As cataratas são um problema de visão que afecta inúmeros portugueses, sobretudo a partir de uma idade sénior.

A cirurgia é, muitas vezes, a única solução, mas nem sempre a mais animadora, no caso de quem tem que aguardar que chegue a sua vez numa lista de espera.

Falámos com o médico oftalmologista Luís Gouveia Andrade, que nos revelou as informações essenciais sobre esta intervenção e deu a sua opinião sobre o rescurso à cirurgia no estrangeiro.

O que é a catarata?

Perda de transparência de uma das lentes que faz parte dos olhos (cristalino).

Como se trata

A catarata pode ser removida de diversas formas, dependendo do tipo, mas a metodologia mais empregue é, segundo Luís Gouveia Andrade, «a sua fragmentação através de uma sonda de ultra-sons que é introduzida por uma pequena abertura. Após a aspiração de todos os fragmentos assim obtidos, é introduzida uma lente que substitui o cristalino e permite a manutenção da visão».

Riscos da cirurgia

«Inflamação pós-operatória, infecção, perda de transparência da córnea e alterações na retina. Todas elas são muito raras mas podem comprometer o resultado final», esclarece.

Pós-operatório

«A recuperação é rápida e habitualmente indolor. A visão pode ficar turva durante alguns dias e o paciente deve colocar no olho gotas prescritas pelo médico», diz o especialista. O custo desta cirurgia ronda os 2 500 euros.

No estrangeiro

Têm sido noticiados vários casos de portugueses que procuram Cuba para o tratamento cirúrgico da catarata.

Na opinião de Luís Gouveia Andrade, médico oftalmologista, há vários factores que contribuem para a ideia de que é preferível fazer a intervenção no estrangeiro.

«O mito de que o que se faz fora daqui é melhor, a percepção de que os custos em Portugal são mais elevados, a motivação, muitas vezes de natureza política, de dramatizar os tempos de espera para esta intervenção e, assim, estabelecer protocolos com hospitais no estrangeiro, e ainda o desenvolvimento e promoção recentes do turismo médico contribuem para esta ideia», enumera o especialista.

Vale a pena ser operado no estrangeiro?

«Não existe nenhum argumento de natureza técnica que justifique o recurso a um outro país», defende o médico oftalmologista. Embora Cuba possa oferecer este tipo de serviços até mais baratos, especialmente quando negociados para um grande número de pacientes, «importa considerar os custos da viagem, da estadia e eventuais complicações», argumenta.

Desta forma, o especialista considera que «não é clinicamente vantajoso para um doente ser encarado como um mero caso, submetendo-se a um tratamento longe de casa, por profissionais que não conhece e que não o conhecem. Na presença de complicações, não existe possibilidade de segunda consulta sem uma nova viagem ou, em caso de erro ou negligência, é mais difícil intervir judicialmente do que face a um tratamento realizado em Portugal».

Listas de espera

«Num hospital público estas variam entre seis meses a um ano, de acordo com cada entidade. Contudo, o esforço desenvolvido ultimamente na redução das listas de espera permitiu uma importante melhoria neste campo», defende Luís Gouveia Andrade.

Um caso real

Aos 68 anos, Fernanda Vaz, professora reformada, foi operada às cataratas num dos olhos, num hospital nacional privado. «Correu tudo muito bem. Não dei por nada. Fui anestesiada e, meia hora depois, a operação estava concluída. Após algum tempo sob observação, fui para casa».

O período pós-operatório decorreu sem complicações. No dia seguinte, foi vista pelo médico, que lhe receitou a aplicação de gotas. «Não senti dor, nem desconforto e pude voltar à minha vida normal. Fui recuperando cada vez mais ao longo dos dias». No mês seguinte, «o médico informou-me de que gostaria de me ver uma vez por mês durante o trimestre seguinte».

Hoje, Fernanda Vaz vê bem e irá marcar uma intervenção ao segundo olho. Questionada sobre a hipótese de fazer a cirurgia fora do país, diz que nunca o faria «longe de casa, por médicos estranhos».

Para conhecer 9 recomendações que deve ter em conta antes de qualquer cirurgia, clique aqui.

Texto: Mariana Correia de Barros com Luís Gouveia Andrade (médico oftalmologista)