Robert Toru Kiyosaki, norte-americano, nascido em 1947 é empresário, investidor e escritor, autor do livro Pai Rico, Pai Pobre. A obra, inicialmente publicada em 1997, tornou-se um êxito traduzido em 51 línguas, em 109 países. Vinte e cinco anos volvidos sobre o lançamento deste livro que trata das finanças pessoais através de parábolas, os escaparates nacionais ganharam, para além do título original, duas novas edições com a chancela Vogais (da casa editorial Penguin Random House): Pai Rico, Pai Pobre Para Jovens e Pai Rico, Pai Pobre – Desenvolva a sua Inteligência Financeira.
Entre as lições que Robert T. Kiyosaki desenvolve em Pai Rico, Pai Pobre, estão os princípios do valor da inteligência financeira; o de que as empresas gastam antes e pagam impostos depois, enquanto as pessoas pagam impostos primeiro; a de que as empresas são entidades artificiais que qualquer um pode usar, embora os pobres geralmente não o saibam fazer.
Robert T. Kiyosaki desfaz o mito de que é preciso ter um salário elevado para enriquecer - especialmente num mundo onde a tecnologia, os robôs e a economia global estão a mudar as regras. Ensina porque adquirir e criar ativos pode ser mais importante para o seu futuro do que um grande salário.
O autor recorda-nos porque não podemos depender do sistema escolar para ensinar os nossos filhos sobre dinheiro - e por que razão essa competência fundamental para a vida é mais importante hoje do que nunca. Explica o que deve ensinar aos seus filhos sobre dinheiro - para que possam estar reparados para os desafios e oportunidades do mundo de hoje e desfrutar da vida rica que merecem.
De Pai Rico, Pai Pobre publicamos o excerto abaixo:
Eu tive dois pais: um rico e um pobre. Um era muitíssimo educado e inteligente. Tinha um doutoramento e completara os quatro anos de trabalho de pós‑graduação em menos de dois anos. Em seguida ingressou na Universidade de Stanford, na Universidade de Chicago e na Northwestern University para realizar os seus estudos avançados, sempre com bolsas completas. O outro pai nunca completou o oitavo ano.
Ambos foram muito bem‑sucedidos nas suas carreiras, trabalhando com afinco durante toda a vida. Ambos auferiam rendimentos substanciais.
E, no entanto, um deles sempre se debateu financeiramente. O outro tornou‑se o homem mais rico do Havai. Um morreu deixando dezenas de milhões de dólares à família, a obras de caridade e à Igreja. O outro deixou contas para pagar quando morreu.
Ambos eram fortes, carismáticos e influentes. Ambos me ofereceram conselhos, mas não ofereciam os mesmos conselhos. Ambos acreditavam fortemente na educação, mas não recomendavam o mesmo plano de estudos. Se eu tivesse tido apenas um pai, teria de aceitar ou rejeitar os seus conselhos. Ter dois pais ofereceu‑me a possibilidade de contrapor pontos de vista: o de um homem rico e o de um homem pobre.
Em vez de, simplesmente, aceitar ou rejeitar um deles, dei por mim a pensar mais, a comparar, e depois a escolher por mim. O problema é que o homem rico ainda não era rico, e o homem pobre ainda não era pobre. Ambos estavam no início das suas carreiras, e ambos se debatiam com o dinheiro e as famílias. Mas tinham pontos de vista muito diferentes em relação ao dinheiro.
Por exemplo, um pai dizia: “O amor ao dinheiro é a raiz de todo o mal”. O outro dizia: “A falta de dinheiro é a raiz de todo o mal”.
Quando eu era jovem, ter dois pais fortes a influenciar‑me era difícil. Queria ser um bom filho e ouvi‑los, mas os dois pais não diziam as mesmas coisas. O contraste nos seus pontos de vista, em especial em relação ao dinheiro, era de tal modo extremo que fui ficando curioso e intrigado. Comecei a pensar durante longos períodos de tempo sobre o que ambos diziam.
Grande parte do meu tempo em privado era passado a refletir, a fazer a mim mesmo perguntas como: “Porque é que ele disse isso?” e depois a fazer a mesma pergunta perante a afirmação do outro pai. Teria sido muito mais simples dizer: “Sim, ele tem razão. Concordo com isso”. Ou rejeitar simplesmente o ponto de vista ao dizer: “O velho não sabe do que está a falar”. Em vez disso, ter dois pais que eu amava obrigou‑me a pensar e, em última análise, a escolher a forma de pensamento por mim mesmo. Enquanto processava, escolher por mim mesmo tornou‑se uma coisa mais valiosa a longo prazo do que simplesmente aceitar ou rejeitar um único ponto de vista.
Uma das razões pelas quais os ricos ficam mais ricos, os pobres ficam mais pobres, e a classe média se debate com dívidas é que o tema do dinheiro é ensinado em casa, não na escola. Grande parte de nós aprende sobre dinheiro com os nossos pais. Então o que podem os pais pobres dizer aos seus filhos sobre dinheiro? Dizem simplesmente:
“Fica na escola e estuda muito”. O filho pode terminar com excelentes notas, mas com a programação e a mentalidade financeira de uma pessoa pobre.
Infelizmente, o dinheiro não é algo que se ensine nas escolas. As escolas concentram‑se no rendimento escolar e nas competências profissionais, mas não nas competências financeiras. Isto explica a razão pela qual os banqueiros inteligentes, os médicos e os contabilistas que obtiveram excelentes notas se podem debater financeiramente durante toda a sua vida. A nossa dívida nacional cada vez mais alta deve‑se em grande medida a políticos e funcionários de governo altamente qualificados que tomam decisões financeiras com pouca ou nenhuma formação em relação ao tema do dinheiro.
Hoje pergunto‑me frequentemente o que irá acontecer quando temos milhões de pessoas que necessitam de assistência médica e financeira. Irão depender das suas famílias ou do governo para apoio financeiro. O que irá acontecer quando a Medicare e a Segurança Social ficarem sem dinheiro? Como irá sobreviver uma nação em que o ensino às crianças sobre dinheiro continua a ser deixado aos pais, a maior parte dos quais serão, ou já são, pobres?
Por ter tido dois pais influentes, aprendi com ambos. Tinha de pensar sobre os conselhos de cada um dos meus pais e, ao fazê‑lo, obtive uma perspetiva valiosa sobre o poder e o efeito dos pensamentos sobre a nossa vida. Por exemplo, um pai tinha por hábito dizer: “Não posso pagar”. O outro pai proibia que fossem utilizadas tais palavras. Insistia em que perguntasse: “Como poderei pagá‑lo?”. Um é uma afirmação e o outro uma pergunta. Um retira‑nos a responsabilidade e o outro obriga‑nos a pensar. O meu pai que em breve se tornaria rico explicaria que, ao dizer automaticamente as palavras “Não o posso pagar”, o nosso cérebro deixa de trabalhar. Ao fazer a pergunta “Como poderei pagá‑lo?”, o cérebro é posto a trabalhar. Ele não dizia, com isso, que devíamos comprar tudo o que queremos. Era um fanático sobre o exercício da mente, o computador mais poderoso do mundo. Ele dizia: “O meu cérebro fica mais forte todos os dias porque o exército. Quanto mais forte fica, mais dinheiro posso fazer”. Ele acreditava que dizer automaticamente “Não posso pagar” era sinal de preguiça mental.
Embora ambos os pais trabalhassem com afinco, apercebi‑me de que um pai tinha por hábito colocar o seu cérebro a dormir no que dizia respeito às finanças, e o outro tinha por hábito exercitar o seu cérebro. O resultado a longo prazo foi que um pai se tornou mais forte financeiramente, e o outro se tornou mais fraco. Não é muito diferente de uma pessoa que vai ao ginásio para fazer exercício de forma regular e outra que se senta no sofá a ver televisão. O exercício físico adequado aumenta a probabilidade de ter boa saúde e o exercício mental adequado aumenta as suas hipóteses de riqueza.
Os meus dois pais tinham atitudes opostas e isso afetou a forma como pensavam. Um pai achava que os ricos deviam pagar mais impostos para cuidar dos que tinham menos sorte. O outro dizia: “Os impostos castigam os que produzem e recompensam os que não produzem”.
Um pai recomendava: “Estuda com afinco para que possas encontrar uma boa empresa para trabalhar”. O outro recomendava: “Estuda com afinco para poderes encontrar uma boa empresa para comprar”.
Um dizia: “A razão por que não sou rico é porque vos tenho, meus filhos”. O outro dizia: “A razão por que tenho de ser rico é porque vos tenho, meus filhos”.
Um encorajava‑nos a falar sobre dinheiro e negócios à mesa do jantar, ao passo que o outro proibia que o tema do dinheiro fosse discutido durante a refeição.
Um dizia: “No que diz respeito a dinheiro, joga pelo seguro. Não arrisques”. O outro dizia: “Aprende a gerir o risco”.
Um acreditava: “A nossa casa é o nosso maior investimento e o nosso maior ativo”. O outro acreditava: “A minha casa é um risco, e se a tua casa for o teu maior investimento, estás em apuros”.
Ambos pagavam as contas a tempo, no entanto um pagava primeiro as contas, ao passo que o outro as pagava no fim.
Um acreditava que uma empresa ou governo deviam cuidar de si e das suas necessidades. Estava constantemente preocupado com aumentos, planos de reforma, benefícios médicos, baixa médica, dias de férias, e outras regalias. Ficou impressionado quando dois dos seus tios que se alistaram no exército ganharam um pacote de reforma e outros direitos que lhes durariam toda a vida após vinte anos de serviço ativo. Ele adorava a ideia de obter benefícios médicos e os privilégios PX que o exército oferecia aos seus reformados. Também adorava o sistema disponível na universidade. A ideia de proteção no trabalho para toda a vida e de benefícios laborais parecia mais importante, por vezes, do que o trabalho. Ele dizia frequentemente: “Trabalhei com afinco para o governo, e tenho direito a estes benefícios”.
O outro acreditava na autossuficiência financeira total. Falava contra a mentalidade dos que achavam que tinham direitos e como isso criava pessoas fracas e financeiramente dependentes. Era enfático em relação a ser financeiramente competente.
Um pai debatia‑se para poupar alguns dólares. O outro criava investimentos. Um pai ensinou‑me a escrever um currículo impressionante para que eu pudesse encontrar um bom emprego. O outro ensinou‑me a escrever planos de negócio e financeiros fortes para que eu pudesse criar empregos.
Ser o produto de dois pais permitiu‑me o luxo de observar os efeitos de diferentes pensamentos sobre a vida. Apercebi‑me de que as pessoas dão, de facto, forma às suas vidas através dos seus pensamentos.
Por exemplo, o meu pai pobre sempre disse: “Nunca serei rico”. E essa profecia tornou‑se realidade. O meu pai rico, por outro lado, sempre se viu como rico. Dizia coisas como: “Sou um homem rico, e as pessoas ricas não fazem isso”. Mesmo quando estava absolutamente falido depois de um importante revés financeiro, continuava a referir‑se a si mesmo como um homem rico. Defendia‑se dizendo: “Há uma diferença entre ser pobre e estar falido. Estar falido é temporário. Ser pobre é eterno”.
O meu pai pobre dizia: “Não estou interessado em dinheiro”, ou “O dinheiro não importa”. O meu pai rico dizia sempre: “Dinheiro é poder”.
O poder dos nossos pensamentos poderá nunca ser medido ou apreciado, mas tornou‑se óbvio para mim, enquanto jovem, que era importante estar consciente dos meus pensamentos e de como me expressava. Apercebi‑me de que o meu pai pobre era pobre, não devido à quantidade de dinheiro que ganhava, que era significativa, mas devido aos seus pensamentos e ações. Enquanto jovem com dois pais, tornei‑me fortemente consciente da necessidade de ser cauteloso sobre que pensamentos escolhia adotar. Deveria dar ouvidos ao meu pai pobre ou ao meu pai rico?
Embora ambos tivessem um respeito tremendo pela educação e a aprendizagem, discordavam sobre aquilo que achavam que era importante aprender. Um queria que eu estudasse com afinco, que tirasse uma licenciatura, e conseguisse um bom emprego para ganhar dinheiro. Queria que eu estudasse para me tornar um profissional, um advogado ou um contabilista, e que fosse para a faculdade de negócios para tirar um MBA. O outro encorajou‑me a estudar para ser rico, para compreender como o dinheiro funciona, e para aprender como pô‑lo a funcionar para mim. “Eu não trabalho por dinheiro!” eram palavras que ele repetia constantemente. “O dinheiro trabalha para mim!”
Aos 9 anos, decidi dar ouvidos e aprender com o meu pai rico sobre dinheiro. Ao fazê‑lo, optei por não ouvir o meu pai pobre, pese embora fosse este o que tinha estudos universitários.
Uma lição de Robert Frost
Robert Frost é o meu poeta preferido. Embora goste muito dos seus poemas, o meu preferido é The Road Not Taken (O Caminho Não Percorrido). Utilizo a sua lição quase diariamente.
O caminho não percorrido
Num bosque amarelo, divergiam dois caminhos,
Lamento não poder viajar por ambos
E ser apenas um viajante, ergui‑me demoradamente
E segui um com o olhar até onde me foi possível
Até onde ele se curvava por entre a vegetação;
Depois tomei o outro, igualmente belo,
Mas oferecendo talvez uma vantagem,
Pois estava coberto de uma relva que reclamava por ser pisada
Embora no que a serem percorridas dissesse respeito
Parecessem igualmente gastos,
E naquela manhã ambas se encontrassem
Cobertos de folhas que pés alguns tinham enegrecido.
Oh, guardei o primeiro para outro dia!
Mas sabendo como um caminho conduz a outro,
Duvido que alguma vez possa regressar.
Di‑lo‑ei com um suspiro
Daqui a anos e anos;
Os dois caminhos divergiam num bosque, e eu…
Eu segui pelo menos percorrido,
E isso fez toda a diferença.
E isso fez toda a diferença.
Com o passar dos anos, refleti frequentemente sobre o poema de Robert Frost. Escolher não dar ouvidos aos conselhos do meu pai altamente instruído e à sua atitude sobre o dinheiro foi uma decisão difícil, mas foi uma decisão que moldou o resto da minha vida.
A partir do momento em que escolhi quem deveria ouvir, a minha educação sobre dinheiro começou. O meu pai rico ensinou‑me ao longo de trinta anos até eu ter chegado aos 39 anos. Parou quando se apercebeu de que eu sabia e compreendia plenamente aquilo que ele tinha estado a tentar incutir no meu cérebro frequentemente teimoso.
O dinheiro é uma forma de poder. Mas o que é mais poderoso é a educação financeira. O dinheiro vai e vem, mas se tiver educação sobre como funciona o dinheiro, irá ganhar poder sobre ele e pode começar a construir riqueza. A razão pela qual o pensamento positivo só por si não funciona é porque a maior parte das pessoas foi para a escola e nunca aprendeu como funciona o dinheiro, por isso passam a vida a trabalhar pelo dinheiro.
Como eu tinha apenas 9 anos quando comecei, as lições que o meu pai rico me ensinou foram simples. E, no fim de contas, estas resumiam‑se a apenas seis lições principais, repetidas ao longo de trinta anos. Este livro é sobre essas seis lições, apresentadas de uma forma tão simples quanto possível, com a mesma simplicidade com que o meu pai rico mas apresentou. As lições não pretendem ser respostas, mas linhas de orientação que o irão apoiar e aos seus filhos e respetivas famílias para se tornarem ricos independentemente do que acontece num mundo de crescente mudança e incerteza.
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