E, de repente, tudo o que está nossa volta começa a mexer-se ou, pelo menos, é o que (nos) parece. Assim são as vertigens, um sintoma angustiante, sobretudo pela noção de insegurança que nos concede. A sua manifestação mais frequente é a impressão de um movimento rotatório, embora possa ocorrer a ilusão de deslocamento dos corpos à nossa volta ou a sensação de subida ou descida, como alertam muitos especialistas.

De acordo com Anselmo Pinto, otorrinolaringologista, "o equilíbrio é possível após uma aprendizagem e treino de vários órgãos, nomeadamente do órgão da visão, do órgão vestibular [parte do ouvido interno] e do aparelho locomotor, incluindo músculos, articulações e planta dos pés". Em Portugal, estima-se que 20% das pessoas entre os 18 e os 65 anos já tenham sentido um episódio de vertigem/alteração do equilíbrio.

"Vertigens é um termo atribuído a sinais e sintomas relacionados com o mau funcionamento de um ou mais órgãos do aparelho do equilíbrio", especifica. Este sintoma, normalmente episódico, pode ser um dos sintomas de uma doença mais grave. Manifesta-se de forma súbita e, por vezes, é acompanhado de náuseas, vómitos, sudorese, palidez e alteração do equilíbrio. No entanto, não provoca perda de consciência.

Da vertigem à fobia

As vertigens podem surgir independentemente da posição em que estamos (sentados, deitados, acordados ou a dormir) mas, usualmente, ocorrem quando estamos de pé, sendo a sua duração variável, como constataram os muitos que já as investigaram. Um episódio pode durar "apenas alguns segundos, horas ou manter-se durante dias, consoante a vertigem seja aguda e de início brusco ou crónica", explica Anselmo Pinto.

"Sendo um sintoma de falta de estabilidade, de equilíbrio, de sensação de queda ou desorientação no espaço, quando ocorre, o indivíduo sente-se incapacitado de viver em harmonia com o meio ambiente", alerta ainda o especialista. Em casos extremos, a constante sensação de vertigens leva ao desenvolvimento fobias, como sentir medo de sair à rua, um receio muito comum em pessoas que sofrem de síndrome vertiginoso.

A origem do problema

As causas e a forma com que as vertigens se apresentam é, geralmente, variável, sendo que na sua origem podem encontrar-se infeções bacterianas e virais, inflamações, tumores benignos e malignos e fatores de ordem psíquica, também apelidados de falsas vertigens, para além de disfunções respiratórias, de degenerescência nervosa e de traumatismos físicos, sonoros ou devido a químicos e medicamentos.

Atendendo ao local da anomalia, as vertigens podem ser classificadas como centrais e periféricas. As centrais têm origem nos centros cerebrais que estão em disfunção por múltiplas causas. As chamadas vertigens periféricas, na maioria das vezes, relacionam-se com uma patologia do ouvido, o órgão vestibular. "O diagnóstico nem sempre é fácil, podendo obrigar a exames mais ou menos complexos", afirma o especialista.

Como reagir em caso de crise aguda

Evite mexer-se. Caso seja assaltado por uma crise aguda de vertigens, o ideal é que permaneça em repouso, pois os seus movimentos corporais e os gestos que fizer com a cabeça podem piorar a situação e desencadear outros sintomas, como alertam os especialistas. Mantenha-se calma e longe de situações stressantes ou que lhe causem ansiedade. Ultrapassada a crise, deve procurar ajuda especializada.

"Como, na maioria dos casos a vertigem está relacionada, direta ou indiretamente, com o órgão vestíbulo-coclear, o médico otorrinolaringologista é, na generalidade das vezes, o especialista indicado", explica Anselmo Pinto. "É muito importante que se faça, sempre que possível, o diagnóstico de causa da vertigem. Um diagnóstico precoce pode levar à cura", refere ainda o médico otorrinolaringologista.

Os tratamentos disponíveis

Na prática, existem várias hipóteses de tratamento. Algumas delas implicam a toma de medicamentos ou uma intervenção cirúrgica. Outras exigem descanso absoluto ou parcial. "A terapêutica é diferente consoante o diagnóstico, mas assenta em três tipos de tratamento, farmacológico, cirúrgico e reabilitação vestibular", disse em entrevista à RTP Conceição Monteiro, médica otorrinolaringologista.

"Este último desempenha um papel muito importante no tratamento do doente com vertigem e alteração do equilíbrio. Esta abordagem consiste em programas de exercícios específicos, que se baseiam em mecanismos de neuroplasticidade que conduzem à diminuição da vertigem e à recuperação do equilíbrio. É uma forma de tratamento complementar quer ao tratamento farmacológico quer ao tratamento cirúrgico", diz.

"Contribui para melhorar a qualidade de vida e a autoestima do doente e diminuir o risco de quedas", salvaguardou ainda a especialista durante a entrevista. "Obtêm-se excelentes resultados terapêuticos", assegura. A reeducação vestibular é um método terapêutico para as vertigens que envolve exercícios como movimentos de cabeça, coordenação da cabeça e olhos, movimentos do corpo e exercícios para o equilíbrio estático e dinâmico.

Sofre de vertigens? Saiba o que pode fazer para minorar os episódios de síndrome vertiginoso

Não existe um exercício base mas, sim, vários para as diferentes patologias que o síndrome vertiginoso abarca. Surge como complemento à toma de medicamentos e realização de cirurgia. Uma vertigem nunca deve ser, no entanto, confundida com um mareio, como muitas vezes sucede por falta de informação. Nestas circunstâncias, ocorrem geralmente desmaios e situações de perda de forças.

Na sua base podem estar problemas cardiovasculares, digestivos, psicológicos ou situações pontuais de baixa de tensão e hipoglicemia. Também não deve ser confundida com desequilíbrio. Aqui, existe uma sensação de instabilidade enquanto estamos a caminhar ou a realizar outros movimentos voluntários, sem a sensação de rotatividade característica das vertigens. A sua causa pode ser neurológica. É essencial uma ida ao médico.