A carraça, enquanto portadora de microrganismos, constitui um perigo para a saúde animal e, também, para a saúde pública.

Pode transmitir uma grande variedade de doenças, quer através da sua picada, quer através da sua ingestão quando o cão morde a pele ao sentir comichão.

O crescente aumento de animais de estimação está na origem do aumento do número de casos.

O cão, que cumpre as função de companheiro e de guarda, em particular, além da falta de cuidado por parte de alguns donos que não cumprem as condições de maneio nem de higiene básicas para os manter, associados ao facto do nosso clima ser cada vez mais quente, são fatores que contribuem decisivamente para a proliferação deste parasita.

As doenças transmissíveis por carraças (DTC) constituem uma situação preocupante, não apenas pelo incómodo que a carraça causa ao animal mas, sobretudo, pelas doenças que lhe pode transmitir, enquanto portadora de bactérias, vírus e outros agentes infecciosos. Este dossier informativo pretende clarificar o que são estas doenças, como se transmitem e como podem ser prevenidas.

Tipos de carraças

A carraça é um ectoparasita (parasita externo) que utiliza uma vasta gama de animais para se alimentar através do seu sangue, nomeadamente cães, gatos, aves, suínos, roedores e ruminantes, entre outros. Existem cerca de 800 espécies de carraças em todo o mundo, embora em Portugal apenas uma dezena dessas espécies tenha incidência.

As preferências alimentares das carraças, isto é, o animal hospedeiro que preferem para se alimentar, assim como a localização do corpo do mesmo, são diferentes para cada género/espécie de carraça. Por exemplo, a espécie Ixodes scapularis é mais frequente nos répteis e roedores, enquanto que a espécie  Amblyoma americanum é a mais agressiva para o ser humano e para os animais domésticos.

As carraças são vetores importantes na medicina veterinária devido à variedade de agentes patogénicos que transmitem. Na Europa, existem três espécies que infestam os carnívoros domésticos (Ixodes ricinus, Dermacentor reticulatus e Rhipicephalus sanguineus), cada qual com a sua preferência em termos de ambiente, temperatura e humidade, o que explica a sua distribuição e escolha de hospedeiro. Existem infestações ao longo de todo o ano.

Todavia, a mais comum em Portugal é a espécie Rhipicephalus sanguineus, uma carraça de corpo castanho que parasita frequentemente o cão na zona das orelhas, pescoço e patas. Regra geral, as carraças adultas encontram-se mais ativas na primavera e no outono, muito embora estejam presentes todo o ano.

Formas de transmissão

As carraças são parasitas que se instalam na pele, que se alimentam do
sangue e que podem transmitir doenças graves, tanto ao animal como ao
homem.

Na maior parte dos casos, as carraças precisam de estar fixas ao
seu hospedeiro durante pelo menos 24 horas para transmitirem os
microrganismos causadores da doença, dependendo do agente patogénico. Os
vírus podem ser transmitidos em minutos, embora as bactérias e os
parasitas precisem de mais tempo.

Regra geral, necessitam entre seis a 72 horas. As carraças depositam os seus ovos no solo, em vegetação de dimensão
média e alta, que apresentem algum grau de humidade. No verão, e
especialmente nas horas mais frescas do dia (de manhã ou ao final da
tarde), as carraças instalam-se na ponta das ervas e arbustos, sendo por
isso mais fácil a sua passagem para os animais. Os locais que
apresentam maior risco são os parques e jardins, havendo também uma
maior prevalência de carraças na zona interior do país.

Tipos de doenças transmissíveis por carraças

As doenças transmissíveis por carraças representam um perigo para o
animal e para o ser humano, pelas consequências que acarretam e que
podem levar à morte, caso não seja feita uma intervenção rápida. As
carraças são portadoras de diversos tipos de microrganismos,
nomeadamente vírus, bactérias, protozoários e outros parasitas, que são
transmitidos aquando da picada no cão ou por ingestão da carraça em
alguns casos.

Estes agentes instalam-se no animal provocando sinais de doença, após um
período de incubação que pode variar entre uma a quatro semanas. Os
agentes patogénicos mais importantes que podem ser transmitidos pela
carraça são o Rickettsia conorii (que provoca a febre botonosa), o
Coxiella burnetti (responsável pela febre Q), o Borrelia burgdorferi
(responsável pelo aparecimento da doença de Lyme), o Hepatozoon canis
(causador da hepatozoonose), a Ehrlichia spp  (agente da erliquiose) e a
Babesia spp (que causa a babesiose).

Nem todos os cães infetados por estes agentes apresentarão sinais de
doença. Todavia, esta pode manifestar-se por alguns dos seguintes
sinais, sobretudo febre, depressão, letargia, descarga nasal e/ou
ocular, perda de peso, mucosas pálidas, tosse, dificuldades
respiratórias, vómitos, diarreia, presença de sangue na urina,
distúrbios neurológicos, paralisia, hemorragia nasal, choque e mesmo
morte caso os animais não sejam atempadamente tratados.

Em Portugal, o número de doenças transmissíveis por carraças tem vindo a
aumentar nos últimos anos, devido ao aumento das temperaturas que se
têm feito sentir.

O distrito de Bragança é aquele que regista maior
incidência de casos, apresentando anualmente um número de casos 8 vezes
superior à média nacional.

Nem todas as carraças estão infetadas por
agentes patogénicos, pelo que a sua picada poderá não ter consequências
mais graves do que uma pequena espoliação de sangue e inflamação local.

Por outro lado, é também importante referir que as carraças estão, por
vezes, infetadas por mais de que um agente em simultâneo. De uma maneira
geral, nos humanos, os sinais clínicos começam com uma pequena úlcera
vermelha coberta por uma espécie de borbulha negra no local da picada da
carraça na pele e, passados alguns dias, podem aparecer sintomas de
febre, dor de cabeça, erupções cutâneas, mialgias, náuseas e vómitos,
dor abdominal, conjuntivite, gânglios linfáticos aumentados, diarreia,
perda de equilíbrio, estado mental alterado, artrites e icterícia.

Fonte: Merial