Segundo o dicionário da língua portuguesa , a negação é “afirmar que (uma coisa) não existe ou não é verdadeira.”  A negação é um mecanismo de defesa do ego. Segundo Freud, a negação é uma qualidade lógica do pensamento que só pode ter sentido no sistema  pré-consciente-consciente.

Todos nós, em fases extremamente dolorosas das nossas vidas, recorremos à negação. Por exemplo, quando recebemos a notícia de uma fatalidade, morte de um ente querido, doença crónica, traição no relacionamento romântico, acidente, etc. O choque é tão intenso que a primeira reação é negar a realidade, afirmando: “Não é possível…não acredito. Isto está mesmo a acontecer ou estou a sonhar?”

O sistema da negação pode ser um mecanismo psicológico positivo que nos permite recusar a realidade dolorosa, cobrindo as "feridas", e assim continuar em frente, efeito idêntico a um “amortecedor” psicológico. A verdade é dolorosa porque abre a porta das "feridas" que estão encobertas pelas mais diversas formas de racionalização e justificação e, em último caso, mentiras.

Após um período de choque, é perfeitamente legítimo recusar a realidade extremamente dolorosa, todavia, precisamos de quebrar este ciclo, e recomeçar a viver, enquadrados e sincronizados, com a verdade. Caso contrário, podemos cair na tendência de viver na mentira, para evitar e recusar aceitar a dor da perda.

Segundo o Dr. Scott Peck, a tendência para evitar problemas e o sofrimento emocional é a causa número um da maioria das doenças mentais. Alguns de nós podem ir a mecanismos extremos para recusar e evitar problemas, ultrapassando o limite daquilo que podemos considerar saudável e aconselhável. Quando a dor é demasiada intensa, a mente racional começa a falhar. Perdemos a capacidade de auto controlo, ficamos impotentes perante as nossas emoções dolorosas, sentimo-nos perdidos, desorientados e confusos.

Segundo o Dr. Carl Jung , “a neurose é sempre um substituo do sofrimento legítimo.”

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Todavia, sabemos que existe um limite e um prazo para a dor, porque o substituto (amortecedor psicológico), que alivia o sofrimento, pode revelar-se disfuncional, refiro me ao consumo de drogas, álcool, comida (hiper-calórico), sexo, relacionamentos de dependência, jogo, compras, etc.

Quando conseguirmos sarar algumas feridas não iremos precisar de negar e/ou  mentir mais. Enfrentamos as neuroses e aprendemos a suportar o sofrimento legítimo, a fim de, evoluirmos em vez de cristalizarmos. Finalmente, enfrentamos a dor, a incerteza e a impotência, e assim, desenvolvemos a resiliência, característica de uma mente saudável.

Precisamos de incutir mecanismos necessários para conseguirmos a saúde mental e espiritual através de:

- Praticar a honestidade e viver de acordo com a realidade.

- Adiar o prazer imediato identificando os impulsos que recusam a verdade.

- Assumir a responsabilidade pelos pensamentos, sentimentos e comportamentos em vez de procurar “bode expiatório” para a nossa frustração, medo, vergonha tóxica e culpa.

- Recorrer com frequência ao feedback, isto é, recorrer a pessoas de confiança que o/a ajudem a orientar o rumo da sua vida, em vez de recorrer somente ao seu ego.

Dica: Não peça ajuda a pessoas que lhe vão dizer aquilo que você precisamente quer ouvir. Vá mais longe, enfrente o medo do desconhecido e seja honesto/a, o mais possível, mesmo que o feedback seja “Não” quando você quer ouvir um "Sim". Enfrente as crenças disfuncionais e irracionais e seja resiliente.

João Alexandre Rodrigues

Addiction Counselor

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