Se acredita no seu valor, sabe que pode chegar mais longe na carreira que escolheu mas tem consciência que, por vezes, as suas atitudes não jogam a seu favor, tem mesmo de ler esta entrevista. Lois P. Frankel, coach e psicoterapeuta motivacional americana, escreveu um verdadeiro manual de autocoaching, compilando os erros mais frequentes que as mulheres cometem a nível profissional e ensinando-as a superá-los.

Quer saber o segredo para o seu sucesso? Então entre neste jogo. O jogo do trabalho! "Ao fazermos milagres no trabalho, a única coisa que conseguimos é elevar a fasquia que colocamos a nós próprias. As trabalhadoras milagreiras, digamos assim, podem vir a ser canonizadas mas nunca obterão reconhecimento pelo seu esforço", adverte a especialista, que fundou a empresa Corporate Coaching International.

Por que é que afirma que o universo laboral é um jogo, como lhe chama no livro "As boas raparigas não sobem na vida - 101 erros fatais à carreira de qualquer mulher"?

O mundo do trabalho, à semelhança de um jogo, tem regras, limites e estratégias próprias. Temos de consciencializar este facto e tirar partido dele se quisermos competir e sermos bem sucedidas.

Quais as regras para vencer esse jogo?

Aprender os comportamentos e regras limite que vigoram na empresa onde trabalhamos, ter a noção que os comportamentos esperados são diferentes consoante se tratem de homens e de mulheres, correr riscos e jogar para vencer. São, assim de repente, aquelas que apontaria.

Como surgiu a ideia de escrever este livro?

À medida que ia fazendo coaching a mulheres de todo o mundo, via-as adoptarem determinados comportamentos que lhes foram ensinados pelos pais ou que a sociedade esperava delas. Esses comportamentos impediam-nas de atingirem os seus objetivos e, através do livro, quis orientar e aconselhar mulheres que não tivessem oportunidade de usufruir dos serviços de um coach.

O que faz um coach? Ainda há muita gente com esta dúvida...

Ajudo as pessoas a alcançarem os seus objetivos profissionais, oferecendo-lhes um espelho, digamos assim, que lhes permite verem-se como os outros as vêem e decidirem quais as mudanças de comportamento que as ajudarão a atingirem os seus objetivos profissionais.

Se tivesse de selecionar cinco erros de entre os 101 que refere no livro, quais seriam?

Fazer milagres, pedir licença para tudo e mais alguma coisa, recusar regalias inerentes à função que exerce, ser sovina na gestão do dinheiro da empresa onde trabalha e dar explicações intermináveis...

O que significa fazer milagres?

A maior parte das raparigas é ensinada a ajudar os outros. À medida que crescem, também lhes é passada a mensagem que têm de trabalhar o dobro do que os homens para que lhes reconheçam mérito, que será cerca de 50% inferior àquele que seria atribuído se a tarefa fosse realizada por um homem.

Somando estes dois fatores vamos ter alguém que, quando lhe é pedido para desempenhar uma tarefa em pouco tempo, por pouco dinheiro e sem todos os meios de que necessita para concretizá-la, vai conseguir fazê-la à mesma.

Se algo idêntico for pedido a um homem, ele ri-se ou negoceia. Ao fazermos milagres no trabalho, a única coisa que conseguimos é elevar a fasquia que colocamos a nós próprias. As trabalhadoras milagreiras, digamos assim, podem vir a ser canonizadas mas nunca obterão reconhecimento pelo seu esforço.

Não devemos pedir licença aos nossos superiores, se acharmos que isso se justifica?

Na nossa sociedade, são as crianças, não os adultos, que pedem licença. Cada vez que pedimos licença estamos a relegar-mo-nos para esse papel.

O que leva as mulheres a recusarem regalias inerentes ao seu cargo?

Muitas vezes uma mulher recusa regalias, como utilizar o carro da empresa, porque quer parecer igualitária...

Sermos poupadas com o budget da empresa onde trabalhamos é um erro?

Mulheres que não têm problemas em gastar o seu próprio dinheiro são, por vezes, acusadas de serem sovinas quando se trata do dinheiro da empresa, tendo medo de gastá-lo em despesas legítimas relacionadas com o trabalho. A mulher que faz isto é vista, pelo patronato, como não estando preparada para jogar numa equipa da primeira divisão, como se diz.

As mulheres justificam-se demasiado?

Muitas acham que, quando lhes é feita uma pergunta, devem fornecer cada pedacinho de informação que achem estar relacionado. Podem fazê-lo por insegurança, porque estão a tentar amaciar a resposta ou, ainda, porque os homens não lhes vão dando um feedback não verbal e elas continuam a falar até lhes ser dado um sinal de que a mensagem foi compreendida.

Pôr a vida profissional à frente da familiar éum erro?

Não é a empresa onde trabalhamos ou o nosso patrão que vai estar lá para apoiar-nos em situações de crise. O objetivo é encontrarmos um equilíbrio entre as duas esferas, profissional e familiar, refletindo naquilo que são os nossos valores e como os podemos pôr em prática todos os dias.

Refere que cada pessoa deve ter e vender aos outros uma marca pessoal e intransmissível. Como podemos fazê-lo?

As pessoas ficam sempre com uma determinada impressão de nós. Essa impressão traduz-se na forma como nos descrevem após termos saído de uma reunião ou quando falam do nosso desempenho. Pode ser qualquer coisa como "o Joe é ótimo vendedor mas autopromove-se demasiado". Há que ter em consideração que essa impressão que os outros têm de nós pode ser boa, má ou horrível.

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O que talvez você não saiba é que pode moldar a impressão que os outros têm de si e criar a sua própria marca. Não é um processo propriamente fácil mas também não é impossível.

O passo seguinte é escrever um parágrafo de cerca de 25 palavras, conjugando os verbos no presente como se aquilo que está a escrever fosse a verdade atual e assegurar que seja suficientemente simples para que a tenha sempre em mente. Provavelmente terá de refazer o texto várias vezes até conseguir chegar à versão ideal.

Um exemplo de uma frase simples pode ser uma do género "Sou um líder que consegue obter a cooperação e confiança dos outros através de uma comunicação transparente, atuando sempre com integridade e valorizando as mais-valias de cada membro da minha equipa" ou algo assim. Depois de escrever a frase, já tem a visão do modo como quer que a sua marca individual seja percecionada.

E como podemos pôr em prática a tal frase?

Aquilo que escrevemos é para ser encarado como um mandamento e devemos agir de acordo com ele, como se estivéssemos a ser vigiados por uma câmara.

Isso é marketing pessoal puro?

Uma das razões que nos leva a comprar produtos de uma determinada marca em vez dos chamados produtos brancos é a publicidade. Ouvir ou ler os atributos e vantagens de um produto leva-nos a acreditar nele. Claro que as qualidades enumeradas nos anúncios nem sempre correspondem à verdade, mas vamos supor que você não irá mentir.

Por isso, precisa de promover-se e publicitar-se. Sem que pareça arrogante ou gabarola, pode transmitir aos outros, não precisando de o fazer diretamente, as ocasiões em que, por exemplo, agiu com integridade, que é precisamente um dos mandamentos da sua frase ideal.

Qual é o conselho que deixa às portuguesas?

Sigam o lema de Eleanor Roosevelt, que dizia "ganhamos coragem e confiança fazendo as coisas que pensamos não conseguir fazer".

Quem é Lois P. Frankel?

Doutorou-se em psicologia e a sua prática como psicoterapeuta e responsável de recursos humanos de grandes empresas levou-a a fundar a sua própria empresa, a Corporate Coaching International. Para além de consultora de companhias de renome como a Boeing, a Walt Disney, a Procter and Gamble, a BP e a Time Warner, Lois P. Frankel é presença assídua em programas televisivos e emissões de rádio.

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Esta conceituada coach motivacional também já coordenou milhares de workshops um pouco por todo o mundo. "Nice girls don’t get rich" [As boas raparigas não enriquecem, em tradução literal] e "As boas raparigas não sobem na vida - 101 erros fatais à carreira de qualquer mulher", publicado em Portugal pela editora Lua de Papel, um manual que dá a conhecer os erros mais comuns que as mulheres cometem na esfera laboral e que as impedem de ascenderem na carreira, são alguns dos títulos dos livros que já escreveu.

Segundo esta especialista norte-americana, residente em Pasadena, na Califónia, nos Estados Unidos da América, cada alegado erro é acompanhado pela respetiva solução, o comportamento mais adequado, assim como por exercícios para praticar o que aprendeu. Combater a passividade e não ter medo de arriscar são alguns dos lemas subjacentes a todo o livro, que estimula uma atitude pró-ativa e determinada.

Texto: Teresa d'Ornellas