Agendas a transbordar de compromissos diários, levam-nos à pergunta inevitável: onde fica o tempo para cada um de nós? À questão, Cláudia Ganhão, responde com o seu livro “O teu minimalismo” (edição Influência) e fá-lo através de um caminho para um novo rumo nas nossas vidas. Simplificar e descomplicar são dois verbos que bem descrevem esta forma de estar apostada em reencontrar o essencial, o Minimalismo. Para Cláudia, mãe de duas crianças, licenciada em química, com careira numa multinacional, o ano de 2018 significou uma mudança de vida. Da internet onde apresenta o minimalismo há alguns anos, Cláudia passou para o papel no seu presente livro. Ao SAPO LIfestyle, a autora revela como este minimalismo pode ser aplicado a toda a extensão do nosso quotidiano. Implica responsabilidade, mas também libertação, de bens materiais e não só. “Escolher é o teu maior superpoder”, afirma Cláudia Ganhão. O resultado é uma vida “mais leve, mais real, mais tranquila”.

Em 2018 decidiu mudar de vida. O que a levou a repensar a direção que levavam os seus dias?

Devido a uma situação de saúde fui forçada a parar, essa paragem permitiu-me ver o quão desalinhada eu estava, entre o que eram os meus valores pessoais e o que efetivamente vivia, percebi que os meus dias eram passados em modo piloto automático e isso sem dúvida fez-me repensar a forma como vivia.

A que áreas se aplica o minimalismo?

O minimalismo pela sua simplicidade pode ser aplicado a todas as áreas da nossa vida, como refiro no livro, desde os relacionamentos, à casa, à parentalidade, o bem-estar, a área profissional, as finanças, a gestão do tempo, a gestão financeira, entre outras.

Deixo-lhe dois mitos ligados ao minimalismo e que, aliás, elenca no seu livro: “não vão às compras” e “têm de mandar fora tudo o que têm”. Face a estes dois exemplos, como defende o seu minimalismo?

O minimalismo é uma filosofia de vida bem simples que nos diz que nos devemos focar no que é essencial e deixar ir o resto. O que é essencial para mim não é para as outras pessoas, até costumo dizer que há mais de sete mil milhões de minimalismos espalhados pelo mundo. Assim sendo, ninguém tem de deixar de comprar ou deitar fora o que é essencial para si, não podemos é considerar tudo essencial. Temos de fazer escolhas.

Ao escrever o livro, sistematizando princípios que já trazia na sua vida, ajudou-a a, de novo, a repensar e a reorganizar?

Sem dúvida, relembrou-me da “magia” desta filosofia de vida e como ela me pode ajudar em todas as áreas da vida. Voltei a relativizar algumas coisas, principalmente no que diz respeito às relações e ao trabalho, que me levou a fazer novas escolhas mais alinhadas com o que acredito, nomeadamente, o número de horas que trabalho versus os resultados que obtenho.

Cinco dicas de Cláudia Ganhão para equilibrar todas as áreas da vida

1. Definir limites (sejam horários ou a quantidade de coisas que quero fazer);

2. Ficar offline (quando se trabalha online há fases em que é essencial);

3. Planear (um bom planeamento semanal realista é essencial);

4. Descansar (fazer pausas regulares, dormir bem, não fazer nada);

5. Prioridades (saber exatamente o que é prioritário e importante para mim nesta fase)

 Fonte: Instagram da autora.

No seu livro, lista dez coisas que o minimalismo lhe ensinou. Quer partilhar algumas delas connosco?

Claro. Destaco, em primeiro lugar, a seguinte: a qualidade é melhor do que a quantidade, no meu ponto de vista aplicável a vários níveis, mas saliento na gestão do tempo. É sempre melhor a qualidade do que a quantidade de tempo que passamos a fazer algo.

Somos responsáveis pelas nossas coisas: podemos não escolher o que nos acontece, mas podemos escolher como reagir, que aprendizagens retirar do que nos acontece.

Podemos dizer que “escolher é o teu maior superpoder”.

o teu minimalismo
créditos: Editora Influência/Wonder Studio

O minimalismo é sinónimo de felicidade numa sociedade que nos estimula a adquirir, acumular e desperdiçar?

Acredito que sim, o foco no que é efetivamente importante e essencial nas nossas vidas leva-nos a não ter necessidade de acumular bens materiais e consequentemente a evitar o desperdício de recursos.

Por outro lado, a posse de objetos e a acumulação dos mesmos não nos traz felicidade e bem-estar?

Se essa acumulação existir como forma de compensar ou mascarar outras necessidades sem dúvida que não nos traz mais bem-estar ou felicidade a longo prazo.

Há sinais que nos indicam que nos tornámos acumuladores?

Eu diria que há sinais que indicam que nos podemos tornar acumuladores, nomeadamente viver em piloto automático, não ter prioridades, não saber o que é efetivamente essencial a cada momento.

Qual é o passo fundamental para iniciarmos o processo rumo ao minimalismo?

É sem dúvida queremos mesmo viver de forma mais simples, mais leve, mais real, mais tranquila, tudo começa com a mudança de mindset.