Dois dos seus componentes são dos mais importantes compostos medicinais encontrados em plantas nos últimos 50 anos. É especialmente recomendada para combater a perda de memória. A pervinca ou vinca, como muitos lhe chamam, é uma planta herbácea perene, comum na Europa Central e na Europa Meridional. Cresce bem em florestas, formando lindos tapetes verdes salpicados de pequenas flores em tons lilás.
Também é habitual observá-las em sebes e em mantos em beiras de caminhos e/ou nas margens de rios, entre outros locais. Na sua composição, a pervinca contém taninos, flavonas, glúcidos, sais minerais, vitamina C, pectina e alcaloides indólicos, como a vincamina e a vincina. Os alcaloides que integra, principalmente a vincamina têm uma ação anti-espasmódica, hipotensora, vasodilatadora cerebral e coronária.
É utilizada em casos de perturbações circulatórias cerebrais. Os flavonoides conferem-lhe uma ação tónica venosa e da microcirculação. É adstringente e também pode ser usada como tónico digestivo amargo. Recomenda-se em casos de anemia, pois reduz os glóbulos brancos, podendo ainda ser utilizada nalguns casos de leucemia, especialmente a vinca-rósea-de-madagascár. Também combate vertigens e enxaquecas.
A ação da pervinca contra as hemorragias e as anginas
O seu poder contra as perdas de memória e a fragilidade capilar também são (re)conhecidos. Esta planta seca ainda o leite materno e estanca hemorragias do útero, da boca e do ânus. Em gargarejos, é utilizada para combater problemas de anginas. A pervinca-de-madgáscar, que era aplicada nessa e noutras zonas tropicais e subtropicais contra a diabetes, levou a uma extensa investigação sobre as suas propriedades.
Os cientistas que realizaram esse estudo internacional há uns anos chegaram à conclusão que dois dos seus componentes, a vincristina e a vinblastina, são eficazes agentes anticancerígenos, sendo dois dos mais importantes compostos medicinais encontrados em plantas nos últimos 50 anos. Esta planta é cultivada com fins comerciais como planta ornamental de jardim. A planta e a raiz são colhidas no verão.
Na fitoterapia ocidental, utilizam-se apenas as folhas e convém serem adequadamente doseadas. O ideal, segundo os especialistas, é usar entre 30 a 40 gramas ou uma colher de sobremesa por chávena de infusão, sendo que essa bebida se deve tomar três vezes ao dia ou conforme aconselhamento profissional. Uma recomendação que importa ter em conta para evitar problemas de saúde posteriormente.
Os cuidados a ter com a pervinca no jardim
A pervinca gosta de terrenos sombrios, calcários ou argilosos. Normalmente, cresce rente ao solo mas também trepa, podendo atingir mais de 60 centímetros de altura. Tem caules que criam raízes, folhas elípticas muito brilhantes e flores de cinco pétalas de cor lilás ou azul arroxeado. É também cultivada em jardins como planta ornamental, mas desenvolve-se muito rapidamente e em pouco tempo toma conta de todo o jardim.
É, por isso, uma planta que necessita de muito espaço e de muito terreno. Em Portugal cresce espontâneamente em locais como a envolvente do Buçaco, o distrito de Bragança, a região do Fundão e a serra de Sintra, maioritariamente no norte e no centro do país, não se desenvolvendo tanto em zonas mais a sul, tendencialmente mais mediterrânicas, como sublinham muitos especialistas em botânica.
Existem essencialmente três variedades. A Vinca minor L, que também conhecida por congossa, é uma delas. Outra é a Vinca major L, o nome com que os cientistas a batizaram. Por fim, a terceira é a Vinca rosea L ou pervinca-de-madagáscar, uma das mais apreciadas pelos jardineiros. Todas elas da família das Apocynaceas. As flores da vinca rosea, que chegam a encher campos e campos, são de cor branca a vermelha.
As histórias de bruxas associadas a esta flor
Tal como grande parte das plantas, a pervinca está também associada a histórias de bruxaria e magia. No século II da atual era, o filósofo Lúcio Apuleio refere a pervinca no seu "Herbarium", sugerindo o seu uso contra as doenças do Diabo e as possessões demoníacas, a par das serpentes e dos animais selvagens. Não será por acaso que no folclore inglês seja conhecida por devil's joy, prazer do Diabo, em português.
Há também quem a apelide de sorcerer's violet, a violeta das bruxas. Ainda hoje, nalgumas aldeias da Inglaterra e da Irlanda, se pendura um ramo de pervinca numa parede para dar boa sorte e para proteger a casa dos maus espíritos. Na idade média, esta era considerada a flor dos poetas e dos feiticeiros, que a utilizavam na composição de filtros de amor. Aconselhavam ainda contemplar estas flores para acalmar a vista cansada.
Outras recomendavam-nas, já na altura, para melhorar a memória. Já em 1554, o médico naturopata e botânico italiano Mattioli lhe atribuía propriedades medicinais, indicando-a contra as hemorragias nasais. Durante muitos anos se acreditou na sua eficácia para o tratamento de doenças pulmonares. Nas Caraíbas, as flores da vinca rosea são utilizadas na medicina popular como loção ocular calmante e, nas Filipinas, como antidiabético.
Texto: Fernanda Botelho
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