Apesar de pouco conhecido pela população portuguesa, é o mais frequente dos  aneurismas arteriais e evolui de forma silenciosa, sem sintomas, podendo causar morte súbita.

Com a função de transportar o sangue a todas as partes do corpo, a aorta é a  principal  artéria do nosso sistema circulatório. Ao ficar enfraquecida, a artéria  dilata e forma um aneurisma, que se não for detectado a tempo pode romper e  causar uma hemorragia interna fatal.

«É como se começasse a fazer um balão», explica João Albuquerque e Castro, chefe de serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Santa Marta. Esta dilatação localizada e permanente da aorta é o mais frequente dos aneurismas arteriais e uma das causas de morte súbita. De acordo com o especialista, o aneurisma da aorta abdominal «não provoca qualquer sintoma». Com uma maior incidência nos homens entre os 65 e 70 anos, é  considerada a 12ª causa de morte nas sociedades ocidentais.

Qual a sua causa?

A parede da aorta é, normalmente, muito elástica e consegue adaptar-se ao maior ou menor fluxo sanguíneo. No entanto, com o avançar da idade estas condições  alteram-se, aumentando o risco do desenvolvimento de um aneurisma. Este é, por isso, um problema que atinge maioritariamente «pessoas a partir dos 60 anos». 

João Albuquerque e Castro justifica: «com o aparecimento de alguns problemas  de saúde como a hipertensão, o colesterol e a aterosclerose (endurecimento das  artérias), o risco de desenvolver um aneurisma nesta idade é significativo». Ainda assim, o tabagismo é a sua principal causa. O especialista garante que  «hoje está demonstrado que, se o doente deixar de fumar, o risco de crescimento do aneurisma diminui».

A genética é outro factor importante. «Sabe-se que os familiares directos de  doentes com aneurisma da aorta abdominal têm duas a três vezes maior  probabilidade de desenvolver a doença», acrescenta João Albuquerque e Castro. Para além disso, todos os outros factores de risco associados às doenças cardiovasculares, como a obesidade e o sedentarismo, fazem igualmente parte das causas desta patologia.

Quais os sintomas?

«Infelizmente, o aneurisma pode
crescer, até tamanhos muito grandes, sem causar qualquer sintoma»,
refere o especialista. Em algumas circunstâncias dá um certo mal-estar
e, por vezes, «as pessoas muito magras dizem sentir o coração a bater na
barriga», acrescenta.

Assim sendo, grande parte dos aneurismas
da aorta são detectados em ecografias que procuram outro tipo de
doenças, como problemas de vesícula, fígado ou rins.

Nestes casos,
«acaba por encontrar-se dentro da cavidade abdominal uma massa volumosa
que pulsa», explica João Albuquerque e Castro, que defende o despiste da
doença a partir dos 65 anos.

Como se diagnostica?

Quando se suspeita de um aneurisma da aorta realiza-se uma ecografia  abdominal, que determinará a existência da doença. Muito raramente, segundo o  angiologista, «quando a pessoa
tem algum sintoma, o médico procede à palpação  do abdómen e, por vezes,
sente-se um pulso anormal que corresponde a um  aneurisma».

Como se trata?

Um
aneurisma da aorta abdominal é tratado cirurgicamente se o médico 
considerar que o risco de ruptura é maior que o risco a que o doente é
submetido durante a cirurgia. «Sempre que é identificado um aneurisma
com 5 cm deve ser   operado. Quando não atinge esse valor, o aneurisma
deve ser vigiado, efectuando ecografias de seis em seis meses, porque o
risco de romper é baixo», recomenda o angiologista. João Albuquerque e
Castro recorda ainda que, «embora não tenham uma eficácia de 100%»,
existem uma série de medicamentos que ajudam a estabilizar o 
crescimento do aneurisma, bem como o seu rompimento, nomeadamente os anti-hipertensores e os controladores do colesterol.

Em termos cirúrgicos, existem duas opções disponíveis, a cirurgia aberta ou a cirurgia endovascular.
«São as condições anatómicas do doente que nos vão dizer se optamos por
uma ou por outra», explica João Albuquerque e Castro. Ainda assim, de
acordo com o especialista «o tratamento endovascular tem menos riscos
para o doente» por ser minimamente invasivo, «através de uma pequena
incisão na virilha, colocamos um tubo por onde irá passar o sangue
(endoprótese), evitando que este entre em contacto com a parede
enfraquecida, conseguindo assim resolver o problema em cerca de duas
horas».

Por outro lado, a cirurgia aberta, que tem uma
taxa de mortalidade superior à  endovascular, é feita através de uma
incisão no abdómen em que a parte aneurismática do vaso é substituída
por uma prótese sintética. Opta-se por esta via quando «não se consegue
encontrar um segmento favorável à fixação da endoprótese», explica João Albuquerque e Castro. É realizada sob anestesia geral e tem uma recuperação mais lenta (poderá demorar entre dois a três meses).

Como evolui o aneurisma?

Tendo
em conta que a espessura da aorta tem, normalmente, 1,5/2 cm de
diâmetro, «considera-se um aneurisma quando a artéria atinge os 3 cm»
revela João Albuquerque e Castro.

O especialista explica que, à medida
que as paredes da aorta vão  enfraquecendo, a pressão do sangue aumenta
e, consequentemente, a artéria dilata. «Cerca de 2 a 4 mm por ano», refere.

Quando atinge os 5 cm, a probabilidade de romper é maior.

«Por leis da
física, a força que o sangue faz na parede é proporcional ao raio.
Quanto maior é o raio, mais força faz e, portanto, maior é o risco de
ruptura» alerta o angiologista.

O que acontece quando rompe?

De acordo com o especialista, cerca de «80% das pessoas não sobrevivem à ruptura do aneurisma». João Albuquerque e Castro explica que, o que decide, fundamentalmente, a sobrevivência,
ou não, do doente é o local por onde a aorta rompe. «Se rompe para
dentro do abdómen, a pessoa perde o sangue todo que tem em circulação e
morre; se a ruptura é contida (em apenas 20% dos casos) ou se tem alguma
estrutura a impedir que haja uma hemorragia monstruosa, a pessoa tem
tempo de chegar ao hospital».

Factores de risco

-  Tabagismo
- Factores genéticos
- Hipertensão
- Colesterol elevado
- Obesidade
- Sedentarismo

Texto: Claúdia Vale da Silva com João Albuquerque e Castro (chefe de serviço de
Angiologia e Cirurgia Vascular no Hospital de Santa Marta, em Lisboa)