No final do dia há sempre qualquer coisa que falha. A incerteza, a vida que muda a cada instante. No meu leigo e recente caminho de mãe, tenho confirmado e vivenciado uma coisa nestes dois primeiros meses de 2018, não adianta a maior fortuna do mundo, a maior alegria, quando não há saúde, e então nos nossos filhos, é uma dor lancinante.
Mudanças? Muitas. Certezas? Poucas. Se as poucas certezas que tenho são as mais importantes na minha vida? São. Pronto, então não me posso queixar muito. Se há coisa que tenho treinado ao longo dos tempos é a queixar-me menos, já passei por tanta situação-limite na minha vida, que a minha resiliência por vezes assumiu contornos de revolta. Mas não estou destinada a ser daquelas pessoas amarguradas e incapazes de contrariar o meu lado menos bom. Eu tenho em mim tudo aquilo de que preciso, o gatilho para a mudança. E caramba quando dou o melhor de mim, sou a melhor pessoa do mundo, aliás todos nós somos capazes disso, eu não sou especial de corrida.
Tive mudanças profissionais, levei o meu filho pela primeira vez ao Infantário, descobri que tinha um falso diagnóstico médico que tantos anos me atormentou e moldou, e descobri que tanto o meu lado maternal como o empreendedor anseiam por novos filhos para amar.
Ano 2018, deixa-me só dizer-te uma coisa, 1-0 para ti, mas nada está fora do baralho e o poder está todo na nossa mente (já sabia, mas reafirmei). Começámos com o pé esquerdo, caímos redondamente sem amparo no chão, mas sabes que mais? Erguemo-nos mais uma vez, e mais fortes do que nunca.
No outro dia estava nostalgicamente a pensar sobre a vida e a sua finitude, naqueles momentos que nos assoberbam e nos fazem pôr “pausa” na vida. Observava a minha avó, as suas mãos de trabalho, o seu cabelo branquinho, as suas rugas embrenhadas de vivências, sensações, vitórias e amarguras, e pensava…. Quando se está, pela ordem natural das coisas, numa idade mais avançada e no “final” da vida, o que infelizmente hoje em dia é tão relativo, pois morre gente tão nova e de formas tão estúpidas. Mas continuando… e quando se vê que o nosso companheiro de toda a vida já partiu. Pensa-se o quê? Vou a seguir? Será que há vida depois da morte? Será que vou sofrer? Será que sentirei paz? E depois destas perguntas todas qualquer um de nós sente uma inquietude enorme. Só nos apercebemos da fragilidade da vida, quando estamos perante situações-limite. E aí temos duas opções: ficar petrificados e ansiosos a pensar que vamos morrer a cada segundo, e sim, nesse caso começamos a matar a nossa alma, a nossa essência aos bocadinhos, porque não vivemos, sobrevivemos. Ou então temos outra hipótese, continuar a fazer o mesmo de sempre, ou mudar tudo completamente, simplesmente viver, seguir as oportunidades de um novo dia, de um novo trabalho, de uma nova amiga, de um novo interesse ou hobby. Todos já tivemos ou teremos a qualquer altura da vida um gatilho para a mudança.
Então aquilo que mais desejo é isso mesmo, é viver a vida com a paz e quietude de um dia de cada vez, o cliché que faz tanto sentido. E já agora, não é o tempo que cura tudo, nós é que vamos arrefecendo os nossos sentimentos e esbatendo as nossas memórias, vamos moldando o que sentimos e o que somos, e com quem o somos.
Agora diz-me, Erikson, e a tua Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, aquela fase da “Integridade vs. Desespero”: a primeira hipótese é fantástica, mas a segunda horrível e ambas um pouco irrealistas, quando analisadas ao extremo. Segundo o que aprendi nas minhas primeiras aulas de Psicologia, uma pessoa mais velha que “aparentemente” não tem medo de nada e que já se conformou e resolveu com aquilo que já viveu, traduz o conceito de “Integridade”. Bem, acho que qualquer pessoa deseja alcançar este feito, apesar de um pouco romântico. Aqui a pessoa ideal atinge uma certa “unidade de personalidade”, ou seja tem a sensação de dever cumprido, experimenta o sentimento de dignidade e integridade, e divide a sua experiência e sabedoria. Contudo, lá se vai a parte mais idílica: “existe ainda o perigo do indivíduo se julgar o mais sábio, e impor as suas opiniões em nome da sua idade e experiência”. Por outro lado, o conceito oposto de “Desespero” - dá para imaginar, não me apetece falar sobre isso, fiquemos pelo bem.
Isto é tão importante, seja em situações-limite de uma doença que não se esperava, que pode ser definitiva, de um acidente, da iminência da morte? Sentimos isso? Acho que todos nós seriamos melhores pessoas se nos debruçássemos um bocadinho sobre esta questão, e se fosse eu?
Bem, não pretendo de todo transformar a minha primeira crónica deste ano em algo dramático, até porque quem me conhece sabe que sou uma eterna optimista.
Oh 2017, eu como Psicóloga, educadora, ou mesmo como “pessoa com algum conhecimento sobre o ser humano em várias fases da sua vida”, sempre achei que educar é a dádiva mais poderosa do mundo, e chegava a dizer à minha irmã: “Eu quero ser mãe, não porque adore estar grávida ou pelas roupinhas, ou pelas tretas consumistas associadas, eu quero ser mãe para educar, para dar afeto, para ver aquele ser crescer com um bocadinho de mim, mas com o seu toque, e que este faça alguma diferença no mundo. E foi isso que comecei a fazer, desde há um ano e meio, um bocadinho mais todos os dias. E é o melhor do mundo.
Sempre tive muita vontade de viver e sou apaixonada e entusiasta pela vida, mas desde que fui mãe, isso faz-me querer viver mais, assistir ao crescimento do meu filho, o Pedro Lucas. Ele representa o melhor que me aconteceu, que nos aconteceu na vida e é, sem dúvida, o meu gatilho da mudança. Qual é o vosso?
Que sejam palavras, sentimentos, nunca armas e confrontos. Numa época em que nos EUA é sugerido aos professores que como parte da resolução dos conflitos, comecem a estar armados, significa que a escola se torna um campo de batalha, e que se torne assustadora a ideia de nele entrar. E os psicólogos, que munições deverão carregar, bombas? Quando acabarmos com tudo, aí sim vamos ter silêncio, duro e vazio, das gerações que sacrificámos com políticas fúteis e gananciosas, hipotecando o seu futuro e a sua sanidade mental.
“Olho por olho e o mundo acabará cego”, tão certo como isto. Que a coragem de lutar pelo que está certo nos mova e que a paz e o amor sejam sempre a nossa escolha.
Quero terminar todos os meus dias, sempre, com um” bem-me-quer”.
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