Até que ponto é que a frequência e/ou o conteúdo dos elogios que recebemos (ou que ficam por colher) contribuem para o nosso bem-estar afetivo, sucesso profissional e desenvolvimento pessoal?

Bastante, consideram os especialistas. «Muitas vezes, pessoas muito apáticas em relação à tomada de decisões não foram elogiadas no passado, são pessoas cujas acções nunca foram reconhecidas», refere Teresa Marta.

«Esta situação pode prejudicar o seu desempenho profissional (medo de tomar decisões, de inovar e/ou de não ser reconhecido) e também limitar relacionamentos interpessoais equilibrados», conta ainda a coach. Alguém que não recebe, por norma, elogios merecidos no momento certo acaba por precisar que lhe digam «permanentemente que está tudo bem, que fez bem. Desconfia da sua capacidade para fazer os outros felizes», afirma.

«E, assim, evita agir espontaneamente e dizer o que sente com autenticidade, com receio de que o outro critique ou a abandone», adianta ainda Teresa Marta. Vítor Rodrigues, psicólogo clínico, vai ainda mais longe. «Pessoas elogiadas sentem mais facilmente que têm valor», acrescenta. Saiba, então, como oferecer, receber e usar a ferramenta que confirma o que sentimos. Que temos (muito) valor! Ou, pelo menos mais, do que aqueles que nos tendem a atribuir.

Aplausos que (nos) fazem crescer

A ausência de elogio na infância, alerta Teresa Marta, «origina adultos que passam pelas suas vitórias como algo que era apenas sua obrigação». Ao elogiar uma criança estamos a mostrar-lhe afeto e atenção, mas há que fazê-lo bem. «Bons elogios não se centram em produtos (És muito inteligente) mas em processos (Estás a fazer grandes progressos nesta matéria)», diz Vítor Rodrigues.

«A investigação», relata o psicólogo, «mostra que as crianças elogiadas por qualidades fixas, do tipo És muito inteligente, reagem pior a insucessos momentâneos, como uma má nota escolar, do que as que são elogiadas pelo esforço e progressos. Estas desenvolvem o sentimento de que os altos e baixos são momentos de aprendizagem ou que o fracasso pode ser um desafio», constata.

Também a banalização do elogio contribui para a formação de adultos frágeis ou egocêntricos. Vítor Rodrigues explica porquê. «Se transmitimos a uma criança que tudo nela é bom, não estaremos a ajudá-la, mas a criar um adulto com tendência a pensar que pode fazer tudo ou, por outro lado, incapaz de lidar com a crítica, mesmo quando construtiva», refere ainda o especialista.

Sabe receber elogios?

Em relação a esta questão, existe uma regra principal que deve, a todo o custo, procurar cumprir. Receba-os sem falsas modéstias. «Recusar pode transmitir insegurança, seja a nós mesmos ou aos outros. Dizer um simples obrigado quando alguém manifesta apreço por algo que fizemos ou por alguma característica pessoal é suficiente», aconselha mesmo Vítor Rodrigues.

O lugar do autoelogio

E se, normalmente, ficamos à espera que nos reconheçam valor, elogiarmo-nos a nós próprios também é válido. «Se fazemos algo bem feito, é bom saber encontrar satisfação interior nesse facto, reconhecendo-o e encorajando-nos a nós mesmos», afirma o psicólogo clínico Vítor Rodrigues. Para evoluirmos, precisamos de refletir sobre o nosso comportamento, saber destrinçar o que fizemos bem ou mal.

«A capacidade de sentir culpa, se não for exagerada, pode ser útil, assinalando para nós mesmos quando fazemos alguma coisa errada que não queremos repetir. Por outro lado, o sentimento de satisfação, por algo bem feito ou bem pensado ou sentido, ajuda-nos a ganhar consciência do nosso desenvolvimento pessoal», afirma. E elogiarmo-nos em frente a outras pessoas também pode ser feito, desde que tenhamos alguns cuidados que evitam que nos tornemos alvo de troça ou de inveja.

A ter em atenção

Um estudo da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos da América, concluiu que elogios exagerados prejudicam crianças com baixa autoestima. «Se lhe dissermos que fez algo incrivelmente bem, ela vai achar que terá de fazer sempre tudo incrivelmente bem e, com receio de não o conseguir, evitará novos desafios», explicou um dos autores.

Elogie os outros

Teresa Marta, coach, aponta as regras para elogios na hora e no tom certos:

- Elogie de imediato as situações que reconhece como merecedoras. Elogios extemporâneos perdem eficácia.

- Não receie perder o seu poder pessoal por elogiar.

- Expresse claramente a atitude, o comportamento ou a competência que está a elogiar.

- Faça o elogio diretamente à pessoa. Não peça a alguém que o faça por si.

- Faça-o sem rodeios ou palavras exageradas, senão pode parecer forçado.

- Elogie espontaneamente, sem pedir nada em troca.

- Foque o olhar na pessoa que está a elogiar prestando-lhe atenção genuína.

- Não abandone o outro assim que o elogia. Dê-lhe tempo para reagir.

- Pratique o elogio começando por reconhecer os seus próprios pontos fortes. Elogie-se.

Como lidar com as conquistas dos filhos

Se é importante elogiar os adultos, não é de somenos importância parabenizar também os mais pequenos. Eis como deve proceder, em cinco passos:

1. Diga à criança o quanto aprecia as suas capacidades, mesmo quando não atinge alguns dos objetivos propostos.

2. Reforce-a pelas atitudes positivas, elogiando-a sem lhe oferecer de bens materiais.

3. Elogie mais quando as atitudes da criança envolvem o respeito, o amor, a aceitação das diferenças, a entreajuda e a bondade, em detrimento das capacidades intelectuais.

4. Quando ela não merece ser elogiada, não o faça. Não se sinta culpada por isso. Explique-lhe, no entanto, o que esperava como sendo a atitude correta na situação em causa e porquê.

5. Nunca elogie uma criança comparando-a com outras.

Texto: Paula Barroso com Vítor Rodrigues (psicólogo clínico e psicoterapeuta) e Teresa Marta (coach para a coragem e CEO da Academia da Coragem)