Frágeis, tímidas e perfumadas, as violetas (Viola odorata), escondem-se por debaixo da sua densa folhagem, salpicando o jardim de pequenos pontos roxos, a partir de fevereiro até ao início do verão. Desde a antiguidade que esta flor está associada ao amor, à humildade e à inocência, sendo talvez por isso também uma planta funerária, muito usada nas decorações típicas deste rito. É mencionada na mitologia grega referindo-se aos amores entre Zeus e um bela sacerdotisa.

Em Atenas, capital grega, festejava-se o regresso da primavera com violetas cobrindo as crianças maiores de três anos com estas flores. Nos banquetes, tanto na Grécia com em Roma, os adultos usavam grinaldas de violetas, pois acreditavam que lhes refrescava a cabeça e aliviava as ressacas. Os romanos eram grandes apreciadores de vinho de violeta, enquanto os egípcios e os turcos deliciavam-se com o sorvete de violeta.

Na Roma Antiga, comemoravam o Dia dos Mortos, conhecido localmente como Dies violores, o dia das violetas. Na crença cristã, Cristo reencarnado é representado com um manto de violetas e está associado à Paixão de Cristo. Em França, esta flor era o emblema político dos apoiantes de Napoleão e quando da sua morte no desterro, foi-lhe encontrado ao pescoço um medalhão onde guardava alguns cabelos do seu filho e duas violetas secas.

Flor usada na medicina popular

A partir do século XV, a violeta tornou-se a planta mais abundante nos jardins dos mosteiros, sendo utilizada na culinária e na medicina popular em infusão para aliviar insónia, dores de cabeça e sintomas de tristeza. Priscianus, médico bizantino do século IV, aconselhava a comer as três primeiras violetas que encontrassem no bosque pois isso serviria de preventivo contra todas as doenças para o resto do ano.

Dizem que a variedade de flor branca em estado espontâneo é um verdadeiro elixir da beleza e longevidade, uma tisana com cinco violetas brancas, uma bebida relaxante que também pode preparar hoje, fazia parte dos rituais druídas. Estas possuem um aroma considerado afrodisíaco e acredita-se que são portadoras de boa sorte. As violetas foram ainda inspiradoras de Homero e Virgílio, Shakespeare, Shelley e Goethe.

Descrição e habitat

Existem cerca de 700 variedades de violetas, a maioria de cor roxa, mas também existem cor de rosa e brancas, embora estas sejam mais raras. Existem variedades cultivadas e variedades espontâneas (violeta silvestre ou violeta-de-cheiro). A violeta-de-cheiro (Viola odorata) é uma planta herbácea e vivaz da família das violáceas, possui caules longos rastejantes e rosetas de folhas em forma de coração de um verde muito brilhante.

Tem também flores roxas ou brancas com cinco pétalas semelhantes a pequenas orquídeas. A violeta cresce espontânea em sítios húmidos e sombrios, sebes e moitas, preferindo solos calcários, um pouco por toda a Europa, América do Norte, Rússia, Índia, Ásia do Norte, Nova Zelândia e Austrália. O amor-perfeito-silvestre (Viola tricolor), conhecido em francês como pensée sauvage e em inglês por pansy, é da mesma família e tem muitas propriedades semelhantes.

Composição

Muito rica em vitamina C e em vitamina A, a violeta também é uma importante fonte de glicócidos fenólicos, sobretudo de mirosina e de violina, além de flavonoides e mucilagem. Os risomas contêm saponinas e um alcaloide, a adorantina. As flores, muito apreciadas, também dão origem a um óleo essencial composto de um corante azul e de um composto odorante, o irone.

Veja na página seguinte: A parte das violetas que pode ser usada como expetorante

Propriedades

As flores e folhas são expetorantes e demulcientes, sendo esta variedade botânica muito eficaz em xaropes ou tisanas para combater tosse, a bronquite e a asma. Devido aos componentes que integra, tem também uma ação sudorífica e anti-inflamatória. A raíz é um expectorante muito mais forte devendo ser tomado com precaução pois pode ser purgativo. É ainda muito utilizada para tratar problemas de pele como psoríase e eczema.

Esta planta pode ainda ser usada para tratar a longo prazo problemas e de reumatismo e infeções urinárias. Está ainda associada ao tratamento do cancro da mama, de mastite e de quistos fibrosos, podendo essa ação terapêutica ser feita em forma de compressas ou internamente em forma de chá de folhas e flores, asseguram muitos especialistas em plantas medicinais.

No jardim

Propaga-se a a partir de semente ou por divisão de rizomas que convém ir separando e preparando para obter mais quantidade de flores. Gostam de climas frios e de sombra. No inverno não é necessário protegê-las do frio pois a exposição à geada torna-as mais robustas e resistentes.

Podem dar-se em vaso desde que estejam na sombra. As flores devem colher-se logo após a sua abertura. A violeta é um dos componentes de alguns fertelizantes de agricultura biodinâmica juntamente com bolsa-do-pastor e cavalinha para pulverizar couves e beterrabas.

Na cosmética

Muito utilizada desde a antiguidade na perfumaria de onde se extraía o óleo essencial, o irone. Os antigos gregos eram grandes mestres da destilação e fabricavam perfume a partir das flores de violeta, alfazema, melissa e rosa. Em França cultivam-se, ainda, vários tipos de violetas para este fim. Existem no mercado vários sabonetes e cremes para pele à base de violeta.

Na culinária

As violetas são utilizadas na decoração de pratos e na confeção de saladas. As folhas podem também ser usadas mas mudam de cor, tornando-se mais pálidas quando combinadas com limão ou outros ácidos. Pode-se fazer geleia, xarope ou cristalizar as flores.

Para fazer um xarope, verta água a ferver por cima das flores e deixe repousar durante um dia. Depois de coadas as flores, junte sumo de limão e açúcar a gosto e volte a ferver até atingir a textura de um xarope. Pode, ainda, juntar algumas flores de violeta num frasco de mel ou numa garrafa de vinagre para, assim, torná-los mais aromáticos.

Texto: Fernanda Botelho