As infecções transmitidas por via sexual desprotegida devem constituir uma preocupação para quem tem uma vida sexual activa. As pessoas que têm sexo desprotegido sem conhecerem os antecedentes do parceiro estão, claramente, a pisar o risco.

Conforme explica Jorge Atouguia, especialista em Infecciologia, «não se deve estar à espera que apareça alguma manifestação visível nos órgãos genitais. Ter uma relação sexual esporádica sem se conhecer a história clínica do parceiro deve servir de alerta.

Qualquer relação sexual de risco é já a primeira indicação para estarmos atentos em relação a alguma doença de transmissão sexual». Propomos-lhe uma viagem – segura – através do universo das doenças sexualmente transmissíveis. Para que possa estar sempre protegida.

1. Candidíase

É uma infecção causada por uma levedura que afecta a vagina ou o pénis. Habitualmente, é provocada pelo fungo Candida albicans. O fungo Candida normalmente reside na pele e nos intestinos. A partir daqui pode propagar-se para os órgãos genitais.

A candidíase genital tem-se tornado mais frequente, principalmente devido ao uso cada vez maior de antibióticos, de contraceptivos orais e outros medicamentos que modificam as condições da vagina de um modo que favorece o crescimento do fungo.

A candidíase é muito frequente em mulheres grávidas ou que estão menstruadas e nas diabéticas. As mulheres que desenvolvem esta infecção costumam sentir prurido ou irritação na vagina e na vulva e, ocasionalmente, secreção vaginal. Os homens não apresentam sintomatologia, na maioria dos casos, mas a glande e o prepúcio por vezes irrita-se e dói, especialmente depois do coito. Por vezes, surge uma secreção proveniente do pénis.

Nas mulheres, a infecção é tratada lavando a vagina com água e sabão, secando-a com uma toalha limpa e depois aplicando um creme prescrito pelo médico assistente. Podem ainda necessitar de tomar um fármaco antimicótico ou outra terapia de prevenção. Nos homens, o pénis deve ser lavado e seco antes de se colocar um creme antifúngico.

2. Cervicite

É a infecção primária na mulher e traduz-se em corrimento vaginal, desconforto ou dor abdominal baixa com ou sem dispareunia e metrorragias (sangramento vaginal que não se deve à menstruação). Existem sintomas não específicos que podem ser causados pela maioria dos agentes responsáveis por corrimento vaginal, sobretudo os muito frequentes agentes de vaginites.

O número de mulheres assintomáticas ou com sintomas não específicos com cervicite gonocócica é geralmente alto, tornando difícil a determinação precisa de períodos de incubação da doença, a sua detecção e tratamento, bem como a localização do contágio.

3. Sífilis

É uma doença de transmissão sexual causada pela
bactéria Treponema pallidum. Esta bactéria penetra no organismo através
das membranas mucosas, como as da vagina, da boca ou através da pele.
Horas depois, chega aos gânglios linfáticos e, em seguida, propaga-se
por todo o organismo através do sangue. Pode também afectar o feto
durante a gravidez, causando defeitos congénitos ou outros problemas.

No
estado primário, pode surgir uma ferida ou uma úlcera indolor no local
da infecção, geralmente sobre o pénis, a vulva ou a vagina. Cerca de
quatro a seis semanas após a cura da lesão primária surge um exantema
(erupção cutânea) generalizado característico, que atinge as palmas das
mãos e dos pés.

O estádio secundário da doença inicia-se com uma
erupção cutânea que costuma aparecer de seis a 12 semanas após a
infecção. Dado que os doentes com sífilis nos dois estádios – primário e
secundário – transmitem a infecção, devem evitar o contacto sexual até
que elas próprias e os seus parceiros sexuais tenham completado o
tratamento. A penicilina que, em geral, é o melhor antibiótico para
todos os estados de sífilis, é habitualmente administrada por via
intramuscular.

4. Uretrite purulenta

Apresenta um corrimento uretral purulento e surge tipicamente três a cinco dias após o contágio. A intensidade do corrimento varia entre o escasso e o abundante. Os sintomas, quando não são tratados, atingem o expoente máximo em cerca de duas semanas.

5. Vaginose bacteriana

Esta doença caracteriza-se por um desequilíbrio da flora vaginal normal, devido ao aumento exagerado de bactérias. Constitui a causa de infecção vaginal de maior prevalência em mulheres em idade reprodutiva e sexualmente activas. Juntamente com a candidíase e a tricomonose, correspondem a 90 por cento dos casos de infecções vaginais, sendo que a vaginose bacteriana ocorre em 35 a 50 por cento dos casos.

O quadro clínico inclui como principais sintomas o corrimento vaginal com odor fétido, mais acentuado depois do coito e da menstruação, bem como dor durante as relações sexuais. Ainda que estes sejam os sintomas mais frequentes, quase metade das mulheres com vaginose bacteriana é completamente assintomática. Para um diagnóstico preciso, pode ser necessário recorrer a testes biológicos, mesmo que efectuados no consultório.

6. Hepatite B

O vírus da hepatite B (HBV) é transmitido por
alguns fluidos corporais. Nas pessoas infectadas, com vírus circulantes,
pode ser encontrado no sangue, saliva, sémen, secreções vaginais e
leite materno. A sua transmissão é, no entanto, muito mais frequente
através do sangue, e, em segundo lugar, através do sémen e das secreções
vaginais.

A hepatite B é uma doença aguda, e na maioria dos
casos, auto-limitada, isto é, o organismo responde à infecção e
resolve-a. No entanto, em cerca de 15 a 20 por cento dos casos, o vírus
não é eliminado, e mantém-se activo, podendo provocar complicações
hepáticas graves, entre as quais neoplasias do fígado. As pessoas que
mantêm o vírus em circulação são infecciosas através dos seus fluidos
corporais, sobretudo sangue, sémen e secreções vaginais.

Sabia que...

A
vacina contra a hepatite B faz parte do Programa Nacional de Vacinação
há vários anos. Existe, no entanto, uma população adulta que não foi
incluída nesse plano, e que não está vacinada.

Fonte:
Jorge Atouguia e adaptado da obra «Infecções Sexualmente Transmissíveis
Saúde Tropical», de Luís Távora Tavira e Jorge Atouguia, da Universidade
Aberta.

Texto: Cláudia Pinto com Jorge Atouguia (especialista em infecciologia)