Este Natal, as nossas filhas podem ter só um ano. Ou três. Talvez oito. Ou onze. Muito em breve serão suficientemente crescidas para começarmos a ver – a cada atitude, a cada opção e em cada relacionamento por elas construído – as mensagens que lhes pássamos, compreendendo que matriz construíram enquanto meninas, através do que observaram, viveram e interpretaram da realidade que então as rodeava.

Na era do photoshop e da manipulação de imagem, de corpos hiper-sexualizados e desprovidos de realidade, interessa pensar sobre que mensagens estamos a passar às nossas filhas sobre o seu corpo e, por conseguinte, sobre a sua sexualidade. Ou melhor, sobre o nosso corpo e a nossa sexualidade.

Elas, que nasceram tão perfeitinhas e, que crescem a ver-nos degladiar com “as maminhas”, “o nariz enorme”, a “maldita barriga” ou “as ancas demasiado largas” apesar de nunca terem duvidado da nossa beleza.

Precisamos de acreditar nos seus olhos e devolver-lhes também essa confiança: de que apesar de pequenas a sua opinião conta e que também elas estão - e são! – inteiras, que nada lhes falta e que não são só bonitas quando nos fazem as vontades.
Urge ensinar – dando o exemplo - que o corpo de cada uma merece ser respeitado, sem espaço para abusos verbais ou físicos.

As nossas filhas precisam ser respeitadas no seu intelecto e emocionalmente.

É preciso reconhecer que é tão importante perguntar-lhes “o que querem ser?” quanto perguntar “quem vão querer ser?” quando crescerem.

E a resposta a esta última faz-se de qualidades que decorrem da noção que têm de si próprias. Do si num todo. E, por isso, quão mais cientes estiverem do seu corpo, mais confiantes e mais felizes serão nos seus relacionamentos (todos eles, não só os amorosos).

As nossas filhas, como nós outrora, trazem consigo a sacralidade de uma sexualidade que ainda não aconteceu - e que sentimos ter de proteger a todo o custo; É, muitas vezes, este excesso de zelo que atira as meninas para um vazio que acabará por ser preenchido em conversas entre pares, ou via internet, porque nós deixámos escapar o momento de educar para a feliz descoberta na emergência da tão desejada protecção:

- “Eu nunca vou ser capaz de dar um beijo na boca – dizia a pequenita do alto dos seus 7anos a olhar a televisão – acho um nojo!”
- “Pois! – responde(m de imediato os medos d)a mãe – os beijos na boca são um nojo, querida!”

Precisamos reflectir sobre o quê e quem tentamos proteger nestes reflexos do dia a dia pois são eles que nos afastam de as encaminhar para uma sexualidade vivida de forma consciente e vibrante.

Precisamos olhar também para nós neste processo. Reconhecer as nossas feridas e analisar como as curámos – se as curámos – e dar-lhes, a elas, meninas, a oportunidade de viver a descoberta respeitada do seu corpo em felicidade plena.

Podemos escolher fazer parte desse processo, conduzindo-as para uma consciência de si enquanto ser único e capaz nas suas diferenças e particularidades.

Na verdade, podemos aproveitar e expandir o processo para nós próprias.

E se acaso formos mães de rapazes, também somos (ou fomos) filhas e podemos sempre transformar esta numa bonita história a dois tempos, resgatando a relação com a nossa Mãe  - e, por osmose, com todas as mulheres da nossa vida - lembrando que, como nós, também elas seguramente fizeram o melhor que conseguiram.

Patricia Lemos

Patrícia Lemos
Hipnoterapeuta e Educadora Menstrual e para a Fertilidade
www.patricia-lemos.com