Não é uma das patologias oncológicas mais mortais em território nacional mas não deixa de ser o mais maligno dos cancros de pele. A sua prevalência tem vindo a aumentar um pouco por todo o mundo. Os números compilados pelas autoridades globais são preocupantes. Segundo o relatório Globocan 2020, elaborado pela Agência Internacional para Pesquisa sobre o Cancro, um organismo afeto à Organização Mundial de Saúde, só em Portugal, em 2020, foram detetados 1.071 novos casos de melanoma.
Estes diagnósticos confirmados representam 1,8% do número total de cancros descobertos no nosso país. Entre janeiro e dezembro, esta doença matou 289 pessoas. Um rastreio atempado e a adoção de estratégias de prevenção da patologia teriam permitido reduzir esses números. O melanoma é causado por uma alteração dos melanócitos. Essa mutação faz com que estas células comecem a crescer descontroladamente, invadindo os tecidos circundantes.
Ao contrário do que possa pensar, as pessoas de peles mais claras não correm mais riscos do que as que exibem uma epiderme mais escura. Dado que os indivíduos de pele morena têm o mesmo número de melanócitos que as pessoas de tez mais pálida, a probabilidade de virem a desenvolver este tipo de cancro é semelhante, ainda que as suas manifestações possam variar de pessoa para pessoa. Nos homens, as lesões cutâneas tendem a surgir mais no tronco, nas costas, na cabeça e no pescoço.
Nas mulheres, aparecem tendencialmente nas pernas e no tronco. Podem ser causadas por uma exposição excessiva ao sol e, principalmente, à radiação ultravioleta, daí a importância de utilizar protetor solar no rosto e nas zonas mais expostas durante todo o ano, mesmo nos períodos de menos exposição social, como alertam os especialistas. O melanoma pode ainda ter origem em antecedentes familiares. As pessoas com muitos sinais e/ou com sinais atípicos também devem estar vigilantes.
A importância dos rastreios atempados
Apesar de o melanoma ter uma taxa de incidência inferior à dos outros tipos de cancro da pele, é um dos mais graves. Cerca de 95% dos casos de melanoma têm, no entanto, cura quando detetados numa fase inicial. Um estudo científico divulgado no início de abril deste ano pela publicação especializada Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention confirma a importância dos rastreios preventivos. Observar atentamente a pele em frente ao espelho é um gesto preventivo essencial.
Em caso de suspeita, deve consultar de imediato um dermatologista. Embora muitos melanomas possam ser reconhecidos pela sua aparência através da observação a olho nu, há especialistas que, para além de fazerem um exame à pele e de analisarem os fatores de risco do paciente, também recorrem à dermatoscopia, um procedimento não-invasivo muito utilizado em várias partes do mundo. O diagnóstico definitivo só se consegue, contudo, com uma biópsia, após a remoção da lesão suspeita. A avaliação de um anatomopatologista permitirá identificar as células cancerosas e determinar a terapêutica mais adequada, que pode passar por uma cirurgia.
As pessoas entre os 20 e os 40 anos devem fazer, idealmente, um check-up a cada três anos e, depois dos 40 anos, devem passar a realizá-lo anualmente. Esta rotina preventiva, recomendada pelos dermatologistas, deve incluir um exame à pele, uma avaliação ao historial familiar e uma análise aos restantes fatores de risco. Os gânglios linfáticos também devem ser examinados regularmente, uma vez que a sua inflamação pode indicar a presença de um (indesejável) melanoma disseminado.
Vacina em desenvolvimento
Em janeiro de 2020, a revista científica Nature Medicine anunciou que um grupo de investigadores americanos conseguiu desenvolver uma vacina contra o melanoma, ainda em fase de testes. Dos oito pacientes com este tipo de cancro que a experimentaram depois de terem sido operados para remover lesões cutâneas cancerígenas, seis não tiveram qualquer recidiva nos quatro anos seguintes, apesar da probabilidade de recidiva ser, segundo os cientistas, muito elevada.
Existem em Portugal várias organizações de apoio, como é o caso da Associação Melanoma Portugal, criada recentemente. A Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo, fundada em 1985, também disponibiliza informação e promove campanhas de sensibilização. Entre 10% a 20% dos pacientes morre num prazo de 5 a 10 anos após a deteção da doença em situações de diagnóstico tardio, apuraram os autores de estudos científicos internacionais divulgados publicamente.
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