Humor, desejo sexual, energia… O ciclo menstrual influencia muitos aspetos da sua vida. Conheça as suas várias etapas para minimizar o seu impacto ou tirar delas o melhor partido. A culpa é das hormonas! Devido às suas flutuações cíclicas, comandadas pelo sistema nervoso central, dão-se no organismo feminino transformações que ocorrem em três fases e devem completar-se em 21 a 35 dias. O processo chama-se ciclo menstrual por ser a causa fisiológica da menstruação, mas a sua influência está longe de se resumir a esse aspeto.

Este compasso afeta o físico, a psique e as emoções, configurando o palco onde decorrem as vivências femininas. «Embora todas as mulheres sejam diferentes e uma mesma mulher possa sentir cada ciclo de forma diferente, porque a produção hormonal não é igual todos os meses, é importante sabermos que sofremos alterações normais e passageiras relacionadas com o ciclo a menos que façamos um contraceptivo hormonal. Se nos conhecermos, conseguimos prevê-las e adotar medidas adequadas», ensina Tereza Paula, ginecologista. Faça esta visita guiada pelo mais feminino dos ritmos.

Fase 0: Menstruação (Dias 1 a 4)

Considera-se como primeiro dia do ciclo aquele em que surge a menstruação. Por não ter ocorrido gravidez, o revestimento do útero (endométrio) é eliminado, juntamente com sangue, o que pode demorar quatro a seis dias. O fluxo pode ser castanho-escuro (sobretudo nos últimos dias de menstruação) e/ou ter coágulos (mais comuns quando o fluxo é abundante, pelo que os anticoagulantes do organismo não têm tempo de atuar).

Neste período, pode sentir dores moderadas a severas na zona pélvica, nas pernas ou nas costas, devido às contrações uterinas, que promovem a libertação do endométrio. Se tiver fluxos muito abundantes e não tiver um estilo de vida adequado pode existir risco de anemia.

O que pode fazer:

- Sobretudo se tiver fluxos muito abundantes, reforce a ingestão de alimentos ricos em ferro, como carne (em doses moderadas), peixe, ovos, legumes de folha verde escura e cereais integrais, para reduzir o risco de anemia.

- Evite a prática de exercício físico extenuante.

- Para aliviar as dores menstruais, se não quer recorrer a analgésicos, pode ser útil reforçar o repouso, evitar fumar, consumir bebidas alcoólicas ou com cafeína e alimentos salgados, bem como tomar um banho quente ou usar uma almofada quente para apoiar o abdómen ou a zona lombar.

Fase 1: Fase folicular (Dias 5 a 15)

Caracteriza-se pelo aumento de produção da hormona folículo-estimulante (FHS), produzida no cérebro, que promove o desenvolvimento dos folículos que contêm óvulos. Um deles será o folículo dominante, destinado a ovular, e irá emergir à superfície do ovário, produzindo estrogénio, que irá inibir a produção de FHS. A duração deste processo determina a duração do ciclo menstrual.

O estrogénio estimula o espessamento do revestimento uterino, preparando uma possível gravidez. Os últimos três dias desta fase e os três dias posteriores à ovulação constituem o período fértil (aquele em que há maior probabilidade de engravidar se tiver relações sexuais sem usar contraceção.

Nesta fase, o corrimento vaginal é segregado em pouca quantidade, com uma textura espessa e pegajosa e cor esbranquiçada ou amarelada. Progressivamente, aumenta em quantidade e humidade e torna-se transparente. «Em algumas mulheres, parece haver um aumento da libido na altura da ovulação, o que parece estar relacionado com o instinto de sobrevivência e de preservação da espécie», refere Tereza Paula.

O que pode fazer:

- Se está a tentar engravidar, evitar situações de stresse ou tensão (como a pressão psicológica de querer muito engravidar) aumenta a probabilidade de o conseguir.

- Ter um peso adequado é importante. Cerca de 12 por cento dos casos de infertilidade devem-se ao facto de as mulheres terem peso a mais ou a menos.

- Regular os horários de sono e de descanso e os das refeições, eliminar alimentos pouco saudáveis (peixes com mercúrio, cafeína, álcool, carne devido à presença de antibióticos e hormonas esteroides), deixar de fumar e praticar regularmente exercício físico moderado também favorece a fertilidade.

- São desaconselhados banhos e irrigações vaginais na primeira meia hora após a relação sexual.

Fase 2: Fase luteínica (Dias 16 a 28)

Inicia-se no dia da ovulação. Aquele em que, graças a um aumento da hormona luteinizante (LH), que estimula o folículo dominante, este rebenta e liberta o óvulo, que flutua pela trompa de Falópio. O folículo rebentado forma um corpo lúteo, amarelo, que segrega progesterona para espessar o revestimento do útero, preparando-o para receber o óvulo fertilizado.

Se houver gravidez, os níveis de progesterona estabilizam e a menstruação desaparece até ao parto. Caso contrário, os níveis de progesterona decaem, o revestimento uterino desfaz-se e surge a menstruação e um novo ciclo menstrual. Nesta fase, que pode ser mais ou menos prolongada, pode sentir os sintomas da síndrome pré-menstrual (SPM), nomeadamente «edema, associado à retenção de líquidos, que pode gerar sensação de peso, cansaço e tensão mamária», alerta Tereza Paula.

«Em muitas mulheres, esta é tão acentuada que ficam impossibilitadas de dormir de bruços», descreve a ginecologista. As enxaquecas tendem a tornar-se «mais sintomáticas, com auras, de tal maneira que há pessoas que para as tratar têm de tomar a pílula de forma contínua», adverte. Outras alterações são «compulsões alimentares, nomeadamente desejo de doces» e humor instável, tristeza, irritabilidade, falta de concentração e, até, sublinha a ginecologista, falta de capacidade de julgar.

«Tenho doentes que evitam tomar decisões importantes nesta fase porque sentem que as suas capacidades de decisão estão alteradas», afirma. O corrimento transparente e líquido (semelhante à da clara de ovo), em quantidade máxima, típico da ovulação, dá lugar a um corrimento branco, espesso e opaco, com diminuição progressiva da quantidade. Devido à menor acidez do PH vaginal antes da menstruação, há maior risco de candidíase.

O que pode fazer:

- Reduzir o stresse, que agrava os sintomas da SPM, e praticar exercício aeróbico (nadar e caminhar são boas opções), que ajuda a melhorar o humor e atenua a severidade dos sintomas.

- Comer snacks saudáveis em intervalos regulares, eliminar a cafeína e a nicotina, evitar alimentos salgados e fazer refeições com hidratos de carbono e pobres em proteína também pode ajudar.

- Aplicar patches frios na testa e nas têmporas, alternando entre períodos de 15 minutos com e sem o patch aplicado, pode aliviar as enxaquecas, evitando a toma de analgésicos.

- Para minimizar os efeitos da retenção de líquidos, evite usar roupas muito justas.

- Se costuma ter candidíases (manifestadas através de prurido e/ou alterações do corrimento) pode minimizar o risco usando produtos específicos de higiene feminina, que promovem a acidez protetora do PH da vagina.

- Aconselhe-se com o seu médico sobre as vantagens da toma de suplementos (cálcio e vitamina B6) e de medicação (pílula e antidepressivo) para tratar a SPM.

O que (também) pode acontecer quando não há ciclo menstrual:

- Contraceção hormonal
A pílula e outros contracetivos hormonais interferem na oscilação natural dos níveis hormonais, inibindo a ovulação. Sendo esta a fase em que o desejo está mais ativo, pode haver uma diminuição da libido. Se for o caso, fale com o seu médico.

- Amamentação
O ciclo menstrual é imprevisível. Pode existir ou não. Há que fazer uma contraceção eficaz, seja local (preservativo, dispositivo intrauterino) ou hormonal (obedecendo a uma prescrição específica). A atrofia vaginal (maior risco de infeções, desconforto ou dor durante as relações) pode ser aliviada com a aplicação local de cremes hormonais. Há uma necessidade aumentada de cálcio (suplementação), entre outros cuidados alimentares.

- Menopausa
Representa o fim definitivo dos ciclos menstruais. Devido à falência da produção hormonal, há um declínio da quantidade e qualidade dos óvulos produzidos e a ovulação desaparece. Os sintomas da síndrome pré-menstrual dão lugar a afrontamentos, suores frios, atrofia urogenital, entre outros. Aconselhe-se com o seu médico sobre a necessidade de fazer terapêutica hormonal para aliviá-los.

Sinais de alarme

Marque consulta se tem:

- Corrimento vaginal com odor ou aparência pouco comuns ou acompanhado por dor ou prurido
- Coagulação excessiva ou coágulos maiores que uma moeda de um cêntimo
- Fluxo muito intenso acompanhado por fadiga, tonturas, pele e unhas pálidas
- Sangramento frequente entre períodos
- Menstruação irregular (mais de 90 dias sem período ou ciclos menstruais com menos de 21 ou mais de 35)

Quando o ciclo é irregular

«Um ciclo regular dura entre 21 e 35 dias. Se durar menos ou mais, convém investigar o que se passa, principalmente se era regular e deixou de o ser. As alterações do ciclo menstrual não são normais», sublinha Tereza Paula.

Causas possíveis:

- Prática intensa de exercício físico (atletas de alta competição mas não só)
- Stresse emocional
- Viagens
- Perda ou ganho excessivo de peso
- Desordens alimentares (anorexia e/ou bulimia)
- Toma de medicamentos (nomeadamente antidepressivos porque atuam no sistema nervoso central)
- Síndrome do ovário poliquístico, falência prematura dos ovários ou problemas mais graves, como tumores do ovário

Consequências mais comuns:

- Anemias agudas (mais comuns na adolescência ou perto da menopausa, quando pode não se menstruar dois ou três meses e depois ter-se fluxos muito abundantes, que podem levar a internamentos e transfusões).

- Risco de doenças do útero (nomeadamente hiperplasia do endométrio em mulheres perto da menopausa, que se não tratada pode evoluir para cancro).

Texto: Rita Miguel com Tereza Paula (assistente hospitalar de ginecologia-obstetrícia na Maternidade Dr. Alfredo da Costa em Lisboa)