Foi despedido? Sente-se invisível no seu local de trabalho? Não consegue arranjar emprego? Tem dificuldade em dizer que não ao que lhe é proposto e/ou em fazer ouvir a sua voz? Não consegue fazer uma boa gestão do tempo? Se respondeu que sim a uma ou mais destas questões está na altura de repensar a sua carreira. Perguntámos a Lourdes Monteiro, coach e career redesigner, o que fazer em cada uma das situações acima mencionadas e temos a(s) resposta(s).

Ao fim e ao cabo, o trabalho é uma parte (muito) importante das nossas vidas, pelo que convém conseguirmos ultrapassar os momentos em que nos sentimos a fracassar. Só assim seremos mais felizes. Mas, para isso, há que arregaçar as mangas e agir. "O contexto de trabalho está em mudança e isso exige de nós proatividade e aprendizagem ao longo da vida", defende a coautora do livro "Quero, posso e mudo de carreira", uma obra publicada pela editora Oficina do Livro.

Como agir em caso de despedimento

Foi despedido recentemente e não sabe o que fazer? Lourdes Monteiro defende que deve "apostar no autoconhecimento". "Face às experiências que já possui, identifique aquelas nas quais se sentiu mais motivado e criou impacto positivo. Estas são pistas para encontrar uma proposta de valor gratificante. Posteriormente a esta análise, deve observar o contexto de trabalho e identificar a quem essa proposta de valor é necessária", aconselha a especialista.

Como lidar com a falta de reconhecimento por parte das chefias e dos colegas

É um dos problemas mais comuns nos tempos atuais em muitas das organizações. Para Lourdes Monteiro, o reconhecimento laboral depende da perceção de cada pessoa. "Para alguns, pode corresponder ao feedback sobre o seu trabalho ou desempenho. Mas, para outros, à atribuição de novos desafios ou projetos que lhe permitam aprendizagem e crescimento, à alteração das suas funções ou progressão de carreira ou um misto de todas as anteriores", esclarece a coach.

"Todos nós apreciamos ter reconhecimento ou uma recompensa emocional pelo trabalho que desenvolvemos", sublinha a especialista. "Contudo, colocar a questão centrada nos outros desresponsabiliza-nos da nossa parte", acrescenta Lourdes Monteiro, que alerta ainda para um outro aspeto a ponderar. "Nada nos impede de procurar obter feedback sobre o nosso trabalho e de questionar a organização sobre as possibilidades que poderão existir", acrescenta a coach.

O que fazer quando não consegue arranjar emprego

Se está desempregado há já algum tempo e não consegue encontrar trabalho, deve ser "proativo e não reativo", diz a autora lusa. "Se cada um de nós apostar no seu autoconhecimento e no conhecimento do que o contexto necessita, poderá tomar decisões sobre as competências que poderá desenvolver em temas que são do seu interesse e de que o mercado precisa. Além disso, mais do que nunca, o contexto de trabalho está em mudança", constata Lourdes Monteiro.

"E isso exige de nós a tal proatividade e aprendizagem ao longo da vida, para que nos possamos manter ativos e equilibrados", refere a autora do livro "Quero, posso e mudo de carreira", que deixa ainda outro conselho aos (muitos) que se encontram nesta situação. "Eu recomendo, a par das competências técnicas, a aposta nas soft skills, como por exemplo, a inteligência emocional. Precisamos dela hoje mais do que nunca", garante ainda a especialista em career redesign.

"Os modelos vigentes no século XXI para a gestão da carreira implicam que cada um de nós seja capaz de tomar decisões sem referências e de lidar, depois, com o respetivo resultado, que envolve muitas vezes aprender a lidar com a frustração e a ausência de segurança", acrescenta ainda a especialista. Numa sociedade acelerada como a de hoje, nem sempre existe tempo para fazer essa reflexão, uma situação que, de acordo com Lourdes Monteiro, importa contrariar.

O que alterar para gerir melhor o tempo

Não conseguir gerir o tempo é outro dos dramas laborais dos tempos que correm. De acordo com Lourdes Monteiro, "o desafio da gestão de tempo tem por trás pensamentos assentes em paradigmas ou crenças que nem sempre funcionam a nosso favor". "É frequente pessoas competentes e a desempenhar funções técnicas serem promovidas a gestoras de equipas. Nessa nova função, sentem imediatamente o desafio da falta de tempo", refere ainda a especialista.

"Em muitos casos, isso acontece porque não delegam o trabalho nas equipas, uma vez que têm a convicção de que se forem elas a fazer o trabalho se faz mais depressa e com outro nível de qualidade", afirma Lourdes Monteiro. "Por isso, para ser capaz de gerir tempo eficazmente, é necessário identificar o que quer alcançar e quais os mecanismos de pensamento nos quais suportará as suas decisões não eficientes e atuar", exemplifica a especialista em career redesign.

Como atuar para fazer valer a sua opinião

A dificuldade em fazer valer a sua opinião é outra das queixas dos trabalhadores. "Muitas vezes, a resistência às opiniões de alguém no contexto de trabalho é consequência da forma como o profissional é visto. Se alguém é tido como alguém crítico, mas, na hora de colaborar, é o primeiro a sair de cena, é natural que, a partir de certo momento, ninguém queira escutá-lo", refere Lourdes Monteiro. "Devemos ser mais empáticos no local de trabalho", recomenda.

"Somos todos humanos, temos necessidades em comum e ter isso presente ajuda a uma forma de comunicação e de atuação mais cooperante. É claro, que, por vezes, quem toma decisões tem os seus próprios receios e tem em consideração a agenda da organização, o que tem influência na hora de validar opiniões. Isto não quer dizer que as nossas opiniões não sejam válidas mas, sim, que fazemos parte de um sistema que tem a sua dinâmica própria", refere a especialista.

O que fazer para conseguir dizer que não

A dificuldade em dizer que não é outra das queixas com que a especialista se tem deparado ao longo da carreira. "Dizer que não é fundamental à gestão da nossa vida e do nosso tempo", realça, contudo. "Muitas vezes", acrescenta, "receamos o impacto que o facto de dizermos que não possa ter na forma como somos vistos enquanto profissionais ou que se venha a traduzir em perdas de oportunidades", sublinha ainda a autora do livro "Quero, posso e mudo de carreira".

"Quando vivemos o nosso dia a dia em piloto automático, sem termos bem a noção do que é relevante para nós e no nosso papel profissional, é fácil ficar prisioneiro das expetativas dos outros", adverte mesmo Lourdes Monteiro. "Por isso, para conseguir dizer que não, é essencial analisarmos o significado e o impacto dos pedidos que recebemos", acrescenta, todavia, ainda a especialista em career redesign. Esse é outro dos passos a seguir para solucionar o problema.

"Se essa análise for feita tendo como referência as nossas responsabilidades na função e os objetivos relevantes para a equipa ou organização onde nos integramos, conseguiremos tomar decisões de forma mais objetiva", afiança a especialista. Nos dias de hoje, o medo de represálias na organização ou até mesmo o receio de vir a perder a sua principal fonte de rendimento leva muitos colaboradores das empresas a conformar-se com situações em que não o deveriam fazer.

Como conseguir progredir na carreira

Não subir na carreira é outra das (muitas) queixas dos trabalhadores atuais. De acordo com Lourdes Monteiro, essa situação acontece porque, cada vez mais, "as organizações estão centradas em eficiência e agilidade". "Como tal, as suas estruturas são cada vez mais achatadas e com menores possibilidades de progressão vertical na carreira", acrescenta ainda a coach. Os maiores custos económicos que as promoções implicam são outras das causas para o problema.

"A prática mais frequente nos dias de hoje acaba por se traduzir em movimentações horizontais de carreira, nas quais o profissional pode ter a possibilidade de aprender novas temáticas e alterar o seu âmbito de atuação. Contudo, sendo a possibilidade de movimentos de carreira dentro de uma organização limitadas, mais cedo ou mais tarde é natural que o profissional pondere sair da organização", refere ainda a autora do livro "Quero, posso e mudo de carreira".

O repensar da carreira que os novos tempos exigem

A revolução tecnológica tem mudado a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, logo, para Lourdes Monteiro, não é possível ser, hoje, um profissional atrativo sem que, em algum momento, se repense a carreira. "Felizmente que são cada vez mais aqueles que já compreenderam a importância de o fazer, com tempo e calma", constata a coach. "Dessa forma, potenciam-se opções e há espaço para falhar, aprender e progredir", garante a especialista.

"Já reagir não deixa grandes opções e, muitas vezes, gera-se a sensação de se estar num beco sem saída", defende ainda a autora do livro "Quero, posso e mudo de carreira", que aponta ainda uma outra estratégia a adotar. "A minha recomendação é pensar a carreira como um exercício contínuo que faça parte das nossas vidas profissionais e não apenas quando nos confrontamos com as dificuldades ou os tais becos sem saída", aconselha Lourdes Monteiro.

Texto: Rita Caetano