Um grupo de cientistas irlandeses anunciou, nos últimos dias de julho de 2017, um novo e promissor tratamento para o cancro da mama triplo negativo. Segundo os especialistas do Breast-Predict, um organismo afeto ao Irish Cancer Society Collaborative Cancer Research Centre, um reputado centro de investigação do país, um novo fármaco, apelidado THZ-1, pode travar a evolução da doença, noticia a revista especializada Cancer Research.
A informação é avançada numa altura em que é também divulgado um novo teste de deteção do cancro da mama através do sangue. Uma espécie de «biópsia líquida», como já lhe chamou o jornal britânico The Independent, que deteta o ADN do tumor e consegue identificar alterações em 13 genes em simultâneo, como atesta um estudo feito com 42 voluntárias, publicado no jornal Clinical Chemistry.
Nos EUA, uma pesquisa da Universidade de Queensland, financiada pelo Cancer Council Queensland, também permitiu a descoberta de uma nova forma de atacar um cancro da mama raro. «O estudo descobriu que um canal celular, o TRPV4, que age como um sensor para as células normais, existe em níveis muito superiores nalguns casos de cancro», assegura Gregory Monteith, professor da UQ School of Pharmacy e da Mater Research Institute-UQ.
«Descobrimos que, em vez de mudar a proteína para impedir o cancro da mama de crescer ou de ganhar metástases, podemos ativá-la para causar a morte das células [na origem] do cancro da mama», assegura o especialista. Entretanto, a University of Wisconsin Carbone Cancer Center, nos EUA, também tem em curso um estudo, a cargo do professor e oncologista Mark Burkard, para tentar descobrir os segredos das mulheres que conseguiram sobreviver a cancros da mama mais agressivos.
Trunfos da ciência quando o cancro acontece
Apesar de muitas das novas terapêuticas ainda estarem atualmente em estudo, existem abordagens médicas que têm vindo a salvar milhões de mulheres em todo o mundo:
- Cirurgia
Em cerca de 80% dos casos, o cancro é removido através da cirurgia conservadora, em que apenas se retira o cancro e algum tecido normal que esteja à volta e um dos gânglios linfáticos (técnica de gânglio sentinela). Nos restantes casos, é retirada a totalidade da mama onde se encontra o cancro (mastectomia total) ou remove-se toda a mama e alguns gânglios linfáticos que estão por baixo do braço (esvaziamento axilar).
- Radioterapia
Envolve raios-x de alta energia ou outros tipos de radiação para destruir as células cancerígenas ou não permitir que cresçam. «Após uma cirurgia conservadora, é sempre necessário fazer radioterapia, mas também pode ser usada após uma mastectomia e em lesões metásticas», explica Fátima Cardoso, oncologista, médica e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa.
- Quimioterapia
É um tratamento sistémico (que circula por todo o organismo) e que destrói sobretudo as células que crescem rapidamente. Pode ser tomada por via oral ou injetada numa veia.
- Terapia hormonal
Pode ser feita com Tamoxifeno ou inibidores de aromatase. Mais recentemente, surgiram dois novos medicamentos. Um deles é o Everolimus, que visa atacar a célula tumoral em vários pontos em simultâneo, para que não ganhe resistência ou para que seja adiada. O outro é o Palbociclib, que também tenta evitar/adiar a resistência à hormonoterapia e tem menos efeitos secundários.
- Imunoterapia
Utilizada no subtipo de cancro da mama Her-2, envolve a utilização de anticorpos contra o recetor Her-2. Existem dois novos tratamentos. Um deles envolve a combinação do novo Pertuzumab com o Trastuzumab (o tratamento mais antigo) que, acredita-se, pode vir a ter uma taxa de sucesso superior a 80 por cento. O outro tratamento, o T-DM1, penetra nas células tumorais, libertando apenas aí a quimioterapia, diminuindo muito os efeitos secundários.
- Cancro da mama avançado
Continua a ser um problema. «Mesmo com os melhores tratamentos, 30% dos casos de cancro da mama vão recidivar (reaparecer), dando origem ao cancro da mama avançado que é uma doença tratável mas incurável», adverte a especialista. Quando ocorre, há doentes que se sentem culpadas, mas tal não deve acontecer», relata Fátima Cardoso, oncologista médica.
Veja na página seguinte: Os subtipos de cancro da mama mais comuns
3 subtipos de cancro da mama
Existem três grandes subtipos desta doença. Dois deles caracterizam-se pela presença de recetores (proteínas). Fátima Cardoso, oncologista médica, explica o que os distingue e em que percentagens:
- Recetor hormonal positivo em 70% dos casos
«Os recetores são uma espécie de antenas, que existem nas células, a que as hormonas em circulação (nomeadamente o estrogénio) se ligam. Quando isso acontece, acelera-se, ao nível do ADN, a ativação de estímulos para que o tumor cresça», explica.
- Her-2 + em 15% a 20% dos casos
«Os Her-2+ são recetores que dão informação às células para se reproduzirem, estimulando o crescimento do tumor. É agressivo e cresce rapidamente, mas é o tipo de cancro que sabemos tratar melhor porque se descobriu como bloquear estas antenas», sublinha a especialista.
- Triplonegativo em 12% a 15% dos casos
«É assim denominado por não ter recetores hormonais nem recetor Her-2», esclarece Fátima Cardoso. «É o subtipo mais grave e agressivo. É mais frequente nas mulheres jovens», realça a médica oncologista.
Texto: Luis Batista Gonçalves, Catarina Caldeira Baguinho e Nazaré Tocha com Fátima Cardoso (oncologista, médica e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud em Lisboa)
Comentários