São três amigos. Ou melhor são muitos mais, mas selecionámos três oriundos de países diferentes onde a língua portuguesa ainda vigora como oficial e onde o calor humano é tão forte como o poderoso sol das Áfricas.

O Joel é angolano, nasceu no Lobito e cedo veio para Portugal pela mão dos tios que se ofereceram para lhe dar uma melhor educação: “A minha mãe quis assim, mas quando me levaram custou-me muito. Hoje, aos 27 anos, sei que foi a decisão certa. Em África não teria conseguido este nível de educação e assim que terminar a minha pós graduação em gestão de empresas volto para o meu país onde as oportunidades são maiores”. De Lisboa, guarda e guardará as melhores recordações: “Aqui estão os meus amigos e parte das minhas raízes. Cresci em casa angolana, a comer moamba e a ouvir histórias da guerra civil. Da porta para fora, o meu convívio cultural era todo em português, daí nem ter sotaque”, acrescenta. E é verdade. O Joel não tem mesmo sotaque e sabe muito bem o quer para o seu futuro.

Esperança é o nome da mãe da namorada do Joel. É moçambicana e as suas vidas cruzaram-se na faculdade onde é uma das funcionárias mais atenciosas da instituição. Veio para Portugal em 75, uma decisão familiar, mas não teve problemas de integração: “A comunidade moçambicana estava muito familiarizada com os costumes portugueses e só tive de adaptar expressões como matope e matar o bicho por terra molhada e pequeno-almoço. Nada de extraordinário”. Casou-se com um português e já tem três filhos, dois rapazes e uma rapariga, esta última uma acérrima defensora das raízes moçambicanas: “A Natália é muito ativa culturalmente. Faz parte de uma pequena associação luso-moçambicana e adora usar capulana em festas. Aprendeu a cozinhar com os temperos de África e não dispensa uma boa malagueta nos seus pratos”. Quando lhe falam em voltar para Moçambique, Esperança abana a cabeça: “Não, já passou tanto tempo. Prefiro ficar aqui e ver os meus netos crescerem.”.

Jorge já não pensa da mesma forma. Quer regressar a Cabo Verde e abrir um hotel, um sonho que cultiva desde que saiu do seu país há uma década, já adulto, mas com poucos horizontes profissionais. “Há muito que poupo dinheiro e aos poucos vou construindo a minha casa na ilha do Sal. Conhece? Não há nada mais bonito do que o Sal…aquela paz, aquele sol…”, refere com os olhos a brilhar. Jorge começou por trabalhar na construção civil muito novo, por uma questão de “ sobrevivência”. Foi crescendo na profissão e hoje tem um negócio por conta própria: “Faço trabalhos nesta área e estou por minha conta. Foi o melhor que fiz. Não há muitos carpinteiros por ai e acabo por ter jeito para fazer tudo a nível de obras. Comecei junto da minha comunidade e o passa a palavra tem funcionado”. Ainda assim o regresso é uma decisão tomada, porém, ainda sem data. “O cheiro de África para mim é insubstituível. De dois em dois anos vou à minha terra e choro ao sair dela. Não posso esconder isso. Em Portugal tenho bons amigos, mas em Cabo Verde tenho a minha família.”

O Joel, a Esperança e o Jorge são de gerações diferentes e entre o ficar e o regresso à sua terra natal balança o seu coração. Uns preferem guardar em memória o passado, outros olham para o seu país como a terra das oportunidades.