Qual a principal doença oral associada à diabetes?
A diabetes, como qualquer outra doença, necessita de cuidados, desde a injeções de insulina, à toma de comprimidos antidiabéticos e aos simples controlos diários de glicemia. Em jejum, os valores normais de açúcar (glicose) no sangue devem variar entre 70mg/dl e 100mg/dl, enquanto que após as refeições os valores podem oscilar até 140mg/dl. Em quadros de diabéticos não controlados, por longos períodos, a partir de 126mg/dl em jejum e de 200 mg/dl após refeições, a principal consequência a nível oral é a doença periodontal - periodontite.
O que se entende por doença periodontal?
As doenças periodontais são infeções causadas por bactérias que afetam o periodonto, ou seja, os tecidos que envolvem e suportam os dentes. Os tecidos em causa são a gengiva, o osso e o ligamento periodontal (fibras que estabelecem a união entre a raiz do dente e o osso).
As doenças periodontais dividem-se em dois grupos, as gengivites e as periodontites. O que difere de uma para a outra é que a primeira caracteriza-se por ser uma doença inflamatória totalmente reversível, enquanto que a segunda é uma inflamação onde ocorre uma destruição dos tecidos mais profunda e de modo irreversível. De referir que uma gengivite quando não corretamente tratada poderá evoluir para uma periodontite.
Estima-se que a periodontite atinja, de alguma forma, 3 em cada 4 pessoas adultas, surgindo os primeiros sinais a partir dos 35/40 anos de idade, enquanto a gengivite seja transversal à maioria adultos e crianças.
A periodontite, para além de estar associada à acumulação de bactérias, também estabelece uma relação com fatores genéticos, hábito tabágico e à diabetes descontrolada. Quando culminados assumem-se como fatores sinérgicos que promovem o agravamento da doença.
Quais as consequências da periodontite?
Esta doença, além de apresentar consequências na cavidade oral, também pode apresentar consequências a nível sistémico (em todo o organismo).
A retração das gengivas, a exposição de raízes dentárias e, por fim, a perda dentária, por falta de suporte (gengiva, osso e ligamento periodontal), é uma das principais consequências intra-orais de uma periodontite. A mobilidade dentária, previamente à perda dentária, é uma realidade em pessoas com periodontite, que poderá traduzir-se numa maior impactação alimentar e disfunções aquando da atividade mastigatória.
As consequências sistémicas prendem-se com a circulação na corrente sanguínea de toxinas ou fatores inflamatórios, produzidos pelas bactérias periodontais que podem afetar o organismo ou agravar doenças, como é o caso da diabetes.
Qual a relação entre a diabetes e a periodontite?
A relação entre a diabetes e a periodontite é bidirecional, ou seja, o estado de uma pode comprometer o estado da outra. Por um lado, uma pessoa portadora de uma periodontite não controlada tem um risco maior em desenvolver pré-diabetes ou até mesmo diabetes tipo 2, por outro lado, quanto mais descontrolada for a diabetes a severidade desta doença periodontal pode piorar.
Como posso prevenir e/ou controlar a periodontite?
A melhor forma de prevenir e/ou controlar esta doença passa por erradicar os fatores desencadeantes que promovem o seu agravamento. Assim sendo é impreterível ser exímio no controlo de placa bacteriana, no controlo da diabetes e que se erradique o hábito tabágico, caso exista.
Dicas importantes relativamente à remoção de placa:
- Utilizar, no mínimo, 1 vez por dia fio dentário, preferencialmente à noite e previamente à escovagem;
- Utilizar escovilhão dentário sempre que se justifique;
- Realizar, no mínimo, 2 escovagens, de manhã e à noite, qualquer uma delas sempre após as refeições;
- Finalizar com um bochecho antibacteriano adequado a cada caso.
Igualmente importante é realizar consultas de higiene oral de forma regular, de modo a apostar na prevenção e no controlo desta doença. O intervalo de tempo entre as consultas deve ir ao encontro das necessidades de cada pessoa, sendo que informar o seu higienista oral ou médico dentista que é portador de diabetes é deveras importante para ter um acompanhamento personalizado e eficaz.
Um artigo de Rui Cabral Morgado, Técnico Especialista em Medicina Dentária na Clínica CUF Medicina Dentária Braamcamp e no Hospital CUF Sintra.
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