Aquela senhora tinha sido mesmo muito simpática comigo, e não me conhecia de lado nenhum. Subitamente, a minha fé no ser humano voltou. Estamos tão habituados à desumanização dos serviços públicos, que gestos que seria suposto serem completamente normais, são cada vez mais raros.
Comportamento gera comportamento, nós os das ciências sociais passamos a vida a ouvir esta expressão e nunca fez tanto sentido. Aquela pessoa que nos atende mal disposta, provavelmente dormiu mal, o filho que está na idade do armário fez das suas ontem na escola, vai ser suspenso dois dias, o marido anda completamente alienado da realidade, está cada vez mais distante e mergulhado no seu trabalho, o dinheiro não abunda, aquela amiga de quem tanto gosta está com um grave problema de saúde, o trabalho tornou-se desmotivante para ela, doem-lhe as costas, e de repente sente-se esmagada pelo peso do mundo. Eu entendo, a sério que entendo. Faço este exercício sempre que sou mal atendida – penso: O que será que aconteceu àquela pessoa?
Ela não deve, ela não pode ser sempre assim… Custa-me a crer que as pessoas sejam genuinamente não solidárias ou não empáticas, para não dizer frias, e até em alguns casos, cruéis.
Mas nós também temos problemas, e às vezes custa-nos relativizar as coisas e ver o outro lado. Empatia, ou empatheia de origem grega, significa isso mesmo, o estar dentro da emoção, neste caso do Outro.
Apercebo-me que esta é uma das melhores qualidades do ser humano. Já agora quanto à palavra “humano”, em pesquisa encontrei isto :” O termo humano utiliza-se também como adjetivo com o significado de bondoso ou generoso, compreensivo ou tolerante. É um termo muito utilizado para caracterizar os profissionais da classe médica e a sua relação com os pacientes. São qualificados como humanos aqueles médicos que tratam os seus pacientes com especial cuidado, que procuram ouvi-los atentamente e orientam o tratamento da forma mais agradável.” Lá está, mesmo não havendo vocação, mesmo a pessoa tendo um dia mau, não deverão estes e outros profissionais fazer uso do adjetivo que qualifica a nossa definição no mundo, a de sermos “Humanos”?
Acredito que na educação, e na vida em geral vá, um reforço positivo ou elogio é muito mais forte e motivador da mudança de um comportamento, ou de algo negativo, do que um castigo ou punição. Então, inconscientemente, acho que tenho aplicado isso na minha relação com os outros, já que não posso tirar a minha sensação de saturação, e até revolta com alguns não digo maus, péssimos atendimentos, e como se for chamar a atenção naquele dia, àquela pessoa, vou gerar mais raiva e ressabianço, prefiro elogiar as pessoas que realmente cumprem com zelo, profissionalismo e até simpatia as suas funções. Acho que nunca ninguém ficou indignado com um elogio à sua pessoa pois não?
Assim surgiu o Livro dos Elogios, nobre iniciativa. Porquê só existir um Livro de Reclamações e não um Livro de Elogios? Estes livros também existem não só para estabelecimentos comerciais - conheço alguns sítios que já aderiram-, mas também para as nossas casas. Podemos começar já hoje a elogiar por aí, sem medo nenhum! O poder do elogio é avassalador. Pode mudar a disposição, o dia daquela pessoa, a sua autoestima, que por sua vez irá contagiar positivamente o dia de outras. Não estou a falar de hipocrisia ou elogios forçados, estou a falar de pequenas coisas que intimamente sentimos e gostamos em relação ao outro, ou ao que o outro fez, mas que não dizemos em voz alta porque vai parecer ridículo, lamechas, ou porque achamos que nos coloca numa posição vulnerável, porque faz de mim uma banana, ou porque me inferioriza. Não. Antes pelo contrário, faz de mim o verdadeiro ser “humano”, no sentido da palavra. O impacto é tão grande, que vos garanto, que algo muda ali, naquele momento, quase que me atrevo a dizer que elogio gera elogio. Se repararmos dizemos muito mais facilmente, e quase sempre carregadinhos de razão, aquilo de que não gostamos nos outros, as suas más atitudes, e é pouco comum fazer-se o oposto, por que não existir uma cusquice positiva? Passar a vida a dizer bem dos outros, que aborrecido! Eu acho que não, acho que seria um mundo muito mais feliz, a começar por nossa casa, pelo nosso trabalho, pelos serviços que frequentamos.
Um elogio por dia, não sabe o bem que lhe fazia.
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