A vertigem é definida como uma ilusão de movimento, ou seja, é a sensação de que o ambiente ou a própria pessoa se move, sem que tal aconteça. Não é obrigatoriamente rotatória e é diferente de uma tontura ou desequilíbrio.

A vertigem é um sintoma e não uma doença, estimando-se que cerca de 20% da população o sente ao longo da vida. É altamente incapacitante, sendo por vezes acompanhada por náuseas, vómitos, taquicardia, suores, alterações intestinais e dores de cabeça, o que leva a pessoa a pensar em problemas cardíacos ou vasculares cerebrais, que não devem ser descurados.

Em 80% dos doentes, a vertigem interfere com as atividades diárias e leva a absentismo em 40% dos casos. 20% das pessoas com este sintoma têm mesmo receio de sair de casa.

Na grande maioria das vezes (cerca de 80% dos casos), a vertigem tem origem no ouvido interno, que é o órgão maioritariamente responsável pelo equilíbrio. Fora da fase aguda, os doentes geralmente não têm vertigem, mas sim tonturas e desequilíbrio, que devem ser igualmente tratados.

A prevalência da vertigem aumenta com a idade, mas pode estar presente em adultos jovens e mesmo crianças. As causas diferem e o mesmo doente pode ter crises de vertigem relacionadas com doenças diferentes - à medida que a idade avança, as suas origens vão-se tornando cada vez mais multifatoriais.

Existem alguns sintomas que devem funcionar como um sinal de alarme, no sentido da procura de apoio imediato, como a perda de consciência (desmaio). No caso da vertigem com origem no ouvido, as pessoas referem que, por vezes, quase desmaiam, mas tal não chega a acontecer. A existência de uma dor de cabeça com intensidade diferente do habitual, alterações da força muscular, da fala ou mesmo dificuldades em engolir, assim como dificuldades na marcha, neste contexto, podem fazer-nos suspeitar de uma patologia do foro do sistema nervoso central, e devem motivar uma ida ao médico.

No caso da vertigem com origem no ouvido interno, a causa mais frequente é a vertigem posicional paroxística benigna, que resulta da saída de cristais de carbonato de cálcio para fora do local onde se costumam localizar habitualmente. Nesta situação, o sintoma surge com o posicionamento da cabeça, como olhar para cima ou para baixo, deitar-se na cama ou rodar lateralmente na mesma. O tratamento consiste em realizar uma manobra de reposicionamento dos cristais, que deve ser realizada pelo otorrinolaringologista.

Outra causa importante é designada nevrite vestibular, que consiste numa inflamação do nervo vestibular (nervo do equilíbrio). Pensa-se que é viral e manifesta-se por vertigem rotatória de início súbito e incapacitante, acompanhada por náuseas e vómitos, que levam a maioria das pessoas ao serviço de urgência, devido à incapacidade que acarreta.

Na doença de Ménière, surgem crises de vertigem associadas a sensação de ouvido tapado, acufeno (barulho nos ouvidos) e diminuição de audição flutuante. Resulta do aumento da pressão do líquido que circula dentro do ouvido interno (endolinfa). Sem tratamento, estas crises são recorrentes e a audição vai diminuindo progressivamente.

A enxaqueca vestibular, outra das possíveis causas, caracteriza-se por crises de vertigem recorrente que podem simular crises de doença de Ménière, em pessoas com antecedentes de enxaqueca. Nesta situação, a audição não vai piorando e nãé obrigatório que as crises de vertigem coincidam com dor de cabeça.

Foi neste contexto multifatorial que a Unidade de Vertigem foi criada, articulando a consulta de vertigem e perturbações do equilíbrio e a consulta de acufenos, realizadas por médicos otorrinolaringologistas diferenciados na área de Otoneurologia, com consultas de outras especialidades, como a Neurologia, Psicologia e Medicina Geral e Familiar, para responder de forma completa e integrada às necessidades dos doentes.

A reabilitação vestibular tem um papel fundamental no retorno dos doentes às atividades diárias, diminuindo de forma substancial o impacto da vertigem nas suas rotinas e, no caso da população idosa, prevenindo também as quedas, que são muito frequentes.

Um artigo da médica otorrinolaringologista Maria Manuel Henriques, coordenadora da Unidade de Vertigem do Hospital CUF Tejo. É também assistente convidada da Nova Medical School - Faculdade de ciências Médicas de Lisboa e Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Otoneurologia.