Aos 32 anos, esta professora de informática provou que é possível não ficar refém da depressão e o quão importante é procurar ajuda médica para controlar uma patologia que afeta cerca de 20% dos portugueses.
A luta de Maria Teixeira contra esta doença começou há dois anos.
«Como professora contratada, posso ser, anualmente, colocada em qualquer local do país», conta.
Foi o que aconteceu, em setembro de 2009, quando lhe foi atribuída colocação numa escola em Loures, para dar aulas a alunos entre os 10 e os 16 anos, e lecionar uma nova disciplina que não dominava. Um quadro desgastante que contribuiria, de forma decisiva, para que a depressão se instalasse na sua vida.
Os primeiros sintomas
«No universo da informática, existem muitas disciplinas e nem todos os professores estão preparados para as mesmas. Fui solicitada para ensinar uma área relacionada com eletricidade que não se enquadrava nas minhas competências», recorda. Para além de ter necessidade de se preparar muito bem, acrescia o facto de lhe terem sido atribuídas turmas muito complicadas.
«Alguns alunos eram repetentes e outros estavam na escola por obrigação, sem qualquer incentivo e motivação para estudar, o que dificultava a tarefa de ensinar», refere. Aos poucos, começavam a criar-se condições para surgirem os primeiros sintomas de depressão. Lembra-se, por exemplo, de entrar num shopping e começar a chorar. Tinha ataques de pânico constantemente. «Este era um sintoma que me inquietava, até porque sempre adorei fazer compras e ir a centros comerciais», recorda.
O agravar da situação
Sobrecarregada de trabalho, teve de lidar com alunos problemáticos. «Alguns chegavam a lutar na sala de aula e era eu que os tinha de separar. A determinada altura, uma das minhas turmas começou a apresentar muitas faltas e, quando assim acontece, os professores são obrigados a fazer provas de recuperação. Como os alunos faltavam muitas vezes, todos os dias tinha que fazer provas», explica.
Passou a não ter tempo para dormir, para comer e para as tarefas do dia a dia. «Sem o descanso devido e sem me alimentar, acabei por entrar num estado de fraqueza física e emocional que me desgastou completamente», acrescenta. Dois meses depois do início das aulas, começou a sentir-se mais ansiosa. «Chorava muito e não tinha vontade de me levantar da cama». Como não se sentia preparada para dar as aulas exigidas, antecipava o que poderia acontecer no dia seguinte e vivia permanentemente ansiosa.
Dar o primeiro passo
Maria Teixeira chegou a emagrecer sete quilos. «Deixei praticamente de comer, pesava 46 quilos», conta.
Com o agravamento do problema, um mês depois de terem surgido os sintomas, decidiu marcar uma consulta com a médica de família que lhe viria a recomendar que ficasse de baixa a partir daquele dia.
Dadas as condicionantes da sua profissão, Maria decidiu adiar esta decisão.
«Optei por não aceitar a sua sugestão pois, apesar de não me sentir bem, os professores que ficam de baixa têm de repor as horas que faltam após o regresso. Tentei aguentar até ao final do primeiro período para que não saísse prejudicada posteriormente», admite hoje.
Um enorme esforço pessoal
Na altura, foi-lhe receitado um medicamento natural para que tentasse relaxar. Como não surtiu efeito, voltou a ter uma consulta com a sua médica que a aconselhou, novamente, a ficar alguns dias em casa e a tomar antidepressivos e ansiolíticos. «As reuniões de avaliação dos alunos estavam, contudo, próximas e não tinha possibilidade de ficar em casa de baixa, até porque não tinha nenhum colega que me substituísse», lamenta. A médica fê-la prometer que, no final desse período, começaria então uma fase de baixa por doença. E assim foi. «Continuei até dezembro. Lancei as notas com um enorme esforço pessoal», assinala. Nos primeiros tempos de medicação, sentia muito sono.
O apoio da família
Em janeiro de 2010, a médica de família aconselhou Maria Teixeira a consultar um psiquiatra. Apesar da indecisão inicial, que considera ser um sentimento partilhado por muitas pessoas afetadas por problemas do foro psiquiátrico, seguiu o conselho. «Os meus pais e a minha irmã insistiram imenso comigo e decidi avançar com o apoio especializado de um psiquiatra», salienta Maria Teixeira.
A família, aliás, foi uma excelente aliada na sua recuperação e nunca desistiu de a ajudar. Começou então a ser seguida em consultas de psiquiatria no Hospital de Santa Maria. «A médica que me acompanhou colocou-me imediatamente à vontade, foi sempre afável. Inicialmente falava mais do que eu. O primeiro impacto é um pouco estranho mas, depois, habituamo-nos à rotina das consultas», diz a professora.
As consultas de psiquiatria
Para Maria Teixeira, o grande desafio do paciente passa «por explicar ao psiquiatra as preocupações que tem e aquilo que o deixa ansioso». Nem sempre é fácil mas os resultados, a médio/longo prazo, podem ser muito satisfatórios.
«Quando saía das consultas, sentia uma grande motivação para reagir, para não me fechar em casa e para sair sempre que possível. Comecei a praticar hidroginástica, incentivada pela família, para relaxar e desligar do problema», recorda Maria Teixeira.
Aos poucos, foi recuperando a alegria de viver e também o apetite. «Voltei a engordar os quilos que tinha perdido e mais uns quantos», explica-nos entre risos.
O final da baixa
«Estive de baixa de 4 de janeiro a 4 de agosto de 2010, algo que nunca imaginei. Cada vez que se aproximava o final da baixa, ficava em pânico pois sabia que tinha de repor todas as aulas a que tinha faltado. Nesses momentos, voltava a sentir ansiedade. Sabia que, naquele momento, não tinha condições mentais nem físicas para aguentar essa situação», explica. As baixas tinham a duração de um mês e eram renováveis pela médica de família, numa primeira fase, e pela psiquiatra, posteriormente.
«Só quando me mentalizei que jamais voltaria para a escola, mesmo que não me renovassem a baixa, é que comecei realmente a serenar», desabafa. Depois das férias, recandidatou-se e foi colocada numa nova escola no Alentejo. «Tem sido uma experiência muito mais calma e, pela primeira vez, estou a lecionar para adultos, o que é muito positivo», refere ainda. Nesta zona do país, recuperou alguma paz de espírito. «Fui muito bem recebida, havia muita camaradagem entre as colegas», afirma Maria Teixeira.
A fase de remissão
Ao contrário de muitas pessoas afetadas pela depressão, Maria Teixeira nunca escondeu o seu problema. «Não é um assunto problemático e não me importo de falar nele. Não é algo de que me envergonhe», assume. Atualmente, a tristeza intensa e permanente que sentia e os sintomas de ansiedade que a acompanhavam estão praticamente ultrapassados.
A depressão entrou em fase de remissão e, como tal, Maria Teixeira encontra-se ainda sob controlo especializado. «Não me foi retirada a medicação na totalidade, mas vou em breve entrar na fase de desabituação dos antidepressivos e tomar uma dose mais pequena», afirma ainda.
A vida depois da depressão
«Se antes tinha muita dificuldade em rir-me, neste momento, isso já não acontece. Recuperei os quilos que tinha perdido e comecei a alimentar-me adequadamente», realça.
«Nunca tive pensamentos muito destrutivos, mas aprendi a ser mais tranquila. Não penso tanto nos problemas e no que poderá acontecer amanhã», conta.
Hoje, Maria Teixeira não faz projetos a longo prazo.
Tenta viver um dia de cada vez, sabendo que «virão momentos melhores». Mas tem uma certeza. «Sei que não quero voltar a sentir-me da mesma forma. Manter a saúde mental é fundamental para seguirmos em frente», assegura.
Os conselhos de Maria Teixeira
- Não se isole. As pessoas que sofrem de depressão devem sair, distrair-se, não ficar em casa.
- Procure ajuda especializada quando sentir que algo não está bem. É fundamental ser seguido por um psiquiatra.
- Veja o psiquiatra como um amigo. As consultas são como ter uma conversa com amigos. O psiquiatra está ali para nos ajudar e é ele nos dá a motivação necessária para cumprirmos o tratamento.
- Rodeie-se de pessoas importantes. Quem gosta de nós nunca desiste. Procure a família, os amigos e um psiquiatra.
- Abstraia-se dos problemas. Tente desligar-se do assunto que lhe provoca ansiedade.
Texto: Cláudia Pinto
Fotografia: Artur
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