Quando surgiu no mercado, há duas décadas, a Fly London passava praticamente despercebida no mercado nacional e o nome inglês escondia a verdadeira identidade da marca. Com sede em Guimarães, uma filosofia própria que não segue as tendências da estação mas explora uma linguagem e uma imagem pouco convencional, tornou-se a mais internacional das marcas de calçado português.

Dos seus designers sempre se soube pouco e Fortunato Frederico, o dono da marca, atualmente presidente da APICCAPS (Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos), não costuma dar entrevistas. Minhoto, 71 anos, nunca quis aprender inglês e continua a trabalhar todos os dias na fábrica, acompanhando os negócios dos 1500 pontos de venda espalhados por 55 países. O seu primeiro emprego foi, aos 14 anos, na fábrica de calçado Campeão Português.

Aí ganhou o gosto pela profissão e, quando estava em África a cumprir o serviço militar, sonhou em ter uma marca própria. No regresso, investiu o que tinha na Kyaia (nome do lugar que tanto tinha gostado em Angola). O negócio do calçado corria de feição, mas faltava uma identidade distinta. Foi numa feira, em Dusseldorf, na Alemanha, que comprou a Fly London, um projeto que parecia condenado a desaparecer e negociou o designer, que se manteve na empresa.

A mosca, imagem da marca, caiu-lhe bem. «É uma mosca que pode voar para o infinito», disse numa entrevista à NotíciasMagazine. «É um raciocínio muito simples, não tem grandes estudos de marketing, tem um instinto, (...) que me apontou que aquilo era realmente um projeto em que devia e podia arriscar». Estava certo. A cumprir 30 anos, a Kayia começou por ter 20 empregados e produzir 500 pares de sapatos por dia.

A Fortunato O. Frederico SGPS S.A. estende-se da indústria à distribuição, ao retalho (Foreva e Sapatália) e imobiliário, emprega cerca de 600 funcionários, tem cinco fábricas (uma em Guimarães e quatro em Paredes de Coura) e, em 2011, faturava 55 milhões de euros. A Fly London, que em 2014 comemora 20 anos, é a oitava marca de sapatos mais vendida do mundo e arrebatou o prémio Fashion Footwear Brand of the Year 2013, no mercado britânico, que é líder de vendas da marca nacional.

Do calçado para a roupa e para os óculos

Desde 2010, a empresa estendeu a sua coleção ao vestuário e acessórios e, em 2011, lançou uma linha de óculos. Por terras lusas, apresenta-se regularmente no Portugal Fashion e, reforçando os laços entre a indústria e os designers nacionais, marcou presença no desfile de Valentim Quaresma, na apresentação da colecção Outono/Inverno 2014/15, última edição da ModaLisboa. Fortunato Frederico apontou o dedo à competição da indústria do calçado, na entrevista à Notícias Magazine.

Na altura, admitiu que «ainda precisamos de meia dúzia de anos para poder dar valor e vender sapatos ao preço dos italianos». À frente da associação do setor tomou como missão voar mais alto e tornar o couro em Portugal uma referência e aumentar a competitividade na cena internacional. É actualmente uma das marcas de calçado nacionais mais conhecidas, surpreendendo pelo design moderno e inovador.

Texto: Sandra Nobre