A marca Isabel Queiroz do Vale nasceu quase há 40 anos em Lisboa e agora mima homens e mulheres no Estoril.

O seu nome é uma referência na arte de bem pentear em Portugal. Abriu o seu primeiro salão quase há 40 anos em Lisboa e há dez mudou-se para o Estoril, num espaço que ocupa quase mil metros quadrados junto aos jardins do Casino.

Isabel Queiroz do Vale comemorou uma década de múltiplas formas de ser SPA, onde o cabelo, o rosto e o corpo são a preocupação e o alvo de todas as atenções. Fomos ouvir a anfitriã.

É cabeleireira há quantos anos?

Comecei a trabalhar nesta profissão há mais de 40 anos. A minha marca teve início com a abertura do meu primeiro salão, no primeiro andar do edifício Avis, e dois anos depois, em 1976, abri no Centro Comercial Imaviz um espaço masculino e feminino. Quando vim para o Estoril, a sensação que criámos na Linha foi a mesma sensação que esse espaço criou em Lisboa: uma inovação enorme.

A maior inovação foi o facto de os seus cabeleireiros serem mistos?

Sem dúvida. Até aí só havia os cabeleireiros de homem e os cabeleireiros de mulheres.

Este gosto pela sua profissão nasce logo de pequenina a pentear bonecas, ou por influência de alguém?

Penso que possa ter sido por influência de uma senhora que era da região do Douro, como eu, e tinha um enorme gosto pela modernidade. Naquele tempo, deslocava-se de descapotável o que, num meio pequeno, como Mesão Frio, era muito ousado e por isso considerada uma excêntrica. Essa senhora, com quem convivi muito, trazia revistas de moda de Lisboa e do Porto, e a minha mãe, que tem uma arte manual fantástica, fazia tricots magníficos tirados dessas revistas.

Quando era criança já dizia que queria ser cabeleireira?

Não, nunca me passou pela cabeça ser cabeleireira, engenheira ou bailarina… Só quando chegámos a Lisboa, é que decidi ser cabeleireira e até hoje continuo muito feliz com aquilo que faço.

O seu primeiro cabeleireiro famoso foi o saudoso José Carlos?

É verdade. Trabalhou muitos anos comigo, depois saiu para abrir o seu próprio salão no Arco Íris, mas como as coisas não correram bem, voltou a trabalhar para mim. Só mais tarde, quando ele começou a dedicar-se mais à costura do que aos cabelos, é que ele foi trabalhar para o Ayer até deixar definitivamente a profissão de cabeleireiro para se dedicar ao atelier.

Deram-se bem?

Sempre me entendi lindamente com ele, aliás, foi das pessoas com quem adorei trabalhar e ficámos sempre muito amigos.

Há dez anos abre o Day SPA Isabel Queiroz do Vale, no coração do Estoril. Já estava farta de trabalhar em Lisboa?

Este era o conceito que me apetecia fazer na altura e um SPA precisa de um local calmo, relaxante e tranquilo, e surgiu este espaço que se adaptava de facto aquilo que eu pretendia. Em Lisboa já tínhamos fechado um dos salões, e, depois de abrirmos aqui, fechamos o outro. Os meus espaços em Lisboa eram fantásticos mas já estavam inadaptados e, por isso, deixaram de ter graça.

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Assim também pode dedicar-se em exclusivo ao seu SPA?

Foi essa a minha opção. Assim que abri no Estoril percebi de imediato que este espaço ia exigir a minha presença a tempo inteiro, e ainda não estávamos nesta época tão conturbada e difícil que se tem vivido. Neste momento também tenho dois salões franchisados no Porto, com uma equipa muito boa, e onde dou assistência pelo menos uma vez por mês.

A sua filha já não trabalha consigo na gestão do SPA?

Não. Tenho um novo parceiro de negócios, o Luís Aranha, um gestor com larga experiência internacional na área da moda e da cosmética. Trabalhou em França e no Japão, esteve ligado a marcas como Nina Ricci, e agora está comigo nos nossos projectos.

Como é que tem superado este momento de crise que vivemos?

Tivemos de nos adaptar como toda a gente. Tomando algumas medidas reduzindo a equipa. Felizmente, desde Janeiro, temos vindo a aumentar a nossa facturação. Sou uma pessoa optimista por natureza e acredito que as coisas vão melhorar. Estamos todos mais conscientes das dificuldades e isso é positivo.

As pessoas vêm maioritariamente ao seu espaço à procura dos seus serviços como cabeleireira ou procuram os tratamentos do SPA?

As pessoas procuram o conceito que lhes oferece confiança e por detrás desse conceito estou eu. Por muito grande que seja a crise as pessoas continuam a precisar dos nossos serviços, e acredito sinceramente que este espaço contribui para o bem-estar da sociedade.

Acha que a sociedade reconhece?

Não tanto como seria desejável. É por isso que há poucos jovens a dedicar-se a esta profissão. Só quando se criar uma licenciatura nesta área é que os jovens voltarão a abraçar esta carreira, e eu vou bater-me por isso porque esta profissão é altamente gratificante.

Consegue ter tempo para si?

Consigo. Passo muito tempo com a minha família, com as minhas três filhas (a quarta já não está entre nós) e com os meus oito netos. Sempre que posso vou ao teatro, ao cinema e viajo. Adoro viajar. Gosto muito de viajar na Europa mas também gosto muito de ir para a Ásia. É nas viagens que faço que me inspiro para as minhas criações.

Tem valido a pena esta jornada?

Completamente. Sabe porquê? Porque o meu objectivo nunca foi material, mas sim gostar de fazer o que faço. Gosto muito do contacto com os outros e sinto-me muito feliz quando mimo as pessoas. Adoro quando aconselho ou mudo o visual a uma cliente e no final sinto que ela está mais feliz e mais segura de si para enfrentar o dia-a-dia.

Texto: Palmira Correia

Foto: cedida por Style Collection - Mag Publidition