Portugal não foge à regra. Numa população feminina de cerca de cinco milhões de mulheres, são detetados anualmente, pelo menos 4.500 novos casos de cancro da mama por ano, o que corresponde a uma média de 11 novos casos por dia. Em 2003, segundo a Sociedade Portuguesa de Senologia, morriam, em média, entre quatro a cinco mulheres diariamente. Um relatório da OCDE de 2016 revelou, contudo, uma mudança de paradigma.
As portuguesas são das que mais sobrevivem à doença mas a patologia continua a exigir vigilância. Existem, no entanto, vários tipos de cancro da mama, pelo que a realização de exames é fundamental para a obtenção de um diagnóstico fidedigno. Fátima Cardoso, oncologista medica, diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa, sintetiza a forma como a medicina responde a doenca, em função da sua origem:
- Recetor hormonal positivo
"É um cancro hormodependente", explica Fátima Cardoso. "É o mais frequente", sublinha a oncologista. "Cerca de 70% dos casos são deste tipo", esclarece ainda a especialista. O tratamento mais importante é a hormonoterapia com tamoxifeno ou inibidores da aromatase.
"Na circulação, as hormonas ligam-se aos recetores hormonais, que funcionam como uma espécie de antenas e alimentam o tumor, dizendo à célula para se multiplicar. O tamoxifeno bloqueia os recetores, cortando o alimento e matando as células cancerosas. Os inibidores de aromatase atuam nas hormonas", refere ainda Fátima Cardoso.
- HER-2 +
"Cerca de 15% a 20% dos cancros da mama são HER-2 +, recetores que dão informação às células para se reproduzirem, estimulando o crescimento do tumor. É agressivo e cresce rapidamente, mas é também aquele em que houve os maiores avanços no tratamento. Hoje, é o que sabemos tratar melhor porque se descobriu como bloquear estas antenas", refere a médica.
"Trata-se este tipo de cancro utilizando um tratamento de imunoterapia ou tratamento biológico, um anticorpo chamado trastuzumab que bloqueia os recetores HER-2 e, assim, o crescimento das células tumorais. Nos últimos anos, outros tratamentos anti-HEr têm sido desenvolvidos, sobretudo, para o cancro da mama avançado", acrescenta Fátima Cardoso.
- Triplonegativo
"Assim denominado por não ter recetores hormonais nem recetor Her-2, é o subtipo mais grave e agressivo. representa cerca de 12% dos cancros da mama e afeta, sobretudo, mulheres jovens", sublinha a investigadora portuguesa. Ao nível do tratamento para este tipo de cancro da mama, "a única esperança é a quimioterapia. Existe muita investigação, incluindo em Portugal, para se tentar descobrir tratamentos dirigidos", afirma ainda a especialista.
O que depende de si
Manter-se saudavel não garante que esteja a salvo, mas ajuda a protege-la, indicam estudos reunidos pela American Cancer Society. Estes são alguns dos fatores em que pode intervir:
- Gordura
Os estudos sobre os benefícios das vitaminas na prevenção do cancro da mama são controversos. Nenhuma investigação comprovou que consumir vitaminas pode ser benéfico para a doença. A única evidência foi encontrada numa alimentação muito rica em gorduras, que está relacionada com risco aumentado de vários cancros, em especial o do cólon.
- Obesidade
Propicia o aparecimento da doença. Depois da menopausa, quando os ovários deixam de produzir estrogénio, a maior parte do estrogénio vem dos tecidos adiposos. Quanto mais gordura existir, mais estrogénio irá ser produzido, além dos níveis de insulina também serem superiores. Estes dois fatores estão ligados a vários cancros, incluindo o da mama.
- Álcool em excesso
Aumenta o risco de cancro da mama. Segundo um estudo publicado no Journal of the American Medical Association, mulheres entre os 18 e os 40 anos que consomem três a seis copos de vinho por semana têm mais 15 por cento de hipóteses de vir a sofrer da doença.
- Stresse
Suspeita-se que possa favorecer o aparecimento de cancro, mas os estudos ainda não descobriram uma relação direta com o cancro da mama. Até ao momento, apenas se explica a sua interferência pelo efeito debilitante que tem ao nível da ação do sistema imunitário.
- Atividade física
Praticar exercício de forma regular ajuda a prevenir a doença. Várias pesquisas demonstraram que a marcha rápida durante uma hora e meia a duas horas e meia por semana reduz o risco de cancro da mama em 18%. Caminhar dez horas semanalmente diminui o risco ainda mais. O exercício físico está também associado a menor risco de recidiva em quem já teve cancro da mama.
- Tabaco
A ciência ainda não descobriu uma associação clara entre o tabaco e o cancro da mama, como acontece com o tumor do pulmão e em órgãos como o esófago, a boca, a faringe, a laringe e até a bexiga. Por ser uma agressão geral ao organismo, os médicos acreditam que os seus químicos podem potenciar a doença.
Texto: Fátima Lopes Cardoso com Fátima Cardoso (oncologista médica e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud)
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