasiado a sério. Porquê?
Mais do que uma proposta de leitura rígida ou que impõem regras propõe-se, de uma forma descontraída, falar sobre plataformas de encontros. As pessoas podem ler Swipe, match, date de uma vez só, capítulo a capítulo, seguir a ordem proposta ou lerem na ordem que elas desejarem. Podem fazer os desafios, sozinhas ou acompanhadas, podem desafiar outras para os fazerem. Podem tirar notas ou aplicar as dicas.
Ao longo do livro e dos variados capítulos a temática – plataformas de encontros - é tratada com a seriedade que se merece. Já o leitor deverá ter em conta que existirão aspetos da utilização que estarão fora do seu controlo. Assim, é bom relativizar.
Usar plataformas de encontros traz consigo desafios. Sejam desafios relacionados com a tecnologia propriamente dita, sejam desafios sociais, comportamentais ou até comunicacionais.
A disseminação de plataformas de encontros será produto da sociedade em que vivemos, aquela que afasta as pessoas e as torna entidades virtuais?
O recurso às plataformas de encontros é explicado por um conjunto de motivações e eventos que tomaram lugar na vida dos utilizadores. Mas, obviamente, também pela forma como estas conseguem responder a necessidades que os utilizadores pretendem ver satisfeitas e até à suposta facilidade de utilização. O princípio das mesmas é ligar pessoas. Não é interessante para uma plataforma de encontros que a pessoa fique registada para sempre pois, o propósito, é que aconteçam encontros e as pessoas se liguem de forma, mais ou menos, significativa a outras. Nesse sentido, vejamos como as plataformas se comunicam dando a conhecer histórias felizes de casais que se conheceram online.
Depois, claro, caso não dê certo as plataformas de encontros estão sempre disponíveis para a pessoa voltar a utilizar. A ideia subjacente é a de “estou aqui sempre e quanto seja necessário”.
Tem dados que nos permitam aferir que os portugueses se renderam às plataformas de encontros?
Não tenho esses dados. Posso partilhar que quando comecei a investigar a temática era desafiante encontrar pessoas disponíveis para participar nos estudos. Estes focavam motivações ou práticas, por exemplo. Atualmente. sinto maior disponibilidade e abertura por parte de utilizadores ou ex-utilizadores para falarem sobre as suas experiências. Já dados facultados pelas plataformas indicam que o número de utilizadores tem aumentado ao longo dos anos.
O sucesso ou o desaire nas plataformas de encontros partirá, eventualmente, da gestão que se faz da imagem? Que erros não devemos cometer?
Como a pessoa se apresenta online, ou seja, as fotografias que escolhe e a informação que decide partilhar sobre si no seu perfil, tem impacto em quem está a ver esse perfil e consequentemente na decisão que toma relativamente ao mesmo. Não existe uma fórmula para se ser bem-sucedido. Ainda assim, a melhor dica para as pessoas serem bem-sucedidas nas plataformas de encontros é que estas sejam honestas. Honestas consigo próprias perguntando-se porque se estão a registar numa plataforma de encontros, qual o objetivo ou até que “espaço” as plataformas vão ocupar no seu dia a dia. Sejam honestas sobre si no seu perfil, apresentando-se como são, não como desejam ser ou para impressionar, indicando o que procuram. E claro, sejam honestas com os outros. Na troca de mensagens que antecedem os encontros e nos encontros em si. E se, por alguma razão, não fizer sentido continuar a conversar, digam-no. Não cortem a comunicação sem motivo aparente. Pelo menos para o outro.
Assim, ainda que possam existir fotografias que são melhor recebidas do que outras pelos utilizadores ou que a informação no perfil ajude a iniciar alguma conversa, o principio que regerá a utilização deverá ser a honestidade.
Como a pessoa se apresenta online, ou seja, as fotografias que escolhe e a informação que decide partilhar sobre si no seu perfil, tem impacto em quem está a ver esse perfil.
No segundo capítulo do seu livro deixa a pergunta: “As pessoas procuram sexo, namoro e o que mais?” O que é este “o que mais”?
Existem várias motivações para recorrer às plataformas de encontros. Há quem procure conhecer pessoas com quem desenvolver um relacionamento, seja ele longo ou pontual, mas há também quem use com outros objetivos. Existem aquelas pessoas que procuram uma companhia, alguém com quem conversar ao final do dia, quando chegam a casa, e partilhar como foi o dia. Há quem as use para estar entretido ou até quem só se queira distrair. Algumas destas motivações acabam por ser resultado da lógica de funcionamento das plataformas. Aquela ideia de que os perfis nunca mais acabam, uma lógica de jogo embebida no funcionamento ou um hábito enraizado, explicam alguns comportamentos e motivações. Há quem consulta uma plataforma de encontros como quem consulta uma rede social como o Instagram ou Facebook. Em várias ocasiões as pessoas devem perguntar-se: Faz sentido continuar registado numa plataforma de encontros?
A Rita vê as plataformas de encontros como potenciais elementos demolidores da autoestima? Como nos podemos salvaguardar?
É necessário as pessoas saberem que o ambiente gerado nas plataformas de encontros pode ser sentido como hostil. Estar nas plataformas de encontros pode não ser prazeroso. A existência de muitos perfis, a presença de pessoas com intenções muito variadas ou até de pessoas que se aproveitam, pode estar longe de ser aquilo que as pessoas tinham imaginado. Assim, a decisão de se registar numa plataforma de encontros deve ser ponderada e questionada. O que pretendo? Como me vou sentir se não tiver matches significados? Como me vou sentir se não tiver encontros? Que impacto é que isso terá em mim?
As plataformas de encontros podem ser a solução ideal para muitas pessoas, mas isso não significa que seja para todas e apesar de acumularem cada vez mais utilizadores, cada pessoa deve questionar-se se é solução ideal para si. Pode sempre experimentar e caso não encontre sentido, eliminar o seu perfil e, como se aplique, desinstalar a aplicação.
Existem dias e horas propícios a encontros frutuosos nestas plataformas?
Os dados de que disponho, não sendo representativos e portando não sendo possível generalizar, indicam que é à noite, depois das 19h00 que as pessoas mais indicam utilizar as plataformas de encontros. Dado que é reforçado por aqueles facultados pela plataforma Felizes.pt no âmbito de um estudo realizado. Assim, será depois dessa hora que as pessoas dedicam mais tempo do seu dia a ver perfis e a fazer match ou a responder a mensagens que receberam durante o dia.
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