O local de trabalho trata-se de um espaço propício para educar e informar os indivíduos sobre a saúde mental, para identificar problemas e modos de prevenir o desenvolvimento de dificuldades a este nível.
A investigação tem demonstrado uma subida substancial dos custos sociais e económicos relacionados com a saúde mental nas últimas décadas. De forma global, este aumento de custos tem-se feito sentir tanto ao nível individual como ao nível das organizações. O stress agudo, ansiedade e depressão revelam-se estar associadas negativamente com o desempenho profissional, a produtividade, criatividade e motivação dos trabalhadores e logo, trazem prejuízos ao nível dos serviços prestados e dos rendimentos da organização.
Ainda que haja múltiplas e variadas causas e fatores de risco para o desenvolvimento de dificuldades psicológicas, um local de trabalho que também não respeite a singularidade, equidade, segurança e dignidade humana é em si mesmo promotor destas dificuldades. Embora alguns esforços já tenham sido feitos pelas organizações para tal combater, a sobrecarga de trabalho, os contactos interpessoais, possíveis conflitos e estabelecimento de expetativas irrealistas em relação a si e à organização, sobressaem-se ainda como fatores de stress.
Por exemplo, em Portugal, assim como noutras culturas semelhantes, é raro encontrar pessoas que saem à hora estabelecida no horário de trabalho. Através da chefia e das condutas implementadas, é passada a ideia de que o trabalhador que faz mais horas e sacrifica o seu tempo pessoal é quem “veste a camisola”, produz mais resultados e está motivado. Sendo Portugal um dos maiores consumidores de antidepressivos, dúvidas surgem se, a par com outros fatores, as organizações estão a ser espaços que salvaguardam a saúde mental a curto e longo prazo dos seus colaboradores.
O tempo em que vivemos tem representado um período de alterações repentinas e bruscas também a este nível. Novos métodos de trabalho e de contacto, flexibilidade e rapidez na resposta foram e são exigidos de forma sistemática aos trabalhadores. Torna-se primordial que, mais uma vez, as organizações, reflitam sobre políticas e medidas de intervenção e prevenção da saúde mental dos trabalhadores, que atentem à qualidade de vida do trabalhador, ao seu bem estar a curto e longo prazo. Promover condições de trabalho que respeitem a singularidade do indivíduo em todas as suas dimensões, investir na educação para a saúde mental – formações, workshops, etc. -, construir programas de desenvolvimento de competências para lidar com dificuldades psicológicas, estabelecer apoios financeiros e protocolos com os serviços especializados, reduzir o estigma que possa existir relativamente aos problemas a este nível e desenvolver programas de re-integração são propostas a ter em atenção.
O trabalhador também tem a responsabilidade de estar atento à sua saúde mental e adotar atitudes que o ajudem a prevenir o desenvolvimento de dificuldades maiores a médio e longo prazo. Aqui ficam algumas das estratégias que podem ajuda-lo a lidar com o stress relacionado com o trabalho:
1. Identifique fatores de stress. Esteja atento e anote as situações que, de forma frequente, despoletam maior stress no trabalho: incluir o local, ambiente, pessoas presentes, as funções que estas desempenham e as circunstâncias. Ainda que estas possam vir a parecer diferentes entre si, tente perceber o que pode estar subjacente a todas elas. De seguida, tente perceber quais as suas tendências de resposta a essas mesmas situações, os pensamentos que lhe atravessam a mente, o que sente e quais os comportamentos que adota.
2. Desenvolva respostas mais saudáveis. Substitua as habituais respostas ao stress - como o tabaco, álcool, cafeína, fast food ou horas a fio nas redes sociais - por atividades mais saudáveis , como é o caso de desporto, leitura, ver uma série de que goste, ir a concertos, cinema, teatro, jogar jogos em família, etc. Certificar-se que tem algum sono de qualidade também é importante. Minimizar o uso de atividades estimulantes à noite, como o sistemático uso de tecnologias antes de ir dormir, pode ajudar.
3. Estabeleça limites. Não estar ligado e disponível 24 horas por dia. Estabelecer limites entre o espaço e tempo que é para a vida pessoal, e o que é exclusivo para o trabalho – exemplo, não verificar o e-mail em casa, não estar com o telefone às refeições, não responder fora do horário de trabalho.
4. Tire tempo para desconectar. Recupere a sua energia com tempo de qualidade para si e para as suas relações, tanto no seu dia a dia, como em períodos mais prolongados de tempo, como são as férias. Desconecte-se por completo e atente às suas necessidades ou projetos adiados. Aprenda técnicas de relaxamento, como a meditação, respiração abdominal ou mindfulness que o treinam a estar no momento.
5. Comunique com a sua chefia ou colegas de trabalho. Um bom líder deve incentivar um ambiente que promova a comunicação. Estabeleça conversas abertas sobre como que se tem vindo a sentir, com o intuito de em conjunto, encontrar soluções, dentro do que é possível, para gerir o cansaço e ajuste expectativas – o que de si é esperado e o que pode esperar-, possibilidades de partilhar/delegar trabalho, clarificar quais os recursos ao alcance ou simplesmente alterar o espaço físico em que trabalha podem contribuir para regular melhor o que stress.
6. Procure ajuda especializada. A par com os recursos sociais que poderá ter na sua vida pessoal, procure ajuda especializada se assim for necessário. Hoje em dia, já são algumas as organizações que estabelecem protocolos com serviços de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. Se não, pergunte aos seus contactos ou pesquise na Internet o que está disponível para o ajudar.
Sofia Sousa de Macedo - Psicóloga clínica
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