Desde 2011, por causa crise, muitas famílias portuguesas tiveram de aprender a gerir os seus orçamentos com menos dinheiro. Se em muitos casos esse reajustamento foi feito sem pôr em causa a capacidade dos agregados em conseguirem cumprir com os seus encargos financeiros, em muitos casos esse reajustamento não foi pacífico e levou muitas pessoas a uma situação de quase insolvência. No ano passado, e segundo dados da DECO, mais de 29 mil pessoas com dificuldades financeiras pediram ajuda ao Gabinete Apoio ao Sobreendividado da associação.
A urgência e a dimensão deste problema tem levado ao surgimento de cada vez mais redes de apoio destinadas a ajudar as famílias sobre-endividadas. A rede “SOS Famílias Endividadas” é o mais recente exemplo de instituição criada para esse efeito. Este organismo, que foi hoje formalizado com a assinatura de um protocolo entre a Confederação Nacional das Associações de Famílias e o Centro de Apoio ao Endividado, pretende funcionar como uma rede de assistência nacional aos consumidores endividados. Saiba então o que fazer para evitar cair numa situação de sobre-endividamento e onde pedir ajuda quando as finanças descarrilam:
1. Prepare-se:
Diz o ditado popular que “prevenir é o melhor remédio”. E no campo do sobre-endividamento, a prevenção é mesmo o melhor medicamento. Além do indispensável orçamento familiar- instrumento fundamental para conseguir identificar todos os seus gastos e as despesas que poderá cortar- é fundamental ter um fundo de emergência. Isto porque hoje até pode ter uma vida financeira confortável e folgada, mas amanhã poderá acontecer-lhe uma situação imprevista (como uma doença, o divórcio ou o desemprego) e ficar sem rendimentos para fazer face ao pagamento dos seus créditos. Por esta razão, tenha reservada uma poupança com o montante equivalente entre a seis meses a 12 meses das despesas do agregado familiar. Desta forma, se o azar lhe bater à porta terá esta “almofada financeira” para o ajudar a equilibrar o seu orçamento familiar e evitar que caia numa situação de sobre-endividamento.
2. Esteja atento aos sinais:
Muitas vezes as famílias não caem numa situação de rutura financeira de um dia para o outro. Por norma, é uma situação que começa com sinais tímidos de falta de controlo de orçamento mas que vai evoluindo e, como se tratasse de uma bola de neve, o problema vai ganhando dimensão até ficar sem controlo. A falta de um orçamento familiar e de um fundo de emergência, por um lado, e a existência de um peso excessivo dos créditos face aos rendimentos da família, por outro lado, levam a que o problema do sobre-endividamento comece, por vezes, pelo atraso de pequenos pagamentos (como as despesas de condomínio). Na tentativa de saldar dívidas de créditos, muitas famílias acabam também por fazerem mais um crédito pessoal. Começam também a deixar de pagar alguns serviços (como a internet) e créditos pessoais e, em última instância, deixam de conseguir pagar a prestação da casa. Para evitar chegar a uma situação limite como esta, esteja atento aos primeiros sinais de descontrolo do orçamento familiar e tome medidas para travar o descalabro financeiro. Leia também o artigo "Oito sinais de sobre-endividamento".
3. Não esconda a situação da sua família:
A vergonha e o embaraço são sentimentos comuns de quem vive a braços com uma situação financeira difícil. A tendência imediata das pessoas sobre-endividadas é isolarem-se. Tente combater este sentimento e partilhe a sua situação com a sua rede familiar e de amigos. Quem sabe se através deste apoio próximo poderá conseguir encontrar uma alternativa de emprego ou obter algum tipo de assistência para os seus filhos. Leia também o artigo "Como lidar com o stress financeiro causado pela crise"
4. Peça ajuda:
Um dos principais dilemas que os técnicos e especialistas que dão apoio às famílias sobre-endividadas sentem tem a ver com o facto de muitos pedidos de auxílio serem solicitados numa fase muito tardia: ou seja, quando já há pouco a fazer para salvar a família de uma situação de insolvência. Por isso mesmo, é importante pedir ajuda o mais cedo possível. Existem atualmente diversas entidades que prestam apoio aos consumidores em dificuldades financeiras. Aqui ficam algumas das mais relevantes:
Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS) - O Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da DECO foi uma das primeiras iniciativas lançadas em Portugal para ajudar as famílias a lidarem o problema do endividamento excessivo. No ano passado o GAS registou o pedido de ajuda de cerca de 29 mil pessoas com dificuldades financeiras. A Deco faz uma análise da situação do sobre-endividado e entra em contacto com as entidades credoras com o objetivo de reestruturar as dívidas, de forma a que o consumidor consiga cumprir com as suas obrigações financeiras.
APOIARE - A Associação Portuguesa para a Observação, Investigação e Apoio na Reeducação em Matéria de Endividamento (APOIARE) é uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo principal é ajudar os cidadãos com problemas de endividamento. Além da consulta de análise é feita a definição de um Plano de Recuperação Económico-Social.
Fundação Agir Hoje - Esta IPSS– Instituição Particular de Solidariedade Social trabalha com pessoas que estão sobre-endividadas ou com problemas financeiros, numa abordagem diferente, que coloca a pessoa no centro e não a dívida. Um dos objetivos da fundação é promover grupos de entreajuda para pessoas que estão nesta situação.
Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores (GOEC)- O Gabinete de Orientação ao Endividamento dos Consumidores, resulta de um protocolo entre o Governo e o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Aqui é disponibilizado aconselhamento aos consumidores e prestam apoio gratuito em processos de renegociação de créditos com os bancos e outras instituições financeiras.
SOS Famílias Endividadas- Esta rede recém-criada resulta de um protocolo assinado entre a Confederação Nacional das Associações de Famílias e o Centro de Apoio ao Endividado. Distingue-se pelo facto de lidar com processos de famílias endividadas que estão numa fase judicial. Note-se que a restruturação dívidas é feita apenas quando estão em causa credores privados. Ou seja, exclui dívidas fiscais e à Segurança Social.
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