A multidisciplinaridade na área da saúde surge com como resposta a necessidades que provêm da contínua evolução cientifico-tecnológica neste campo, juntamente com a expansão das necessidades sociais do ser humano.
Conceptualmente, as equipas multidisciplinares circunscrevem-se a um conjunto de profissionais com especialidades distintas que, em conjunto, visualizam o doente sob ângulos diferentes, explorando-os e enriquecendo-os. O trabalho em conjunto das várias especialidades médicas, conforme as necessidades do doente tem um objetivo uno e indivisível: uma melhor solução de tratamento.
Nas doenças crónicas é essencial haver uma abordagem multidisciplinar, que envolva os aspetos clínicos e as repercussões psicológicas e sociais, tanto para a criança como para a família. Uma relação caracterizada pela boa comunicação entre a criança, a família e a equipa terapêutica auxilia a tomada de consciência sobre a extensão, e gravidade da doença bem como sobre a adesão da criança e da família ao tratamento.
O atual conhecimento científico preconiza o diagnóstico precoce, a intervenção terapêutica atempada e individualizada, o apoio ao doente, assim como a monitorização da atividade das várias doenças imunomediadas. Possibilitar que a doença crónica tenha o menor impacto possível na criança e no adolescente, na sua vida pessoal, familiar e social, diminuindo sentimentos de medo, insegurança, desconforto, tensão e dor, é seguramente o objetivo de todos os presentes.
Imaginemos o medo que uma criança sente ao entrar num hospital, não só por ser algo desconhecido mas, também, por saber que algo não está bem. Este receio é ainda superior se a criança estiver hospitalizada por um longo período de tempo.
Neste momento de maior aflição, a criança sente-se mais descansada e protegida com o apoio de mais do que um profissional médico. Esta presença constante de uma equipa composta por médicos de diferentes áreas permite que a criança acredite que vai ultrapassar seja o que for que se passe com ela.
Os pais da criança doente também são de extrema importância neste momento, pois são estes que, mesmo inconscientemente, transmitem uma série de sensações à criança – sejam estas sensações de pânico, medo ou angústia. Assim, a existência desta equipa multidisciplinar que se complementa entre si com uma visão integrada - que permite uma maior eficácia na prevenção, diagnóstico, tratamento e recuperação do doente – relaxa a angústia que os pais possam sentir. Ao acreditarem que o seu filho está em boas mãos, a ser cuidado por uma equipa de médicos especializados em várias frentes conseguem transmitir à criança doente alguma pacificidade num momento de difícil compreensão.
Focando a nossa atenção no Connecting Kids Care e nas especialidades abrangidas na discussão, importa referir que, por exemplo, na prática de Gastrenterologia Pediátrica, são muito frequentes as situações em que os doentes apresentam sinais ou sintomas de outros aparelhos e sistemas que nem sempre respondem de forma paralela ao aparelho digestivo com as medidas terapêuticas empregues. Há também um número crescente de doentes que são identificados com doença inflamatória intestinal a partir de sinais e sintomas extraintestinais. Há ainda os efeitos laterais não digestivos dos tratamentos usados. Por todas estas razões, o diálogo e interação com outras especialidades tem enorme importância para promover bem-estar e melhoria aos nossos doentes. Assim, todas as oportunidades de trocar informação e experiências enriquecem-nos e ajudam a antecipar e resolver problemas da prática clínica.
No caso da dermatologia pediátrica a abordagem multidisciplinar faz também todo o sentido porque quando se faz uma abordagem em colaboração com outros colegas que seguem uma mesma criança conseguimos sempre ficar mais atentos aos pormenores da evolução clínica e terapêutica, com franco benefício para a criança. Do ponto de vista prático, a discussão com outros colegas da área da pediatria permite compreender melhor os quadros clínicos, facilitando os diagnósticos, bem como as opções terapêuticas e, desta forma, a criança tem um acesso mais fácil às diferentes subespecialidades e ao tratamento correto mais atempadamente.
Em reumatologia o trabalho em equipa centralizada e coordenada, entre várias especialidades médicas e técnicos de saúde, tem a vantagem de proporcionar aos nossos doentes, em cada momento e de acordo com as suas necessidades, os cuidados de saúde de excelência de que eles carecem. Este trabalho coordenado, a bem da criança, não deve ser entendido como uma redução das obrigações e disponibilidade de cada um. Antes pelo contrário, para que possa frutificar e apoiar adequadamente a criança, cada um dos envolvidos deve proporcionar-lhe a sua melhor atenção e todo o tempo que seja necessário para ajudar a resolver os problemas diagnósticos ou terapêuticos em questão ou proporcionar o melhor seguimento da doença e dos doentes. Só com trabalho conjunto e coordenado se conseguem atingir estes objetivos.
Por
Jorge Amil Dias, gastroenterologista pediátrico
José Melo Gomes, reumatologista pediátrico
Juliana Batista, dermatologista pediátrica
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