Vai iniciar brevemente um novo ano letivo. As férias foram certamente um momento de convívio com a família e amigos, lazer, recuperação de energia física e descanso da mente. Neste regresso às aulas, torna-se fundamental ter em atenção alguns pontos fundamentais para garantir o bem-estar das crianças. Saiba quais:
A ansiedade do regresso à rotina
É normal, nomeadamente nos mais novos, que sintam nesta fase, um certo grau de ansiedade pelo retomar das aulas, contacto com possíveis novos colegas e professores e pela aprendizagem de novas temáticas, tão importantes para o desenvolvimento intelectual de cada criança.
Esta ansiedade é mais significativa quando a criança transita da escola primária para o 5º ano, onde a mudança requer novos desafios e diferentes professores. Os pais têm um papel importante neste período, podendo dar conselhos para minimizar o stress e até partilhar as suas experiências durante a juventude.
Caso a ansiedade permaneça durante muito tempo ou interfira na realização das habituais rotinas e tarefas é importante procurar o pediatra.
O peso das mochilas
Outro assunto importante a realçar é o peso excessivo de material escolar que, de alguns anos para cá, os jovens estudantes levam nas suas mochilas, o que acaba, muitas vezes, por provocar dores crónicas nas costas com tendência para a posição de cifoescoliose (curvatura anómala da coluna). Nunca é demais salientar que o peso da mochila deve ser equivalente a 10% do peso corporal da criança. Apesar de ser matematicamente difícil atingir este objetivo, pelas disciplinas diárias, os educadores devem fazer um esforço para que esta meta seja alcançada.
Prevenir as infeções
É frequente, no outono e inverno, muitos alunos faltarem às aulas por causa de infeções virais, como gripe ou covid. Embora estejamos (felizmente) numa era pós pandemia, em caso de sintomas e de infeção respiratória, aconselha-se a utilização de máscara.
Não devemos perder estes bons hábitos que adquirimos na pandemia, juntamente com as lavagens das mãos, eficazes para evitar a disseminação dos vírus.
Estar atento a sinais de bullying
Outro problema importante a salientar, é o diagnóstico atempado por parte dos pais e professores de crianças e jovens vítimas de bullying físico, psicológico, verbal e social, não podendo esquecer nunca do ciberbullying, hoje em dia frequente por causa do uso e abuso das redes sociais. Nunca é demais relembrar que os sintomas estão bem definidos: isolamento, depressão, ansiedade e medo de ir à escola, entre outros. As vítimas devem ser sinalizadas, com uma abordagem multidisciplinar envolvendo os pais, professores, colegas da escola, psicólogo e pedopsiquiatra, sempre com a finalidade de recuperar a sua autoestima, a imagem perante a sociedade e o respeito dos outros.
Perturbação de hiperatividade e défice de atenção
Para finalizar, não queria deixar de falar sobre as crianças com Perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA). Cada vez mais vemos crianças com este diagnóstico que pode interferir na aquisição de conhecimentos. Uma criança pode ter défice de atenção e não ser hiperativa. É, por isso, fundamental distinguir se de facto a criança é portadora da PHDA, existindo métodos próprios para o diagnóstico, evitando muitas vezes um tratamento inapropriado para esta situação.
Como pediatra, relembro a importância destes assuntos, que devem ser diagnosticados, abordados e orientados atempadamente. É importante estarmos atentos aos pequenos detalhes porque ganhamos tempo no diagnóstico, evitando deste modo sequelas físicas e emocionais irreversíveis.
Para todos, um bom regresso às aulas!
Um artigo de Jorge Sales Marques, coordenador de Pediatria no Hospital CUF Trindade e pediatra na Clínica CUF S. João da Madeira.
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