Há muito que se sabe que não rende ter as poupanças paradas no banco e que ter pais ricos ou ganhar o Euromilhões não é sorte que toque a todos. Como se pode ter e ganhar mais dinheiro? Esta é a resposta a que o especialista em investimentos Pedro Santos procura dar resposta no seu livro Aprender a Investir (edição Contraponto). O autor parte da sua experiência de vida para explicar ao leitor como em poucos anos, passou do “chapa ganha, chapa gasta” para ter praticamente metade do que necessita para se “reformar” antecipadamente.
No seu livro Pedro Santos aborda, de forma detalhada, os passos para o leitor começar a investir.

De Aprender a Investir publicamos o excerto abaixo:

A Prisão Invisível

Devido à falta de educação financeira e às crenças que se foram construindo, a maioria das pessoas vive no chamado ciclo de “chapa ganha, chapa gasta”. Vivem para satisfazer exclusivamente os seus desejos presentes, sem precaver minimamente o futuro. Basta pensar em quantos amigos seus têm um salário relativamente baixo, mas fazem questão de ter o último modelo do iPhone, mesmo que pago a várias prestações com juros; ou vão passar as férias de verão para um resort com tudo incluído em Punta Cana e ficam a pagar a viagem por dois anos; ou que compram um carro de gama alta para impressionar o vizinho e são obrigados a direcionar boa parte dos rendimentos mensais só para pagar o empréstimo. É o terrível hábito de viver um ou mais degraus acima das possibilidades e do bom senso. E o que é que isso faz? Não vão conseguir criar poupanças, o que lhes vai impedir de alcançar algum objetivo financeiro no futuro, como comprar casa própria, pôr os filhos num bom colégio, criar um complemento para a pensão da reforma – que, como sabemos, vai ser mínima – ou até alcançar a liberdade financeira.

Sem nos apercebermos, a sociedade coloca‑nos numa espécie de prisão invisível. Ela representa o ciclo sem fim de trabalhar cinco ou seis dias por semana, receber o ordenado, e, quando chega ao fim do mês, não ter sobrado absolutamente nada. Se quer comprar um carro ou um eletrodoméstico, é obrigado a endividar‑se.

Sobre o autor

Pedro Santos nasceu em Setúbal, em 1992. Licenciado em Gestão de Sistemas de Informação, trabalhou vários anos no setor da banca. Querendo mudar por completo a relação que tinha com o dinheiro – aos 25 anos estava com quatro dívidas e sem poupanças –, começou a estudar e a tirar vários cursos na área dos investimentos. Durante este caminho de transformação pessoal e financeira, criou o projeto digital Ser Riquinho, em 2020. Atualmente dedica-se em exclusivo à sua carreira como educador financeiro, na qual se destaca o trabalho que tem feito nas redes sociais e o curso “O Grande Investimento”.

Então, no próximo mês, volta a trabalhar, a ganhar dinheiro e a gastar tudo novamente. Por mais duro que trabalhe, por mais aumentado que seja no emprego, vai sempre gastar todo o dinheiro até ao final do mês. Isso significa que trabalha, mas não para si.

Trabalha apenas para pagar as contas. Apercebeu‑se agora disso, não foi?

Para sair dessa prisão só precisa de uma coisa: ter consciência de que está dentro dela e ter vontade de se libertar. Poucas são as pessoas que conseguem sair, pois o sistema está montado para que seja consumista e o obrigar a endividar‑se para manter o padrão de vida que criou. Todos os dias, nas redes sociais, na televisão, na rádio ou nas montras das lojas, somos confrontados com uma série de estímulos e gatilhos mentais que nos fazem querer comprar e gastar dinheiro. E sabe porque é que essas técnicas funcionam connosco? Porque gastar dinheiro nos faz libertar dopamina – o neurotransmissor relacionado com a sensação do prazer e da motivação. Muitas vezes, é uma sensação de curtíssima duração, mas o nosso cérebro está programado para ir atrás de comportamentos e situações que libertem dopamina no nosso organismo. Basta pensar em qualquer coisa de que goste: ouvir música, namorar, comer, fazer desporto, viajar – tudo isso nos enche de dopamina.

“Chapa ganha, chapa gasta”, a prisão invisível explicada pelo especialista em investimentos
créditos: Contraponto

Então, tal como uma pessoa viciada em tabaco anseia por nicotina e sente uma sensação de prazer e recompensa quando fuma, também alguém que toda a vida foi sujeito a estímulos constantes para gastar o seu dinheiro sente um prazer indescritível quando o faz. Eu também já estive dentro dessa prisão, alimentada a dopamina e que nos faz tomar muitas decisões financeiras erradas, mas, a certo ponto, quando me deparei com a situação de querer morar com a minha mulher, mas de não ter praticamente dinheiro nenhum de parte para dar esse passo, decidi reprogramar os meus pensamentos em relação ao dinheiro e ao meu estilo de vida.

A partir daí, o poder do hábito e da disciplina levaram‑me um estado em que sinto muito mais dopamina quando vejo dinheiro a entrar na conta e o meu património a aumentar. Mas, atenção, tudo com conta, peso e medida. Tenho a perfeita noção de que não posso viver uma vida 100% frugal, em que abdico de todos os meus desejos presentes em prol de alcançar a liberdade financeira o mais rapidamente possível. A vida é feita de equilíbrios e a balança entre poupar/gastar é muito sensível.

Há uns anos, quando comecei essa reprogramação mental, ouvi falar pela primeira vez no movimento FIRE (“Financial Independence, Retire Early”), ou IFRA, em português («Independência Financeira e Reforma Antecipada»). A sua grande máxima é que o luxo máximo não são os bens de luxo, mas o tempo e a liberdade de não ter de trabalhar por dinheiro. Para se poder reformar antecipadamente e deixar de trabalhar por obrigação, a receita deste movimento consiste em eliminar despesas supérfluas e praticar um consumo consciente, de forma a poupar e investir mais de 50% do salário. Ou seja, exige um estilo de vida bastante minimalista e frugal.

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Em Portugal, a taxa de poupança média das famílias, em 2022, situou‑se nos 6,2%.1 Um número muito longe do objetivo do FIRE, que se deve sobretudo ao facto de as pessoas viverem na tal prisão invisível. Com uma mentalidade reprogramada e com uma correta gestão das finanças pessoais, esse número poderia ser maior. Mas, sinceramente, 50% ou mais de poupança sempre me pareceu um número bastante irrealista, sobretudo para quem vive num país em que o salário médio é bastante baixo, quando comparado com o custo de vida.

Ao início, o meu objetivo era poupar 30% dos meus rendimentos. Para o conseguir fazer, além de cortar em muitos gastos supérfluos, que efetivamente tinha, como uma conta gigante de Uber Eats todos os meses ou uma mensalidade de mais de 50€ num ginásio ao qual pouco ia, tive primeiro de liquidar as dívidas que tinha. Foi sobretudo o facto de já não ter de pagar quase 300€ por mês de crédito automóvel ou 100€ de cartão de crédito que fez disparar a minha capacidade de poupança e atingir o objetivo. A partir desse ponto, se apertasse bastante o cinto, talvez conseguisse chegar aos 50%. Mas a verdade, e pelo bem da minha sanidade mental e da minha relação, é que nunca pus sequer essa possibilidade.

Durante cinco ou seis meses, este sistema até poderia funcionar bem. O problema é que a longo prazo seria uma vida aprisionada e insustentável. Tinha saído da prisão invisível e ia entrar noutra.

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Os amigos iam‑se afastando aos poucos, porque teria de rejeitar muitos convites, a namorada começava a chatear‑se, porque queria ir viajar ou jantar fora e eu preferia não sair de casa, tudo o que estivesse ao meu alcance para gastar o menos possível. Os problemas iam escalando de tal forma que a minha sanidade mental, a certo ponto, iria rebentar. Por isso é que, na minha opinião, é necessário haver um equilíbrio perfeito entre gastar e poupar.

Gastar na medida certa, para aproveitar os prazeres da vida, e poupar, para poder atingir os objetivos financeiros e, como vamos ver no ponto seguinte, conseguir lutar contra certos vilões. Aquilo que fiz, para conseguir conciliar esse equilíbrio com o desejo de alcançar a liberdade financeira antes dos 50 anos, foi tentar maximizar os 30% de poupança, aumentando os meus rendimentos. Quanto mais ganhar, maior a poupança se torna, apesar de a taxa se manter inalterada. O sucesso do Ser Riquinho e o facto de ter sido constantemente aumentado enquanto trabalhava como informático foram cruciais para que, em tão pouco tempo, já tenha alcançado os 40% de património investido de que preciso para ser livre financeiramente.

Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.