De entre todas as pessoas que já atendi em consultório com ideações suicidas, há um factor comum que gostava de partilhar convosco hoje: nenhuma delas queria acabar com a vida, queriam sim acabar com o sofrimento e a dor que determinadas situações ou pessoas lhes estavam a causar a determinado momento. Era esse sofrimento que se estava a tornar insuportável.

Em alguns casos falamos de pessoas com depressões prolongadas ou intensas, noutros de uma tolerância à dor emocional muito menor do que a maioria das pessoas (como acontece, por exemplo na Perturbação de Personalidade Borderline). Existem diversos quadros clínicos que podem originar ideação suicida, e uma grande incompreensão acerca do que é o sofrimento psicológico.

Uma das dificuldades em perceber o sofrimento psicológico vem do facto de não poder ser visto ou medido, o que faz com que as pessoas se sintam extremamente incompreendidas na sua dor e muitas vezes faz com que se afastem das outras pessoas e se isolem do mundo.

Muitas vezes ouvimos em alguns locais, dito por algumas pessoas, que as tentativas de suicídio são “formas de chamar a atenção”. E podem muito bem sê-lo, só que isso não significa que não exista gravidade. Se as pessoas estão a chamar a atenção é porque há algo, muitas vezes muito doloroso, que não está a ser considerado pelas pessoas à sua volta. Porque não dar-lhe alguma atenção? Porque não perguntar como se sente, o que é que precisa? E isso é válido seja essa pessoa um amigo, vizinho, familiar ou colega de trabalho.

Esse momento de atenção pode ser verdadeiramente transformador. É importante que essa pessoa perceba que é importante para as pessoas à sua volta e que há quem se preocupe com ela.

A psicoterapia (por vezes em trabalho conjunto com a psiquiatria) tem ferramentas importantíssimas para dar significado à dor e aliviar o sofrimento, criando um espaço seguro onde a pessoa pode libertar os medos e ganhar esperança no futuro, em si mesma e nas suas capacidades a todos os níveis. A figura do psicoterapeuta traduz-se por alguém que o/a compreende, não julgando os seus actos e ajudando-o/a a encontrar o bem-estar psicológico e a acabar com o sofrimento, com técnicas específicas e objectivos definidos entre ambos.

Sim, é possível acabar com o sofrimento, sem acabar com a vida.

Ana Sousa

Psicóloga Clínica