Noites mal dormidas, noites que se arrastam indefinidamente. O tiquetaque do relógio não deixa dúvidas para os pais: a noite está a passar e eles não estão a dormir!
Ao invés de um merecido repouso, os pais vêem-se confrontados com horas que se acumulam em cima de um corpo já de si cansado pela azáfama do dia-a-dia. A causa deste tormento? Um filho que não dorme! Como lidar com o facto de o João Pestana teimar em não aparecer?
Dia 18 de Março comemora-se o Dia Mundial do Sono. Como reagir então à ausência deste? Com muita, muita calma. Não é de admirar que a privação de sono seja conhecida por todos como uma antiga tortura.
Para além do cansaço normal de que a vítima da falta de sono sofre, com ele vêm a irritabilidade, as alterações de humor, a perda de memória dos acontecimentos recentes, a lentidão de raciocínio, a redução de concentração e por aí adiante. Ou seja, todos os sintomas que nos fazem evitar a pessoa em questão, de maneira a não sermos o escape do seu mal-estar!
Se já é difícil não dormir devido a insónias, mais complicado se torna reagir favoravelmente à privação de sono quando esta nos é imposta por outrem. Levantar-se seis ou sete vezes durante a noite para responder aos apelos incessantes de um filho é uma tarefa que revela a sua grandiosidade à medida que a noite se vai desenrolando.
Tentar compreender o porquê da falta de sono da criança às 3h da madrugada parece realmente impossível. Especialmente se ela só conseguiu adormecer à meia-noite! O descanso é fundamental para que os pais consigam desempenhar da melhor maneira possível o seu papel de paternidade, mas a verdade é que arrastar-se da sua cama quentinha para lhe fazer companhia porque ele precisa, resume bem os sacrifícios que ter um filho implica.
Quando o sono não aparece
Não existe uma regra de ouro para as horas que uma criança deve dormir. Varia consoante a sua idade e as próprias necessidades individuais de cada uma. Se foi abençoado com uma criança que dorme cerca de 12h por noite, alegre-se. Se não, tente alegrar-se pelo facto de ter uma criança activa, curiosa com o que a rodeia e com vontade de agarrar o Mundo!
Mas para as noites intermináveis que acabam por desmotivar até os pais mais optimistas, manter a calma pode parecer irrealista, mas sem dúvida que é a melhor solução. Zangar-se ou colocar o seu filho de castigo não faz com que ele adormeça. Muito pelo contrário. O acto de dormir pressupõe tranquilidade e uma paz de espírito que as ameaças lançadas à laia do desespero que o cansaço implica não vão trazer ao seu filho.
Ele próprio não sabe porque não consegue adormecer. São várias as razões possíveis para um sono agitado ou ausência dele, como nos explica a Dra. Sónia Figueira, neuropediatra do hospitalcuf porto: “As perturbações do sono podem ser dissónias ou doenças que se acompanham de sonolência excessiva ou insónia e parassónias ou doenças que se intrometem no sono mas que não se acompanham de insónia ou sonolência.”
Pesadelos, ansiedade, terrores nocturnos, mal-estar físico. Todos são factores válidos que alteram o equilíbrio necessário para que o seu filho tenha uma boa noite de sono. De igual forma, “os pais devem estar atentos também à existência de roncopatia, o que pode traduzir a existencial de apneia obstrutiva do sono,” avisa a neuropediatra.
Isto porque “o facto de a criança ressonar não deve nunca ser desvalorizado como potencial indicativo de patologia do sono. A apneia obstrutiva de sono também ocorre na criança e pode ter efeitos nefastos no crescimento e no seu desenvolvimento”, concluí Sónia Figueira.
Formas de promover uma boa noite de sono
Não são infalíveis nem rígidas, uma vez que cada caso é um caso e, como já foi referido, cada criança é única. Rotinas que se ajustam aos filhos de amigos não têm necessariamente que dar bons resultados com a sua criança. Ninguém melhor do que os pais para conhecer o seu filho e saber que hábitos a instalar para lhe proporcionarem uma boa noite de sono.
Teorias à parte, mentalize-se que irão sempre existir noites em branco, em fases diferentes do crescimento das crianças e que também fazem parte da maravilhosa viagem que é vê-las crescer!
Ainda assim, nada como uma rotina bem estabelecida como meio caminho andado para uma noite bem dormida – do seu filho e, logo, sua.
Tal como nos refere Sónia Figueira, “a rotina permite à criança adquirir segurança e contribui para a sua aprendizagem do sono. Assim é aconselhável manter a consistência dos horários, realizar actividades calmas e agradáveis próximas da hora de deitar e que o ambiente do quarto da criança seja confortável, escuro e calmo, sem televisão ou ecrãs.”
Naturalmente que existem sempre dias em que nem tudo corre na hora prevista, mas “estabelecer regras claras e definir bem os limites impede que a criança adie a hora de dormir ou a associe a experiências negativas”, sublinha a médica.
A falar é que nos entendemos
Siga a via do diálogo. Raras são as crianças que ficam contentes por se irem deitar. Não porque não se sintam cansadas, mas porque não conseguem entender a necessidade de dormir ou porque pura e simplesmente querem testar os limites impostos pelos pais.
“Reconhecer o que se passa, explicar as vantagens de dormir (as crianças são sensíveis ao argumento de que é de noite que se cresce e que é necessário dormir para poder brincar muito) e ser firme no horário são fundamentais”, esclarece Sónia Figueira.
Deixa igualmente um conselho fundamental para todos os pais que passam noites em claro. “ É importante ser perseverante, consistente, promover rotinas positivas, recompensar comportamentos positivos e ignorar os negativos... Assim se incentivam sentimentos de segurança e conforto na criança e pais.”
Texto: Rute Simões
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