Tem sido comum chegarem até mim pessoas com queixas de ansiedade ou presença de sentimentos de insatisfação associados ao desempenho no trabalho ou no estudo. Com o tempo, vou-me apercebendo que estas dificuldades não estão necessariamente relacionadas com o contexto profissional, mas sim com a maneira como nos experienciamos a nós próprios.

Parecemos estar cada vez mais insatisfeitos com o que somos, sentindo-nos culpados por pensarmos ou sentirmos de determinada forma. É como se existisse em nós uma voz crítica e controladora que nos pune dizendo: “Deverias ser melhor”, “Tens de deixar de ser assim”, “Tens de fazer diferente” ou “Não é suposto estares a sentir-te cansado ou estares triste”. É uma voz dominante que nos leva a fazer esforços frenéticos para cumprir as suas exigências, por exemplo, trabalhando ou estudando muito, ou tentando ignorar sentimentos mais desagradáveis que possam surgir. Ao mesmo tempo, enquanto estamos ocupados a tentar agradar esta voz, vamo-nos afastando da essência daquilo que somos.

Convido-o a questionar-se: o que aconteceria se essa voz crítica não estivesse aí? Provavelmente irá pensar que ao ser demasiado brando consigo mesmo, tornar-se-ia ainda mais incapaz ou seria mais fraco.

Parece razoável pensar que esta voz tem uma função protetora. O problema é que aprendemos a evitar sentir as nossas emoções, fugindo dos nossos medos e inseguranças e, ao contrário do que esperamos, estes tornam-se mais intensos. A longo prazo, esta voz torna-se tão ensurdecedora que aumenta o nosso sofrimento psicológico.

Ao estarmos emaranhados nesta balança que oscila entre o medo de não se ser bom o suficiente e a tentativa de provarmos a nós e aos outros que o somos, é natural que surja um mal-estar geral, que se manifesta na forma de sentimentos de desesperança, ansiedade, apatia, sobrecarga, dificuldade em dormir, entre outros.

O segredo passa pela aceitação do que vai acontecendo em nós. Segundo Rogers, “O paradoxo curioso é que quando me aceito a mim mesmo, tal como sou, então consigo mudar”. No fundo, ao estarmos mais em contacto com a nossa experiência interna, evitando negar ou controlar o que vai acontecendo em nós, o sofrimento diminui. A ideia central é que ao nos expormos às nossas emoções básicas e vulnerabilidades sem julgamento, minimizamos esta voz crítica, impedindo o surgimento de outras emoções mais complexas, difusas e que provocam mal-estar. Quando olhamos para o que somos com compaixão, normalizamos os fenómenos internos, reduzindo os processos que contribuem para as nossas dificuldades.

Partilho algumas sugestões que podem ajudá-lo a cultivar esta atitude de aceitação:

Conecte-se com a sua experiência. Permita-se dar espaço ao seu corpo e mente, notando e identificando os seus pensamentos, emoções e sinais físicos do seu corpo, com curiosidade e sem julgamento. Questione-se: o que é que está a acontecer no meu corpo neste momento?

Permita-se baixar a guarda. Tente desprender-se do significado negativo que atribui às emoções e permita-se senti-las sem crítica. Evite combater ou bloquear o que vai experienciando. Quando experiencia alguma emoção, note se tem a tendência de negá-la, distraindo-se, justificando-se ou mudando de assunto quando conversa sobre algo doloroso, por exemplo. Tente não o fazer. Quando nota emoções a surgir, observe-as e reconheça que são parte integrante de si mesmo.

Seja mais compassivo para com as suas vulnerabilidades. Repare que habitualmente não julga as vulnerabilidades de alguém que ama. Porque o faz consigo próprio? Olhe para as suas como sendo parte de si e tente abandonar a pressão que coloca de “Tenho de fazer melhor”. As experiências de autocompaixão permitem sentir que é merecedor de amor, reconhecimento e proteção.

Identifique o que é um ideal seu em comparação a um ideal imposto pelo ambiente. Reconheça os motivos que o conduzem a comportar-se de determinada maneira. É um ideal seu ou é um ideal imposto pelos outros que o rodeiam? Faça uma lista de características que definem quem eu sou e de características que definem quem os outros esperam que seja. Pare para pensar o que o motiva a comportar-se de determinada maneira e torne-se disponível para ser menos quem os outros querem que seja, e para ser mais quem realmente é.

Faça o exercício de dizer a si mesmo “Eu sou suficiente”. Quando identifica a sua voz crítica a surgir, cuide dela dizendo-lhe que está tudo bem em ser como é.

Daniela Sousa - Estagiária Profissional de Psicologia Clínica