Tem 63 anos e orgulha-se do seu percurso de trabalho que iniciou aos 14 anos. Hoje é presidente do conselho de administração da Optivisão, empresa fundada pelo pai há 22 anos e que hoje é o maior franchising português.

Maria Adelaide Penedo, mais do que cargos ou títulos, valoriza sobretudo a família e faz tudo o que está ao seu alcance para mantê-la unida. E dá-lhe prazer ver a terceira geração interessar-se pelo negócio que o avô iniciou.

 

Trabalha há quantos anos na atividade ótica?
Desde os 14 anos. Interrompi o curso comercial, empreguei-me e foi uma experiência óptima. Tive a sorte de encontrar no meu caminho um galego, uma pessoa extraordinária que me permitiu evoluir moral e profissionalmente. E digo moral porque era um homem cheio de valores, muito honesto e que me fazia sentir importante. Era a empresa Bernardo Garcia que, entretanto, acabou.

A sua mãe também é galega?
Sim e o meu pai é beirão. Casaram-se com 19 anos, e, pouco depois, nasci eu. O meu pai, oriundo de uma família humilde, era marceneiro, enquanto a família da minha mãe era uma gente arrojada, habituada a uma vida de venda. Nessa altura desafiaram o meu pai a ir para a rua vender óculos numa mala, situação que o envergonhava profundamente. 

E vendia alguma coisa?
Muito pouco mas como ia com o meu tio, partiam as vendas ao meio porque havia um grande sentido de família, que ainda hoje se mantém, e que foi a fórmula do nosso sucesso. Nessa altura teve a possibilidade de ficar com uma ótica pequenina no Bairro da Graça mas o trespasse custava 80 contos e o meu pai não tinha esse dinheiro. Mas como atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher, a minha mãe conseguiu esse dinheiro emprestado para o meu pai ficar com a loja.

A sua mãe também trabalhava com o seu pai?
A minha mãe ficou sempre em casa a tomar conta dos filhos. Somos quatro irmãos, três raparigas e um rapaz. Eu sou a mais velha com 63 anos, depois a minha irmã Dolores tem 60, o meu irmão Manuel 57, e a Cristina 47.

Porque não começou a trabalhar na ótica dos seus pais?
Porque o dinheiro era pouco. No entanto, estudámos todos em colégios particulares e, naquela altura, aquele dinheiro fazia diferença. Mas andávamos sempre impecáveis. A minha mãe enchia-nos de lacinhos, foi sempre uma mulher extraordinária e até hoje é uma força da natureza. Sem ela esta família não existia! Já o meu pai é um filósofo, calmo e pachorrento…

Saiba mais na próxima página

Nenhum dos filhos trabalhou com o pai?
Eu trabalhava numa empresa de importação e a minha irmã Dolores numa ótica concorrente da Baixa. O primeiro filho a vir trabalhar para a empresa foi o meu irmão Manuel. Entretanto a empresa foi crescendo graças à habilidade do meu pai.

Antigamente as lentes faziam-se à mão e o meu pai, que não tinha tido nenhuma escola especial, só fez a instrução primária, sem dominar nenhum idioma, foi três meses para um laboratório na Alemanha aprender como se colocavam lentes de contacto. Foi dos primeiros a dominar a técnica em Portugal.

Quantos netos têm os seus pais?
Oito. Sete rapazes e uma rapariga. Eu tenho dois filhos e três netos.

Quem é o seu maior apoio na empresa?
A minha irmã Dolores uma mulher de moda com muito bom gosto. Fazemos as feiras todas de Milão e Paris várias vezes por ano. A minha irmã é uma vanguardista, anda sempre à frente. Entretanto, a minha irmã mais nova, a única que foi para a universidade, também veio trabalhar connosco.

Quais são as vossas competências dentro da empresa?
A minha irmã Dolores está na Óptica do Conde de Redondo, eu sou presidente do conselho de administração da Optivisão SA, o meu irmão Manuel está a no Oculista Central da Graça 1, depois abrimos o Oculista Central da Graça 2, uma loja lindíssima que ganhou um prémio italiano de arquitetura, temos uma ótica na Rua Castilho e temos ainda a Ótica Castilho e a Óptica Lentaros.

Esta loja tem uma história?
Tem. Foi o meu primeiro patrão que ma cedeu. Desafiou-me a convencer o meu pai a ficar com ela sem ter de pagar nada. O contrato era dividir os lucros ao meio. E assim foi. Nessa altura a minha irmã deixou a loja da Baixa e veio para aqui. Ela é que é a impulsionadora da Óptica do Conde Redondo.

Não veio logo trabalhar com ela?
Não. O meu patrão deu-me sociedade na empresa dele e eu continuei ainda mais um tempo a trabalhar na empresa Bernardo Garcia. Casei-me e tive os meus dois filhos e só comecei a trabalhar nesta ótica um ano depois do meu filho mais novo ter nascido.

Saiba mais na próxima página

A Optivisão não é franshising?
É um projeto totalmente português e não tem nada a ver com as multinacionais que para aí há de ótica. A Optivisão tem 280 lojas, é o maior franchising português com capital exclusivamente nacional e todos os franquiados são investidores da empresa. O meu pai, que tem agora 82 anos, faz parte dos maioritários que são três. Já tive oportunidade de perceber que para as coisas correrem bem tem de haver maiorias.

Qual é a percentagem dos sócios maioritários?
O meu pai e os dois sócios, Sr. António Câmara e o Senhor Monteiro, de Cascais, têm 54 por cento da empresa.

Nunca pensa em termos individuais quando tem de decidir?
Nunca. Nós trabalhamos todos para um bolo e quando precisamos de alguma coisa pedimos ao meu pai. Ainda hoje é assim.

A que se deve o sucesso da Optivisão?
À capacidade de fazer um projeto integrado. Hoje orgulhamo-nos de ter os óticos de maior prestígio do mercado, porque entre estes empresários, temos as melhores e mais bonitas ópticas. Todas as óticas da Optivisão são acima da média.

Este é um negócio de homens?
Sem dúvida. Mas consegui viver sempre no meio de muitos homens que me trataram como igual.

Já sei que não liga à moda. Em que gasta então o dinheiro que ganha?
Em livros e dou aos meus filhos.

O que lhe dá realmente prazer?
Trabalhar, fazer companhia à minha mãe e cuidar dos meus netos.

Como gostaria que fosse o seu futuro?
Gostava de ter um bocadinho de terreno para fazer uma pequena horta. Não sou nada ambiciosa. Só ambiciono a felicidade e o bem estar da minha família.

 

Texto: Palmira Correia