A preservação da fertilidade masculina é feita através da colheita e criopreservação de espermatozoides. É um procedimento simples e que, na maioria dos casos, decorre sem quaisquer obstáculos.

A preservação da fertilidade feminina exige a realização de procedimentos mais invasivos fisicamente. Para preservar a fertilidade nas mulheres, é possível proceder a uma estimulação dos ovários, durante aproximadamente 12/14 dias, para a posterior colheita e criopreservação de ovócitos (vulgarmente denominados de óvulos).

A criopreservação de ovócitos é uma técnica reconhecida internacionalmente como bem estabelecida desde 2012, tornando-a, portanto, a opção preferencial. Mais tarde, após os tratamentos oncológicos e perante a possibilidade da mulher tentar uma gravidez, caso não o consiga de forma espontânea, será possível descongelar os seus ovócitos e fecundá-los com os espermatozoides do companheiro para a posterior transferência de embriões para o útero.

Outra técnica, ainda considerada experimental

No entanto, quando os tratamentos oncológicos são emergentes e não há tempo suficiente até ao seu início para a mulher realizar o protocolo de estimulação necessário para a colheita dos ovócitos, ou quando estamos perante o caso de uma rapariga pré-púbere, é possível preservar a fertilidade através de uma técnica ainda considerada experimental – a criopreservação de tecido ovárico. Esta consiste na extração de um ovário cirurgicamente, e no posterior congelamento do tecido ovárico.

Mais tarde, caso a mulher não consiga engravidar de forma natural, será possível reimplantar os fragmentos do tecido ovárico, previamente congelado, no ovário que ficou sob o efeito dos tratamentos oncológicos. Assim se espera que o tecido ovárico saudável consiga restaurar a atividade do ovário lesado.

No Serviço Nacional de Saúde Português, a realização de técnicas de preservação da fertilidade está indicada para quaisquer indivíduos que tenham patologias cujo tratamento envolva riscos para a sua função reprodutiva futura.

Atualmente, dada a tendência social para o adiamento da parentalidade para idades mais tardias e a diminuição da fertilidade com o aumento da idade na mulher, é cada vez mais abordada a possibilidade de se realizarem técnicas de preservação da fertilidade, não por doença, mas por outras razões pelas quais as mulheres desejem ser mães mais tarde. No entanto, em Portugal, a preservação da fertilidade social ainda não pode ser realizada no âmbito do Serviço Nacional de Saúde.

No âmbito do Serviço Nacional de Saúde, o Centro de Preservação da Fertilidade do Serviço de Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. é o único que tem instalações e uma equipa multidisciplinar próprias para o aconselhamento reprodutivo a estes doentes que procuram decidir em relação à preservação da sua fertilidade.

De notar que a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução encontra-se, atualmente, a fazer esforços para a criação de uma rede de referenciação nacional, incluindo os centros públicos que reúnem as condições necessárias para acompanharem os doentes em relação à preservação da sua fertilidade.

O número de doentes a procurar aconselhamento em relação à preservação da sua fertilidade, por referenciação do seu médico assistente ou por iniciativa própria, tem vindo a aumentar nos últimos anos.

No entanto, sabemos que ainda nem todos os doentes são devidamente informados em relação ao risco de infertilidade associado aos tratamentos que vão realizar e à possibilidade de preservarem a sua fertilidade antes de iniciarem a terapêutica. Mais ainda, ainda há vários doentes que são referenciados tarde demais, já depois de terem iniciado os tratamentos possivelmente lesivos para a fertilidade, impossibilitando, muitas vezes, a realização de qualquer técnica de preservação da fertilidade.

É importante ter em conta que a área da preservação da fertilidade é recente e que a incorporação destas opções na linha de tratamento dos doentes, muitas vezes, não é simples e tão rápida como seria desejável.

Neste âmbito, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução tem feito esforços na sensibilização e informação dos profissionais de saúde e da população em geral em relação aos riscos de infertilidade associados aos tratamentos, às opções de preservação da fertilidade e aos recursos disponíveis no nosso país.

Tendo isto em conta foram lançadas nas XXXII Jornadas de Estudos Internacionais da Reprodução duas novas iniciativas da nossa Sociedade: uma brochura com informação sobre Oncofertilidade elaborada especificamente para Oncologistas; e uma linha telefónica – a SOS Oncofertilidade – que estará disponível todos os dias úteis, através do número 800919940, das 9h às 18h, para esclarecer e orientar profissionais de saúde e doentes em relação à preservação da sua fertilidade.

Por Teresa Almeida Santos, Médica e Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução