Reclamamos a perfeição em tudo o que nos rodeia. Buscamos essa perfeição em tudo e em todos. Uma busca de perfeição, diga-se, que está a dominar-nos e que, em muitos casos, está a tomar contornos de tipo psicopatológico, doentios.

Pais perfeitos, filhos mais que perfeitos, maridos perfeitos, esposas perfeitas, o emprego perfeito, uma vida perfeita, corpos perfeitos, inteligências perfeitas, saúde perfeita…

Tudo à nossa volta gira em função de um mundo, também ele, necessariamente, perfeito. De tal forma, que a condição de ser perfeito nos impõe amarras verdadeiramente angustiantes, impõe-nos esquemas de pensamento que anulam a nossa forma de estar e de sentir. Anulam o nosso eu, a nossa autenticidade e, em suma, aquilo que somos. E, de repente, damos por nós a questionar tudo à nossa volta e tudo o que existe em nós.

É a ruga que apareceu, é o quilo a mais, é a celulite que não nos larga, é um cabelo que branqueou (coitado do cabelo que nem pediu para assim ficar), é o tempo que chove, é um ministro a cortar o trânsito, é a casa que precisa de obras, é o chefe que não muda, é o filho que não estuda, é o tempo que não temos para nós, é a vida onde estamos mas que não queremos… Francamente, quem aguenta isto? Talvez não se tenha ainda apercebido quanto tempo passa em ruminações idênticas. Mas, acredite, de nada servirão. 

Assim, o que lhe proponho é que identifique quais os aspetos da sua vida (pessoal, profissional, material e espiritual, entre outros) que considera imperfeitos ou, pelo menos, onde tem pensamentos como «Ah, se ao menos isto pudesse ser diferente! Seria perfeito!». Basta que escreva um aspeto que considere imperfeito em cada campo da sua vida. Por exemplo, «sacrifico-me muitas vezes pelos outros pois não consigo dizer não a nada que me peçam!». 

Seguidamente, tente encontrar duas formas de resolver cada aspeto identificado. Imagine, para o exemplo dado, conseguir dizer que não pelo menos três vezes por semana e conseguir desligar o telemóvel uma hora por dia sem se sentir culpada. Ao sistematizar os aspetos negativos, tentando por si mesmo encontrar soluções, está a tomar consciência das suas limitações e, ao mesmo tempo, a perceber que sim, consegue encontrar alternativas para os aspetos menos positivos na sua vida.

O que se passa, contudo, é que geralmente encontramos um montão de desculpas para ficarmos dependentes das nossas imperfeições. Embora não gostemos delas, é sempre mais confortável para o self viver no conforto do adquirido e do conhecido, do que fazer rupturas. Ruturas das quais não sabemos os resultados. Ocorre no entanto, que o mundo não é perfeito, nós não somos perfeitos, o nosso emprego não é perfeito, os nossos filhos não são perfeitos, os nossos chefes não são perfeitos… 

E então? Somos humanos! Valha-nos isso! A perfeição, ou a ausência dela, reside sobretudo na nossa forma de pensar. Na nossa forma de ver. Na forma como vemos os outros e os avaliamos. Na forma como nos vemos e nos avaliamos. Permita-se, pois, admitir e sentir a imperfeição nalguns aspetos da sua vida. Não se condene por isso! Talvez chegue à conclusão que afinal não somos assim tão imperfeitos…

Texto: Teresa Marta (mestre em relação de ajuda e consultora de bem-estar)