Se receia as idas ao dentista, este artigo sobre odontofobia é para si.
O termo designa a ansiedade relacionada com os tratamentos dentários.
Na sua origem, estão frequentemente «acontecimentos traumáticos», sublinha António Ferreira de Macedo, psiquiatra. Contudo, a má recordação pode não ser exata.
Um estudo publicado em Journal of Dental Research, que avaliou os graus de medo e dor de 79 pessoas submetidas a extracções de urgência, concluiu que, duas semanas após a intervenção, todos os pacientes exageraram a dor que sentiram. Por isso, se se lembra de lhe ter doído muito, a sua memória pode estar a pregar-lhe uma partida. Siga os conselhos de António Ferreira de Macedo e do médico dentista Miguel Stanley e ponha fim ao medo.
Receio partilhado
De acordo com António Ferreira de Macedo, «em média, seis a nove por cento da população geral sofre de perturbações de ansiedade no seu conjunto», uma situação «mais frequente no sexo feminino». No caso da ida ao dentista, o professor realça que «uma boa e satisfatória relação médico/doente previne muitas coisas, incluindo as fobias».
Contudo, por vezes o medo fala mais alto. «Parece que há um chip na cabeça da pessoa. Falamos com ela na recepção e está óptima mas, mal entra na sala de tratamento, assusta-se tremendamente», descreve ainda Miguel Stanley.
Sinais de alarme
Os principais sintomas deste tipo de ansiedade são claros, como explica o médico dentista. «A pessoa fica calada, começa a suar, fica muito tensa, tem palpitação cardíaca, pupilas dilatadas e uma respiração forte», refere o especialista.
Uma situação que pode ser prejudicial ao decurso da consulta, já que «o paciente quer agarrar a mão do dentista, parar, ver tudo, quer falar porque tenta encontrar todo os subterfúgios possíveis para interromper o tratamento», explica. Por mais difícil que lhe possa parecer, o primeiro passo para evitar o receio e tratamentos mais extensos é precisamente prevenir o aparecimento de problemas dentários, consultando um médico dentista de seis em seis meses.
O que pode fazer
As soluções para o problema dependem do grau de ansiedade. Para António Ferreira de Macedo, as situações mais graves requerem «psicoterapia destinada especificamente ao tratamento da fobia». Noutros casos, «o médico de família pode fazer uma medicação ansiolítica antes de ir ao dentista», afirma.
Miguel Stanley refere que o médico dentista pode administrar um ansiolítico. Existem ainda exercícios de relaxamento que pode realizar no consultório ou praticar em casa. Outra opção é pesquisar na Internet para conhecer os tratamentos dentários.
O conselho é de Miguel Stanley, que considera que «quanto mais preparada e informada estiver a pessoa, menor é a distância entre o paciente e o dentista». Além disso, existem escalas de avaliação da ansiedade, disponíveis online, que poderá preencher e entregar quando for ao médico dentista.
A resposta da medicina
A evolução da última década não se limitou às técnicas usadas: tornou também os consultórios mais acolhedores. Para Miguel Stanley, «criar um ambiente agradável é o primeiro passo para diminuir a fobia». Um dos detalhes é evitar o «cheiro a clínica», que acelera o ritmo cardíaco dos mais receosos.
No que diz respeito à tecnologia, segundo o médico, existem «agulhas mais finas, turbinas (brocas) mais silenciosas e câmaras intra-orais», entre outros avanços, incluindo no controlo da dor, que estão ao serviço do dentista mas também do paciente.
É o caso da imagiologia, que permite que «o dentista partilhe com a pessoa o que está a fazer», explica. As palavras de ordem são informação e partilha. Na opinião do médico dentista, «ao dar mais informação ao paciente, este último passa a ter mais capacidade de decisão e essa é a maior barreira que se deve ultrapassar. E um paciente informado tem muito menos medo».
Relaxe… mesmo!
Experimente estes exercícios anti-ansiedade, propostos pelo psiquiatra António Ferreira de Macedo:
- Sente-se numa chaise longue ou cadeira confortável, deixando descair o corpo até estar quase deitada.
- Feche os olhos, tente esvaziar a mente e concentre-se no ritmo respiratório.
- Faça movimentos de inspiração amplos, lentos e rítmicos. O movimento activo é o da inspiração e o passivo da expiração, como se fosse um balão a esvaziar.
Texto: Julie Oliveira com António Ferreira de Macedo (psiquiatra e professor de psicologia na Universidade de Coimbra) e Miguel Stanley (médico dentista)
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